A Academia Nacional de Belas Artes manifestou esta quinta-feira repúdio pelas tentativas de “justificar” ou “aceitar” o ato de vandalismo perpetrado em dezembro à escultura do artista Pedro Cabrita Reis, em Matosinhos.

Num comunicado enviado à agência Lusa, assinado pela presidente, Natália Correia Guedes, a academia divulga a posição aprovada em reunião de terça-feira sobre este ato que já levou a Câmara Municipal de Matosinhos a apresentar queixa no Ministério Público contra desconhecidos.

“A Academia manifesta o seu firme repúdio pelas tentativas de ‘compreender’, ‘explicar’, ‘justificar’ ou ‘aceitar’ este grave e inadmissível ato, considerando-as cúmplices dele e portadoras da mesma inquietante atitude”, sustenta. Considera ainda que “estas tentativas de ‘justificação’ usam argumentos próximos de outros de triste memória”.

Matosinhos apresentou queixa por vandalismo à obra de Cabrita Reis. Artista fala em “assinatura política”

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

A obra de arte pública “A Linha do Mar” foi, entretanto, recuperada, através da limpeza, com diluente, da tinta com que foram feitas inscrições como “Ladrões” ou “Os nossos impostos 300 mil euros”, em referência ao custo da obra. O voto foi apresentado na Academia por José Manuel dos Santos, escritor, curador, programador cultural e, administrador e diretor cultural da Fundação EDP, e aprovado pelos membros. Na reunião, a Academia Nacional de Belas Artes exprimiu “veemente condenação” pelo “ato de vandalismo intencional”.

“Este é um crime grave, representativo de uma mentalidade anti cultural e anticívica, que não pode deixar de provocar a mais profunda apreensão e indignação. Da História antiga à moderna, estes atos foram sempre sinais de barbárie, intolerância, ignorância e obscurantismo”, afirma. No comunicado, a entidade reafirma ainda “os valores da liberdade de criação e da defesa do património artístico como fundamentos universais de cultura e de civilização”.

A autarquia indicou, na altura, que, para além das queixas apresentadas à Polícia Municipal e ao Ministério Público, a câmara alertou “as autoridades para terem mais atenção a estas peças de arte, esculturas ou edifícios públicos”. A peça escultórica é composta por vigas de ferro HA400 e apresenta uma perspetiva sobre a linha de horizonte do mar, sugerindo diversas interpretações através da forma, geometria e da sua sobreposição com o oceano.