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Irão admite ter abatido por engano avião ucraniano

Este artigo tem mais de 4 anos

O avião que se despenhou no Teerão, matando as 176 pessoas a bordo, foi abatido inadvertidamente por militares. Responsável diz que preferia morrer a testemunhar este acidente. Há já protestos na rua.

O avião, um Boeing 737 da companhia aérea Ukrainian International Airlines, descolou de Teerão
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O avião, um Boeing 737 da companhia aérea Ukrainian International Airlines, descolou de Teerão

AFP via Getty Images

O avião, um Boeing 737 da companhia aérea Ukrainian International Airlines, descolou de Teerão

AFP via Getty Images

O Irão admitiu este sábado que o avião ucraniano que se despenhou na quarta-feira em Teerão, matando todas as 176 pessoas a bordo, foi abatido inadvertidamente por militares iranianos, noticiou a televisão estatal. O presidente do Irão, Hassan Rouhani, já pediu desculpas via Twitter por este “erro imperdoável”.

A declaração, difundida pela televisão estatal iraniana, atribuiu o derrube do aparelho a um erro. Até aqui, o Irão tinha negado que um míssil fosse responsável pelo acidente. Mas os Estados Unidos e o Canadá afirmaram, citando informações dos respetivos serviços de segurança, que o acidente foi causado por um míssil iraniano.

Justin Trudeau diz que há provas. Vídeo parece mostrar momento em que míssil atinge avião ucraniano

Segundo o The New York Times, as forças armadas iranianas explicaram que o avião ucraniano “adotou a postura de voo e a altitude de um alvo inimigo” ao aproximar-se de uma base do Corpo da Guarda Revolucionária Islâmica. E foi “nessas circunstâncias” que “foi atacado”. Depois deste episódio, garantem, serão tomadas medidas para que “um erro” destes não volte a acontecer, ao mesmo tempo que a Guarda Revolucionária foi obrigada a retratar-se e a dar explicações publicamente.

Um militar, que falou sob anonimato a este jornal, disse mesmo que os militares iranianos têm “pouco comando e controlo, e que isso se refletia no que aconteceu com o avião”. Disse também que as comunicações entre funcionários e entre unidades são, muitas vezes, ausentes e que os analistas ocidentais costumam “sobrestimar” as capacidades das forças armadas iranianas.

O presidente iraniano, Hassan Rouhani, numa publicação via rede social Twitter,  explicou que as Forças Armadas tinham concluído que foram disparados mísseis contra o avião ucraniano devido a erro humano, considerando-o um “erro imperdoável”. Numa outra publicação considerou o “erro desastroso”. “Os meus pensamentos e orações estão com todas as famílias enlutadas. As minhas sinceras condolências”, escreveu o presidente.

Também citado pelo New York Times, já o ministro dos Negócios Estrangeiros iraniano, Mohammad Javad Zarif, tentou atirar as culpas deste erro aos Estados Unidos. Numa publicação na rede social Twitter disse que o desastre foi “causado pelo aventureirismo dos EUA”. Segundo o governante, os Estados Unidos estavam a preparar-se para ataques aéreos em vários locais e alvos do Irão, “e isso levou a uma postura de defesa ainda mais sensível por nossas unidades antiaéreas”, disse.

O avião, um Boeing 737 da companhia aérea Ukrainian International Airlines, descolou de Teerão, com destino a Kiev, despenhando-se dois minutos após a descolagem nos arredores da capital iraniana. O acidente ocorreu horas depois do lançamento de 22 mísseis iranianos contra duas bases da coligação internacional liderada pelos Estados Unidos, em Ain Assad e Erbil, no Iraque, numa operação de vingança pela morte do general iraniano Qassem Soleimani. O aparelho, com destino a Kiev, transportava 167 passageiros e nove tripulantes de várias nacionalidades, incluindo 82 iranianos, 11 ucranianos, dez suecos, quatro afegãos, três alemães e três britânicos.

Na sexta-feira, o ministro dos Negócios Estrangeiros canadiano reviu em baixa que o número de vítimas do país, que passou de 63 para 57, após uma “análise aos documentos de viagem das vítimas”. No entanto, o número total de passageiros que tinham como destino final o Canadá mantém-se em 138, disse François-Philippe Champagne, em conferência de imprensa.

