Depois da habitual correria que é o Natal, o fim do ano civil e o início do seguinte do ano inglês, Wolverhampton e Manchester United encontravam-se nos 32 avos da Taça de Inglaterra com a oportunidade de deixar descansar alguns dos habituais titulares pela primeira vez em duas semanas. Na primeira fase da competição que recebe equipas da Premier League, Nuno Espírito Santo e Ole Gunnar Solskjaer protagonizavam o jogo que era o cabeça de cartaz da jornada e que foi na temporada passada a eliminatória dos quartos de final da prova. Na altura, o português eliminou o norueguês: e era exatamente isso que procurava repetir este ano.

Tanto Wolves como Manchester United, este sábado, cruzavam-se vindos de uma derrota — no caso da equipa de Nuno, eram mesmo duas consecutivas, com o Liverpool e o Watford, depois da remontada impressionante frente ao Manchester City que levou Adama Traoré para as capas dos jornais ingleses. Os red devils perderam então com o Arsenal a primeira partida de 2020 depois de duas vitórias seguidas (com o Newcastle e o Burnley) e surgiam no Moulineux com o objetivo claro de voltar a conquistar a Taça de Inglaterra, algo que não acontece desde 2016.

Antes de entrarem em campo durante a tarde, porém, as duas equipas já tinham sido ligadas durante a manhã na imprensa inglesa. Dias depois de o Manchester United ter perdido a contratação de Erling Haaland para o Borussia Dortmund — o avançado norueguês que deu nas vistas no Salzburgo e esteve quase certo em Old Trafford mas optou pelo clube alemão –, surgia em Inglaterra o rumor de que a equipa de Solskjaer está interessada em Raúl Jiménez, o mexicano que o é o melhor marcador do Wolverhampton. Ora, sem que a vontade do Manchester United de contar com o avançado ex-Benfica seja estranha, já que Jiménez está a um nível assinalável desde a temporada passada, a verdade é que o jogador era um dos elementos poupados por Nuno Espírito Santo este sábado e cedia a titularidade ao jovem Ashley-Seal (que rodou no Famalicão no ano passado).

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Solskjaer, que não tem o lesionado McTominay para o meio-campo e voltou a perder Pogba, que deve mesmo ser operado nos próximos dias, lançava Matic ao lado de Andreas Pereira na zona mais recuada do setor intermédio e o jovem Tahith Chong em conjunto com Juan Mata e David James no apoio a Mason Greenwood, a atual estrela da formação do United. Do outro lado, Rui Patrício e João Moutinho eram ambos suplentes e Rúben Neves, Rúben Vinagre e Pedro Neto eram os representantes portugueses no onze inicial do Wolves.

Pedro Neto foi titular na equipa de Nuno Espírito Santo

Numa primeira parte em que as duas equipas encaixaram no meio-campo e raramente conseguiram chegar ao último terço adversário — o Wolves, de forma habitual, entregou a iniciativa ao Manchester United e manteve a linha recuada de cinco bem organizada para não permitir investidas rápidas –, a melhor ocasião de golo acabou mesmo por pertencer ao conjunto de Espírito Santo. Ainda antes de estar cumprido o primeiro quarto de hora, Doherty apareceu ao segundo poste a rematar depois de um canto e só não abriu o marcador porque Sergio Romero, a render o habitualmente titular David De Gea, afastou a bola com uma defesa impressionante (13′). Na hora do intervalo, o jogo estava totalmente equilibrado e parecia carecer de alterações, técnicas ou táticas, para romper o xadrez de um e de outro lado.

No início da segunda parte, Nuno Espírito Santo foi o primeiro a assumir que era necessário mexer no jogo com alguns dos jogadores com mais ritmo e lançou Raúl Jiménez, o alegado alvo do Manchester United, no lugar do inexperiente Ashley-Seal. O Wolverhampton voltou melhor do que os red devils e colocou as primeiras linhas de pressão e construção mais adiantadas no terreno, perto do meio-campo, de forma a alavancar a transição e chegar mais depressa e mais frequentemente ao último terço adversário. Depois de dez minutos de superioridade e maior intensidade por parte da equipa de Nuno, o Manchester United adaptou-se ao maior atrevimento do Wolves e respondeu na mesma moeda — principalmente por intermédio de Tahith Chong, o jovem de apenas 20 anos que subiu de rendimento da primeira para a segunda parte e quase apagou sozinho as exibições sofríveis de Mata, Pereira e James.

Solskjaer repetiu a fórmula do treinador português, ao lançar Rashford (e Fred) já depois da hora de jogo, e o avançado inglês acertou na barra na primeira intervenção que teve na partida. O Wolves, que com o avançar do relógio estava a perder o controlo da zona intermédia do relvado e via como cada vez mais provável a necessidade de um segundo jogo para resolver a eliminatória, viu João Moutinho e Jonny Otto entrarem para anular o crescimento do Manchester United na partida o impacto do português e do espanhol foi quase imediato. Moutinho, enquanto pêndulo vital no meio-campo, permitiu a Otto aparecer na esquerda para cruzar para Doherty. O lateral goleador não desperdiçou a oportunidade e bateu Romero de cabeça mas o lance acabou anulado porque Doherty tocou com o braço na bola durante o movimento (76′).

Até ao final do jogo, a partida acabou por partir ligeiramente, com o Manchester United a falhar principalmente na pressão inicial à construção do Wolves e a equipa de Nuno Espírito Santo a deixar muito espaço aberto nas costas da defesa que poderia ter sido aproveitado pela velocidade de Rashford. O encontro não foi além do nulo e a eliminatória dos 32 avos de final da Taça de Inglaterra terá mesmo de ser decidida num segundo jogo entre as duas equipas, em Old Trafford: onde o treinador português vai tentar afastar o Manchester United da Taça pela segunda temporada consecutiva.