A necessidade de os fabricantes reduzirem a média de emissões de dióxido de carbono por quilómetro, no decorrer de 2020, sob pena de incorrerem em pesadas multas, deverá levar a uma “guerra de preços” nos híbridos plug-in (PHEV), antecipam analistas citados pelo jornal britânico The Guardian.

A contagem iniciou-se a 1 de Janeiro e, desde então, a cada dia que passa os fabricantes de automóveis fazem contas para tentar antecipar o balanço da entrada em vigor das novas regras impostas por Bruxelas, que limitam a média da frota de cada construtor a 95g de CO2/km (este limite é variável podendo, por exemplo, ser ajustado de acordo com o volume de vendas ou o peso médio dos modelos do fabricante).

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Para cumprir a nova regulamentação, que ainda vai apertar mais a malha em 2025 (para 82,6 g de CO2/km) e posteriormente em 2030 (69 g CO2/km), os veículos eléctricos – a bateria ou com recurso a célula de combustível a hidrogénio – seriam a solução mais eficaz, pelo que se antecipou que 2020 seria o ano do grande boom na oferta deste tipo de viaturas. E é um facto que há cada vez mais propostas no mercado. Porém, os preços continuam a ser inacessíveis para muitos condutores, pelo que as vendas têm aumentado, mas não para um patamar que coloque os fabricantes de automóveis a “salvo” de multas. Como tal, estes viraram-se para os PHEV como a escapatória mais barata, do ponto de vista do investimento, e a forma mais rápida de colocar no mercado modelos mais “verdes”.

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O milagre dos PHEV pode “safar” os construtores

Já aqui explicámos como e porquê as mecânicas híbridas plug-in podem constituir a tábua de salvação para os construtores, mercê da benesse de que são alvo na actual forma como são apurados os consumos e as emissões em WLTP. Para efeitos de medição, o protocolo europeu considera que o PHEV parte sempre com a bateria carregada a 100%, pelo que os consumos e emissões depois de percorridos 100 km, dos quais pelo menos 50 km se cumprem em modo eléctrico, são necessariamente baixos. Ainda que diversos estudos tenham já concluído que grande parte dos condutores deste tipo de veículos nem sempre explora ao máximo essa capacidade de circular em modo eléctrico. Ou seja, não abundam os casos em que o acumulador é recarregado diariamente, pelo que as despesas da locomoção se fazem sobretudo por conta do motor a combustão – logo, com consumos e emissões mais elevados do que os homologados. Superiores, até, aos de um veículo não electrificado, porque os PHEV são projectados com motores térmicos menos potentes, pois é suposto usufruírem do auxílio do motor eléctrico, mas acabam por ser esses blocos menos possantes a terem de “puxar” por um veículo mais pesado. Logo, um golpe na eficiência sempre que o cabo não é ligado à corrente.

Ajudas aos PHEV não fazem sentido, dizem ingleses

Mas são essas as regras e, como tal, a curto prazo, os construtores vão procurar tirar o máximo partido deste “esquema” para cumprir os limites impostos por Bruxelas, nem que isso os leve a baixar drasticamente os preços para subir as vendas de PHEV. Este cenário, favorável aos consumidores, é antecipado pelos especialistas da UBS. Em declarações ao The Guardian, o analista Patrick Hummel sustenta que, dada a necessidade de os fabricantes precisarem de volume nos PHEV para cumprir as normativas europeias, é altamente provável que enveredem por estratégias comerciais mais agressivas. “Prevemos o risco de uma guerra de preços no decorrer de 2020”, afirma Patrick Hummel.

Um ano de electricidade à borla nos híbridos Volvo

Excepção feita para a Toyota e para a Tesla, poucos são os fabricantes que não incorrem em sanções. A Volvo tem a seu favor o facto de já ter PHEV em todos os modelos que compõem o seu portefólio, daí que “atire” o seu primeiro modelo 100% eléctrico para 2021. A Peugeot, por seu turno, tem garantido por diversas vezes que não vai pagar multas – uma certeza que é dada pelo próprio CEO da marca do leão, Jean-Philippe Imparato. Quanto à Fiat Chrysler Automobiles, procurou “proteger-se” de multas adquirindo (por vários milhões) créditos à Tesla. Grandes grupos como a Daimler e a Renault são apontados, na análise da UBS, como potenciais incumpridores e, como tal, expostos a severas multas.

Ainda de acordo com a pesquisa citada, o actual cenário leva a crer que, nos próximos dois anos, os construtores vão ter de subtrair 8,4 mil milhões de euros aos seus lucros, para ficar em conformidade com a nova regulamentação. E a tal “guerra nos preços” antecipada pelo estudo da UBS baseia-se na conclusão de que “as vendas de PHEV, entre 2019 e 2021, precisam de ser multiplicadas por sete”. É só fazer as contas…