As autoridades ucranianas, que enviaram para Teerão uma equipa de 45 investigadores para participar na investigação em curso, começaram por avançar que o acidente teria sido provocado por problemas mecânicos, mas acabaram por recuar na explicação, afirmando que não havia garantia de falhas técnicas. Posteriormente, esta quinta-feira, o secretário do conselho de segurança nacional da Ucrânia, Oleksiy Danylov, afirmou que estava a ser investigada a possibilidade de o avião ter sido abatido por um míssil russo, uma hipótese que começou a circular pela Internet depois de terem surgido online imagens do que aparenta ser um míssil Tor M-1, num subúrbio a sudoeste de Teerão.

A última comunicação com o avião dá conta de que a aeronave tinha ordens da torre de controlo do aeroporto de Teerão para mudar de direção.

Guarda Revolucionária reconhece culpa. “Preferia morrer a testemunhar este acidente”

A Guarda Revolucionária do Irão disse este sábado que reconhece total responsabilidade pelo derrube do avião. Num vídeo divulgado por uma televisão iraniana, o general responsável pela divisão aeroespacial, Gen Amir Ali Hajizadeh, disse mesmo que “preferia morrer a testemunhar este acidente”. O general acrescentou que o operador do míssil que atingiu o avião não obteve uma ordem para o fazer devido a uma “interferências” nas telecomunicações.

O soldado confundiu o Boeing com um “míssil de cruzeiro” e teve apenas 10 segundos para reagir, revelou o general. “O míssil de curto alcance explodiu perto do avião. É por isso que o avião foi capaz de continuar a voar um pouco mais. Explodiu quando atingiu o solo”.

Líder supremo do Irão soube na sexta-feira da causa real do acidente e ordenou a divulgação

O presidente do Irão, Hassan Rouhani, e o líder supremo do país, Ayatollah Ali Khamenei, souberam da verdadeira causa do acidente na sexta-feira, segundo a Fars News Agency. Depois de ter sido informado, o líder supremo ordenou a organização de uma reunião urgente do Conselho Nacional de Segurança.

Pouco depois da reunião, exigiu que os resultados fossem tornados públicos o mais rapidamente possível. Ficou assim decidido que seriam as forças armadas iranianas e o presidente, Hassan Rouhani, a divulgarem comunicados com a informação de que o avião foi abatido inadvertidamente por militares iranianos.

Ucrânia já reagiu e pede corpos das vítimas. Canadá quer “investigação minuciosa”

Entretanto o presidente da Ucrânia também já reagiu via rede social Twitter. Volodymyr Zelenski pede ao Irão que lhes sejam devolvidos os corpos, que lhes pague uma compensação e que faça um pedido oficial de desculpas.

O primeiro-ministro canadiano, Justin Trudeau, reagiu também, garantindo que o governo quer uma “investigação completa e minuciosa” sobre o derrube do avião, assim como uma cooperação das autoridades iranianas. Num comunicado, Trudeau assegura que o foco do país “continua a ser o apuramento das responsabilidades, a transparência e a justiça para com as famílias das vítimas”.

É uma tragédia nacional e todos os canadianos estão de luto unidos. Continuaremos a trabalhar com os nossos parceiros em todo mundo para garantir uma investigação completa e minuciosa, e o governo canadiano espera cooperação total das autoridades iranianas”, concluiu.

Por sua vez, o ministro dos Negócios Estrangeiros alemão defendeu que o Irão deve “lidar com esta terrível catástrofe para que não volte a acontecer”, disse Heiko Maas, igualmente no Twitter. “Os nossos pensamentos estão com as vítimas e os enlutados.” Maas e a chanceler alemã Angela Merkel vão encontrar-se com o presidente russo, Vladimir Putin, em Moscovo, onde se espera que discutam a crise no Médio Oriente.

Numa outra declaração, o primeiro-ministro do Reino Unido, Boris Johnson, reconheceu um “primeiro passo importante” o reconhecimento por parte do Irão do erro que cometeu.

Este vai ser um tempo incrivelmente difícil para todas as famílias que perderam ente-queridos em circunstâncias tão trágicas. Faremos tudo o que podermos para ajudar as famílias das quatro vítimas britânicas e garantir que têm as respostas de que precisam.”

Boris Johnson pediu ainda uma investigação internacional “transparente e independente”. “O Reino Unido vai trabalhar de perto com o Canadá, a Ucrânia e os nossos restantes parceiros internacionais afetados por este acidente.”

