As autoridades europeias estão a equacionar alterar a legislação que regula os mercados financeiros (DMIF II), o que poderá enfraquecer a posição de Londres como centro financeiro, segundo a agência de informação Bloomberg.

Segundo a Bloomberg, altos funcionários de Berlim, Bruxelas e Paris estão a avaliar eventuais emendas à Diretiva dos Mercados de Instrumentos Financeiros (DMIF II), que fez uma profunda revisão da primeira diretiva dos mercados financeiros na sequência da crise financeira e que inclui concessões ao Reino Unido dada a importância da city, o centro financeiro de Londres.

Em causa estará a revisão de regras como negociação de ações, produtos financeiros derivados e commodities (produtos financeiros sobre matérias-primas) e manutenção de registos, o que deverá tornar ainda mais difícil a negociação do acordo comercial entre o bloco europeu e o Reino Unido.

As mudanças poderão dar mais força à bolsa alemã, a Deutsche Boerse AG, face à London Stock Exchange Group Plc, em futuros e outros derivados.

“O facto de o maior mercado financeiro da Europa estar agora fora da UE mudará a equação da regulação de serviços financeiros”, disse à Bloomberg Markus Ferber, deputado alemão no Parlamento Europeu (do partido CDU, de Angela Merkel), que foi o principal legislador sobre as regras designadas de DMIF II, considerando que seria “ingénuo” pensar de outra maneira.

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Segundo fontes contactadas pela Bloomberg, nos próximos dias autoridades da União Europeia (UE) irão auscultar bancos e outras empresas sobre eventuais alterações à DMIF II, sendo que uma proposta formal de revisão da diretiva só deverá chegar no terceiro trimestre do ano.

Com o Brexit, o acesso das empresas de serviços financeiros da city à UE dependerá de processo conhecido como equivalência, no âmbito do qual o Reino Unido terá de provar a Bruxelas que as suas regras são pelo menos tão rigorosas quanto as do bloco europeu, o que dá à UE poder unilateral para decidir se as regras britânicas têm condições equitativas (“level playing field”, o termo técnico usado).

A combinação da revisão da DMIF com a equivalência permite alterar as regras do jogo, o que poderia muito bem dar mais poder à UE “, afirmou, citado pela Bloomberg, Nathaniel Lalone, do escritório de advocacia Katten, em Londres, que trabalha em questões regulatórias transfronteiriças no mercado de derivados.

O advogado considera que há o risco de a revisão da DMIF ser usada para “fins políticos”, impedindo o acesso aos mercados da UE das empresas que estão na City.

O Reino Unido deixou a UE em 31 de janeiro, com o prazo para concluir um acordo comercial até final de 2020, um período que já se prevê muito apertado para o alcançar.

O governo britânico propõe um acordo de comércio livre sem alinhamento regulatório e uma série de acordos separados em áreas como a segurança, pescas ou transportes. Já a Comissão Europeia disse que quer um acordo comercial “muito ambicioso”, mas condicional, e advertiu Londres de que não terá os mesmos benefícios que um Estado-membro.