O Sindicato dos Trabalhadores da agricultura e das indústrias de alimentação, bebidas e tabacos de Portugal (Sintab) denunciou esta sexta-feira que o Grupo Super Bock quer abdicar, em janeiro, do serviço de 36 trabalhadores até aqui subcontratados a outra empresa.

A situação afeta os trabalhadores da empresa A. Gaiteiro, que ocupam postos de trabalho nas linhas de enchimento e produção da Super Bock Group, em Leça do Balio, concelho de Matosinhos, no distrito do Porto, que, de acordo com nota do Sintab, “viram esta quinta-feira o seu espaço invadido por trabalhadores mais baratos, sem quaisquer explicações”.

“Naquilo que aparenta ser uma alteração da empresa prestadora de serviços, os trabalhadores foram surpreendidos com a invasão do espaço por outros, da empresa Servigaia, para aprenderem a executar as tarefas que estes efetuam há mais de 15 anos”, lê-se na nota do Sintab, que anuncia um plenário para segunda-feira às 14h30 em Leça do Balio.

Já, em declarações à agência Lusa, José Eduardo Andrade, dirigente do Sintab, descreveu que esses trabalhadores foram confrontados com um aviso verbal feito por “diretores da Super Bock”, que indicaram que “no dia 2 [de janeiro] lhes seria barrada a entrada na empresa”.

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“Tememos que estejam a preparar a substituição dos postos de trabalho destes trabalhadores, alguns deles com mais de 15 ou 16 anos de casa. A Super Bock está a desonrar a palavra que tinha dado ao sindicato de que estes trabalhadores iriam ser integrados nos seus quadros”, disse José Eduardo Andrade.

O dirigente descreveu que “no início deste ano” foi “prometido aos trabalhadores que passariam para os quadros da Super Bock”. José Eduardo Andrade garante que o Sintab tem “um email que prova este compromisso”.

Na sua nota, o Sintab refere que, “dado o acentuado recurso da empresa ao trabalho precário, quer por externalização de setores quer por contratação de empresas de prestação de serviços, os trabalhadores da Super Bock decidiram, num plenário realizado em 2017, reivindicar a passagem de todos os precários aos quadros efetivos da empresa”.

“Neste âmbito, e inserido do roteiro de combate à precariedade da CGTP [Confederação Geral dos Trabalhadores Portugueses — Intersindical Nacional], as conversações entre o Sintab e a Super Bock haviam já resultado na integração de mais de 20 trabalhadores, sendo que, em relação aos restantes 36, a empresa havia já assumido o compromisso de os integrar entre janeiro e março de 2020”, continua a nota.

No entanto “mais recentemente, a pretexto da previsão em baixa dos resultados de 2020 em sede de orçamentação, a Super Bock veio sugerir o adiamento das integrações desses trabalhadores, mas sem nunca ter posto em causa a sua efetividade”, acrescenta o sindicato.

Por sua vez, contactado pela Lusa, o responsável da A. Gaiteiro, empresa com sede na Maia que é prestadora de serviços da Super Bock Group, sendo a empregadora direta dos 36 trabalhadores em causa, indicou que o concurso que o liga à empresa de bebidas termina a 31 de dezembro, mas garante saber que existe uma “promessa” de que os trabalhadores passariam para os quadros do grupo de bebidas.

“Não ganhei o concurso seguinte, mas tinham prometido integrar os trabalhadores e eu nunca me opus, porque quero resolver tudo a bem dos trabalhadores. Se não passarem para os quadros como prometido, isto é um pesadelo, porque eu geri o processo em função dessa passagem”, disse Alexandre Gaiteiro.

O Sintab acusa o grupo Super Bock de “grave e despudorado atropelo aos compromissos institucionalmente assumidos, desvalorizando a sua própria palavra”.

“O Sintab defende que estes trabalhadores têm direito a um contrato efetivo por desempenharem, alguns há mais de 15 anos, uma tarefa permanente, inseridos nas equipas de produção da Super Bock e recebendo ordens e instruções dos seus responsáveis”, aponta, por fim, o sindicato.

A agência Lusa questionou o grupo Super Bock, mas não obteve resposta até ao momento.