“O que fizeram connosco?” Iranianos usam redes sociais para mostrar desagrado

Nas redes sociais, alguns iranianos começam a expressar alguma revolta contra o anúncio das forças armadas militares, usando as palavras dos próprios logo após o ataque dos Estados Unidos que provocou a morte ao comandante Qassim Suleimani, da Guarda Revolucionária: “vingança mais dura” “É susposto vingarem-se contra a América e não contra as pessoas”, escreveu o jornalista Mojtava Fathi.

Já um economista iraniano, Siamak Ghaesmi, escreveu no Twitter: “Não sei o que fazer com esta raiva. Penso em todos os ‘erros humanos’ que durante estes anos nunca foram divulgados porque não havia pressão internacional. Penso na pouca confiança que restava e que foi destruída. Penso nas vidas dos inocentes que foram perdidas devido ao confronto e à teimosia. O que fizeram connosco?”

Um analista iraniano conservador, Mohamad Saeed Ahadian, também recorreu ao Twitter para mostrar o desagrado pelo encobrimento das razões que levaram à queda do avião. “Há dois grandes problemas com este caso. Um é disparar contra um avião, outro é disparar contra a confiança das pessoas. O primeiro pode ser justificado, mas o segundo é um erro sem absolutamente nenhuma justificação.”

Outros iranianos questionam-se sobre as razões pelas quais as autoridades não encerraram o aeroporto de Teerão e o espaço aéreo nacional se estavam em estado de alerta quanto a possíveis retaliações, segundo a Reuters. Há ainda quem peça a demissão de alguns responsáveis. “Conseguiste a tua forte vingança”, lê-se num tweet do jornalista Ahmad Batebi, em resposta à publicação do presidente do país em que pede desculpa pelo “erro imperdoável”.

… e já protestam nas ruas

O The Guardian dá conta de vários protestos nas ruas de Teerão contra a forma como o Governo do país lidou com o acidente.

Junto à universidade Amir Kabir, vários estudantes gritam “Sem vergonha!” e “Demissão não é suficiente. É preciso uma acusação!”

Ouviu-se ainda “Abaixo o mentiroso!”

A agência semi-oficial Fars News Agency, ligada ao Corpo da Guarda Revolucionária Islâmica, publicou um comentário a condenar a ação dos responsáveis iranianos, que tornou “esta tragédia duas vezes mais amarga”.

É essencial que aqueles que esconderam a verdade do público nas últimas 72 horas sejam responsabilizados, não podemos deixar isto passar em vão”, refere a agência, citada pelo New York Times.

“Indivíduos, media, responsáveis políticos e militares que comentaram o caso nas últimas 72 horas devem ser investigados. Se eles sabiam a verdade e deliberadamente mentiram ou, por alguma razão, tentaram escondê-la, devem ser processados, independentemente do cargo que ocupam”.

As comunidades anglo-iranianas no Reino Unido e apoiantes do Conselho Nacional de Resistência do Irão organizaram uma vigília pelas vítimas do acidente.

Vigília aconteceu na sexta-feira, junto a Downing Street, a residência oficial do primeiro-ministro britânico (Getty)

União Europeia reconhece assunção de responsabilidades do Irão

O chefe da diplomacia europeia, Josep Borrell, disse este sábado que a União Europeia (UE) “reconhece” a assunção de responsabilidades do Irão no derrube do avião civil ucraniano na passada quarta-feira, pedindo a Teerão uma “total cooperação”.

“A UE reconhece as declarações feitas pelas autoridades iranianas nas quais se assumem responsáveis pelo incidente do voo PS752 da Ukraine International Airlines (UIA)”, indicou um porta-voz do Alto Representante para Política Externa da UE, num comunicado.

A mesma nota informativa acrescentou que a UE espera, e perante os compromissos assumidos pelo Presidente iraniano Hassan Rohani, que “o Irão continue a cooperar totalmente” e “realize uma investigação integral e transparente” sobre este caso, processo esse que “deve cumprir os padrões internacionais”.

“Devem ser tomadas medidas apropriadas para garantir que um acidente tão horrível não volte nunca mais a acontecer”, frisou o comunicado, que ainda lamenta a morte “de tantas pessoas de diferentes países” e reitera as “sinceras condolências” às famílias das vítimas.

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