A estátua de D. Sebastião que foi derrubada em 2016 por um jovem que tentava tirar uma selfie não será restituída à fachada da Estação do Rossio de Lisboa.

Fonte oficial da Infraestruturas de Portugal (IP), entidade que gere as infraestruturas rodoviárias e ferroviárias e que é a detentora da estação, adiantou ao Observador que a escultura do francês Gabriel Farail (e não do português José Simões de Almeida tio como tinha sido divulgado na altura) será “colocada para exposição em local seguro” no interior da estação depois de restaurada. O objetivo é impedir que a peça “seja alvo de outros atos de vandalismo, e que constitua como memória futura da preservação do património cultural”.

Como resposta ao anúncio da IP, os vereadores do CDS-PP da Câmara Municipal de Lisboa apresentaram esta quarta-feira uma proposta que vai ao encontro de uma petição pública promovida por um grupo de cidadãos que exigem “a reposição da estátua na fachada principal da estação”, tendo esta sido aprovada por unanimidade.

“A estátua de D. Sebastião que foi concebida para o nicho central da fachada da estação do Rossio é um ex-libris daquela estação, dá-lhe sentido e é o seu elemento escultórico central. Foi feita para ser arte pública e é à vista de toda a praça, a embelezar o edifício e a convocar uma memória colectiva num lugar central da cidade de Lisboa, que faz sentido estar.Sem ela o edifício fica artisticamente menorizado e perde parte importante do seu interesse cultural e simbólico”, pode ler-se na petição, citada na moção apresentada.

Além da solicitação à IP de informação “sobre os procedimentos e diligências em curso relativos ao restauro da estátua”, a Câmara Municipal de Lisboa “recomenda à Infraestruturas de Portugal, S.A. a reposição da estátua de D. Sebastião (original restaurada ou réplica) na fachada principal da Estação do Rossio com a maior brevidade possível”, sendo que o recomendado pela mesma seria “a reposição de uma réplica da estátua e a musealização do original, à semelhança do que sucedeu com o monumento a Eça de Queiroz, no Largo Barão de Quintela”.

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O processo de restauro, anunciado há quatro anos, ainda não arrancou. Neste momento, a IP Património (IPP) encontra-se “a promover os procedimentos tendentes à realização de uma consulta pública de especialistas” na área do restauro. “Este trabalho de restauro é muito exigente e será desenvolvido em estreita parceria com a [Direção-Geral do Património Cultural] DGPC, entidade com a qual a IPP tem colaborado desde a primeira hora”, frisou fonte do organismo.

A queda da escultura do nicho onde se encontrava na zona central da fachada da Estação do Rossio provocou a sua total destruição, sendo que para restituir D. Sebastião à sua forma original será necessário unir os diferentes fragmentos da peça. Estes foram recolhidos e devidamente acondicionados pela IPP na altura do incidente, uma operação feita em estreita colaboração com a DGPC, que tem acompanhado todo o processo.

Estátua do Instituto Oftalmológico Gama Pinto pode não ser do mesmo escultor

Por altura da queda da estátua de D. Sebastião, foi noticiada a existência de uma escultura no Instituto Oftalmológico Gama Pinto, em Lisboa, que poderia tratar-se do modelo original da que estava no Rossio. O instituto, localizado no antigo palácio dos condes de Penamacor, serviu de residência a Edmund Bartissol, engenheiro ferroviário francês que esteve envolvido na construção das linhas da Estação do Rossio, durante a sua estadia em Portugal.

A peça foi analisada por técnicos da DGPC que, no relatório que realizaram na altura do acidente, levantaram dúvidas sobre a sua autoria. De acordo com o organismo, a escultura do Instituto Oftalmológico Dr. Gama Pinto “não está assinada e também não corresponde à estátua visível na fotografia desta zona, (…) que ostenta uma esfera armilar”.

Afinal, pode haver outro D. Sebastião

“O estudo em gesso é de muito boa qualidade, sendo possível observar com maior nitidez todos os detalhes da escultura, como no caso do cinto e do cordão do qual pende o medalhão, que na escultura do Rossio se apresentam restaurados com massas grosseiras e nesta escultura aparecem completos”, refere o relatório da DGPC.

“No entanto, coloca-se a questão da autoria desta peça pois não está assinada e também não corresponde à estátua visível na fotografia desta zona, anteriormente referida, c. de 1900, e que ostenta uma esfera armilar. No caso de ter sido efetuada uma segunda escultura, após a perda da esfera armilar, terá sido depositado neste edifício. São questões a ponderar e que só poderão ser esclarecidas com um estudo mais aprofundado da documentação existente”, concluíram os especialistas.

Artigo atualizado às 21h02, com a moção do CDS-PP