A agência de notação financeira internacional Fitch anunciou esta segunda-feira que manteve a classificação de ‘AA’ para a economia de Macau, mas reduziu a perspetiva para 2020 de estável para negativa.

A dependência do fluxo turístico do interior da China associado ao jogo é uma das razões. Outra é a falta de diversificação da economia, cuja indústria explorada pelas operadoras de casinos representa 51% da atividade e 22% da população empregada. Tal “expõe a economia a choques e contribuiu para o nível historicamente alto de volatilidade do PIB [Produto Interno Bruto] em Macau”, concluiu a agência.

A nível externo, a Fitch disse não acreditar “que seja provável que as operações de Macau dos operadores de casino dos EUA sejam envolvidas nas tensões comerciais EUA-China, dadas as possíveis ramificações que isso poderia ter no emprego local e na estabilidade social do território”, mas ressalvou que as perspetivas de crescimento “podem ser indiretamente afetadas por novas escaladas” da guerra comercial.

A agência voltou a destacar as “excecionalmente fortes” finanças públicas de Macau, as políticas governativas que demonstram “compromisso com a prudência fiscal”, mas lembrou que “o crescimento mais lento da China continental teve um efeito de abrandamento no setor de jogos de Macau, com a receita bruta (…) a cair 2,4% nos últimos nos 11 meses de 2019”, razão pela qual prevê uma contração da economia de 2,5% em 2019.

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A mesma entidade destacou que “o desempenho fiscal continua forte, apesar da crise económica” e previu mesmo um excedente fiscal de 11,5% do PIB em 2019, “já que os resultados orçamentais até o final de outubro apontam para a arrecadação de receita que excede consideravelmente a meta de 2019, enquanto as despesas correntes e de capital permanecem bem abaixo do orçamentado”.

Outros dados positivos que contribuem para Macau continuar classificada dois níveis acima da China continental passam pelas reservas fiscais, que deverão atingir 152% do Produto Interno Bruto (PIB) em 2019, e pela ausência de dívida pública. Fatores que a Fitch antecipa que não se alterem com o novo Governo de Macau, que toma posse na sexta-feira.

A agência considerou que a exposição dos bancos de Macau ao interior da China como o maior risco financeiro para o setor. Por outro lado, a classificação de “AA”, explicou a Fitch, “assenta na suposição de que a governação do território, o estado de direito, a estrutura da política económica e os ambientes de negócios e regulatórios permanecem distintos do continente”.

“Essas premissas estão a evoluir, à medida que as regiões administrativas especiais chinesas se tornam mais intimamente integradas ao sistema de governança nacional, que foi acelerado por eventos em Hong Kong, bem como por meio de iniciativas políticas como a Grande Baía, que buscam melhorar oportunidades de crescimento regional a longo prazo, integrando mais estreitamente as economias do sul da China”. No caso de Hong Kong, a agência faz uma alusão aos protestos pró-democracia que duram há mais de meio ano.

No que respeita à Grande Baía, a Fitch refere-se ao projeto de Pequim de se criar uma metrópole mundial que integra Hong Kong, Macau e nove cidades da província chinesa de Guangdong, numa região com cerca de 70 milhões de habitantes e com um PIB que ronda os 1,2 biliões de euros.