Música, judo, karaté, ballet, natação e futebol. Quando se pensa em atividades extra-curriculares, nunca vem à cabeça a cozinha. Um erro, defende Joana Byscaia: “Os pais acham que asseguram a alimentação e que não é necessário formar os miúdos nesse sentido. Mas ensinar uma criança a cozinhar é dar-lhe uma ferramenta para a vida toda.”

Joana era cozinheira profissional até se tornar mãe de três filhos. “Escolhi abandonar a profissão e ficar em casa com eles. Fui cozinhando na mesma e o engraçado é que, aos poucos, percebi que eles se interessavam pelo que eu fazia e também queriam participar”, conta. Foi assim que nasceu a ideia da Petit Chef, a academia de cozinha para miúdos entre os 6 e os 16 anos que criou em 2005, em Oeiras.

Ao longo dos últimos 14 anos, a chef tem acompanhado de perto o aumento da popularidade dos cozinheiros e a forma como ela está a contagiar os mais novos, “cada vez mais” curiosos com o mundo dos tachos e das panelas. Uma curiosidade que só lhes faz bem, uma vez que permite “conhecer novos sabores e combinações de alimentos” — leia-se comer de forma mais saudável — e até aprender a “trabalhar num ambiente seguro e organizado”.

Onde aprender

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Petit Chef

Av. D. João I, loja 8, Oeiras
918 802 657, info@petitchef.pt
Cursos entre 25€ e 65€

Mimo Algarve

Pine Cliffs Resort, Praia da Falésia, Albufeira
300 509 188, algarve@mimofood.com
Workshop de duas horas: 35€

Vitamimos

Parque Quinta da Alagoa, R. Henrique António da Mota, Estrada da Alagoa, Carcavelos
918 086 088, info@vitamimos.pt
Workshop de uma hora: 12€

Academia de cozinha Quebra Ovos

Rua Augusto Simões, 641, Maia
919 186 550, info@quebraovos.pt
Workshops a partir de 7,50€

Inês Afonso Marques não é cozinheira profissional, tão pouco lidera uma academia de cozinha, mas partilha da mesma opinião. Segundo a psicóloga clínica e coordenadora da área infanto juvenil da Oficina da Psicologia, cozinhar desde cedo pode ser determinante no “desenvolvimento social, cognitivo, emocional e motor” de uma criança, seja através do “trabalho em equipa”, do simples descascar de um ingrediente, de “ler uma receita” ou até de ter de saber “lidar com a frustração” de ver um prato correr mal. “As crianças adoram sentir que são úteis, que podem ajudar em tarefas tipicamente associadas aos adultos”, diz a psicóloga, e isso é determinante no desenvolvimento de uma auto estima reforçada e meio caminho andado para um futuro adulto confiante.

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Na era dos ecrãs, Inês Afonso Marques defende que a cozinha pode ainda ser um convite para “fugir ao óbvio”. “Se queremos que as crianças desliguem da tecnologia, temos de lhes oferecer atividades alternativas, nas quais se sintam desafiadas e onde possam encontrar o sentimento de mestria. Isso motiva-as.”

Por esta altura, na cabeça de muitos pais já terá soado o alarme das lâminas afiadas e das superfícies quentes – mas calma, não só já há ferramentas próprias para proteger os dedos (basta ver a nossa fotogaleria com sugestões de compras) como nem isso é um impeditivo. “Para crescerem, as crianças precisam de alguma sujidade e de correr alguns riscos”, diz Inês Afonso Marques, deixando a dica: para além de uma supervisão responsável, os adultos também deverão gerir as tarefas que são dadas aos mais pequenos, “para que eles comecem pelas mais simples e, gradualmente, abracem outras mais complexas que exijam mais atenção e autocontrolo”.

Duas receitas para pôr as mãos na massa

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Triângulos de espinafres recheados da Petit Chef

Ingredientes para a massa

250 g de espinafres
3 ovos
200 ml de natas de soja ou light
50 g de farinha com fermento
q.b. de sal, pimenta e noz-moscada

Ingredientes para o recheio

10 ovos de codorniz cozidos
100 g de requeijão
Meia cenoura ralada
8 q.b. de sal, pimenta e cebolinho

Ligar o forno a 180 °C.
Num tabuleiro de forno, colocar uma folha de papel vegetal untada com margarina.
Partir os ovos separando as claras das gemas para duas taças.
Adicionar os espinafres, a farinha e as natas às gemas, misturar bem e triturar com a varinha mágica durante cerca de 2 minutos.
Temperar com sal, pimenta e noz-moscada e voltar a mexer.
Bater as claras em castelo com uma pitada de sal e envolver no preparado anterior.
Verter o preparado anterior e espalhá-lo pelo tabuleiro com uma espátula.
Colocar no forno durante 10 minutos, aproximadamente.
Entretanto, abrir o ovo ao meio e reservar.
Adicionar ao queijo 2 colheres de sobremesa de natas e temperar com sal e pimenta, reservando logo a seguir.
Retirar a massa cozida do forno e remover
do tabuleiro.
Deixar arrefecer e aparar as laterais.
Cortar a massa ao meio e cortar em triângulos.
Espalhar o queijo sobre o triângulo, cobrir a superfície com cenoura ralada e finalizar com os tomates cortados em quartos e com ovos de codorniz e cebolinho picado.

Torta de amêndoas da Mimo Algarve

Ingredientes

6 ovos
475 g de açúcar
250 g de amêndoa moída
raspas de 2 limões
90 ml de água
6 gemas
q.b. de açúcar de pasteleiro

Ligar o forno a 200 °C.
Juntar os ovos inteiros com uma parte do açúcar (400 g), mexendo bem até dissolver.
Adicionar a raspa de dois limões e as amêndoas moídas, mexendo bem.
Num tabuleiro de forno, colocar uma folha de papel vegetal e verter a mistura antes de cozer durante
15 minutos.
Deixar arrefecer ligeiramente.
Aquecer os restantes 75 g de açúcar e água numa panela pequena. Deixar levantar fervura e cozinhar até se formar uma mistura mais espessa, que depois será vertida num passador. Assim que esse xarope arrefecer até aos 60 °C, adicionar as 6 gemas de ovos até a mistura ficar homogénea.
Voltar a aquecer a panela com essa mistura até ficar com um aspeto suave e espesso. Retirar do lume e deixar arrefecer.
Esticar um pano de cozinha e cobri-lo levemente com açúcar de pasteleiro. Virar o tabuleiro com o bolo
para cima dessa superfície, barrar o reverso com o creme de ovos e enrolar tudo com muito cuidado.

Mais do que preparar a sanduíche do lanche, formatos televisivos como o MasterChef Júnior têm subido a fasquia ao colocar crianças de oito anos a preparar um menu inteiro com entrada, prato e sobremesa. E esse é mais um sinal da forma como a área se tem tornado mais apelativa. “Se olharmos para trás uns 10 anos, era impensável que um miúdo dissesse que queria ser cozinheiro quando fosse grande, e isso hoje já acontece e é ótimo”, diz o chef Miguel Rocha Vieira, um dos membros do júri da versão portuguesa do programa e para quem “começar de pequeno tem todas as vantagens”. “Quando começas mais cedo, aprendes mais. É como iniciar uma corrida antes dos outros concorrentes. Não tenho dúvidas de que as crianças de hoje, quando saírem de casa dos pais, já vão saber muito mais do que eu sabia na altura”, conclui, admitindo que aos 20 anos (antes das estrelas Michelin, portanto), “não sabia fazer nem um ovo”.

Artigo publicado originalmente na revista Observador Lifestyle nº 3 (março de 2019).