Depois da habitual correria que é o Natal, o fim do ano civil e o início do seguinte do ano inglês, Wolverhampton e Manchester United encontravam-se nos 32 avos da Taça de Inglaterra com a oportunidade de deixar descansar alguns dos habituais titulares pela primeira vez em duas semanas. Na primeira fase da competição que recebe equipas da Premier League, Nuno Espírito Santo e Ole Gunnar Solskjaer protagonizavam o jogo que era o cabeça de cartaz da jornada e que foi na temporada passada a eliminatória dos quartos de final da prova. Na altura, o português eliminou o norueguês: e era exatamente isso que procurava repetir este ano.
Tanto Wolves como Manchester United, este sábado, cruzavam-se vindos de uma derrota — no caso da equipa de Nuno, eram mesmo duas consecutivas, com o Liverpool e o Watford, depois da remontada impressionante frente ao Manchester City que levou Adama Traoré para as capas dos jornais ingleses. Os red devils perderam então com o Arsenal a primeira partida de 2020 depois de duas vitórias seguidas (com o Newcastle e o Burnley) e surgiam no Moulineux com o objetivo claro de voltar a conquistar a Taça de Inglaterra, algo que não acontece desde 2016.
Warmed up. ???? pic.twitter.com/h7ZBoctWNt
— Wolves (@Wolves) January 4, 2020
Antes de entrarem em campo durante a tarde, porém, as duas equipas já tinham sido ligadas durante a manhã na imprensa inglesa. Dias depois de o Manchester United ter perdido a contratação de Erling Haaland para o Borussia Dortmund — o avançado norueguês que deu nas vistas no Salzburgo e esteve quase certo em Old Trafford mas optou pelo clube alemão –, surgia em Inglaterra o rumor de que a equipa de Solskjaer está interessada em Raúl Jiménez, o mexicano que o é o melhor marcador do Wolverhampton. Ora, sem que a vontade do Manchester United de contar com o avançado ex-Benfica seja estranha, já que Jiménez está a um nível assinalável desde a temporada passada, a verdade é que o jogador era um dos elementos poupados por Nuno Espírito Santo este sábado e cedia a titularidade ao jovem Ashley-Seal (que rodou no Famalicão no ano passado).
Solskjaer, que não tem o lesionado McTominay para o meio-campo e voltou a perder Pogba, que deve mesmo ser operado nos próximos dias, lançava Matic ao lado de Andreas Pereira na zona mais recuada do setor intermédio e o jovem Tahith Chong em conjunto com Juan Mata e David James no apoio a Mason Greenwood, a atual estrela da formação do United. Do outro lado, Rui Patrício e João Moutinho eram ambos suplentes e Rúben Neves, Rúben Vinagre e Pedro Neto eram os representantes portugueses no onze inicial do Wolves.
Numa primeira parte em que as duas equipas encaixaram no meio-campo e raramente conseguiram chegar ao último terço adversário — o Wolves, de forma habitual, entregou a iniciativa ao Manchester United e manteve a linha recuada de cinco bem organizada para não permitir investidas rápidas –, a melhor ocasião de golo acabou mesmo por pertencer ao conjunto de Espírito Santo. Ainda antes de estar cumprido o primeiro quarto de hora, Doherty apareceu ao segundo poste a rematar depois de um canto e só não abriu o marcador porque Sergio Romero, a render o habitualmente titular David De Gea, afastou a bola com uma defesa impressionante (13′). Na hora do intervalo, o jogo estava totalmente equilibrado e parecia carecer de alterações, técnicas ou táticas, para romper o xadrez de um e de outro lado.
No início da segunda parte, Nuno Espírito Santo foi o primeiro a assumir que era necessário mexer no jogo com alguns dos jogadores com mais ritmo e lançou Raúl Jiménez, o alegado alvo do Manchester United, no lugar do inexperiente Ashley-Seal. O Wolverhampton voltou melhor do que os red devils e colocou as primeiras linhas de pressão e construção mais adiantadas no terreno, perto do meio-campo, de forma a alavancar a transição e chegar mais depressa e mais frequentemente ao último terço adversário. Depois de dez minutos de superioridade e maior intensidade por parte da equipa de Nuno, o Manchester United adaptou-se ao maior atrevimento do Wolves e respondeu na mesma moeda — principalmente por intermédio de Tahith Chong, o jovem de apenas 20 anos que subiu de rendimento da primeira para a segunda parte e quase apagou sozinho as exibições sofríveis de Mata, Pereira e James.
Wolves on top, but running out of time to find a winner. pic.twitter.com/ICSICJWKQK
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Solskjaer repetiu a fórmula do treinador português, ao lançar Rashford (e Fred) já depois da hora de jogo, e o avançado inglês acertou na barra na primeira intervenção que teve na partida. O Wolves, que com o avançar do relógio estava a perder o controlo da zona intermédia do relvado e via como cada vez mais provável a necessidade de um segundo jogo para resolver a eliminatória, viu João Moutinho e Jonny Otto entrarem para anular o crescimento do Manchester United na partida o impacto do português e do espanhol foi quase imediato. Moutinho, enquanto pêndulo vital no meio-campo, permitiu a Otto aparecer na esquerda para cruzar para Doherty. O lateral goleador não desperdiçou a oportunidade e bateu Romero de cabeça mas o lance acabou anulado porque Doherty tocou com o braço na bola durante o movimento (76′).
Até ao final do jogo, a partida acabou por partir ligeiramente, com o Manchester United a falhar principalmente na pressão inicial à construção do Wolves e a equipa de Nuno Espírito Santo a deixar muito espaço aberto nas costas da defesa que poderia ter sido aproveitado pela velocidade de Rashford. O encontro não foi além do nulo e a eliminatória dos 32 avos de final da Taça de Inglaterra terá mesmo de ser decidida num segundo jogo entre as duas equipas, em Old Trafford: onde o treinador português vai tentar afastar o Manchester United da Taça pela segunda temporada consecutiva.