A Associação Monchique-Alerta, Serra Livre de Incêndios criticou esta sexta-feira a posição adotada pela empresa EDP Distribuição de negar responsabilidade na origem do maior incêndio registado na Europa em 2018, com 27.000 hectares ardidos.

A Monchique-Alerta assume representar “mais de uma centena de cidadãos de Monchique, portugueses e estrangeiros, lesados pelo incêndio florestal de 2018” e considera que “chegará o momento de a EDP reconhecer a sua responsabilidade” e “se aproximar das vítimas com vista a aceitar eventuais pedidos de indemnização”.

A posição da associação de afetados pelo fogo de agosto de 2018, que entre 03 e 10 de agosto destruiu 74 casas, 30 das quais de primeira habitação, foi divulgada num comunicado, depois de a EDP Distribuição ter anunciado na segunda-feira que foi constituída arguida no âmbito do processo relativo àquele incêndio.

A empresa manifestou-se ainda convicta de que o fogo não teve origem na rede elétrica.

“Com base nas evidências disponíveis, a EDP Distribuição está convicta de que a origem do incêndio não esteve na rede elétrica, tendo em conta que o ponto de ignição, identificado pela Autoridade Nacional [de Emergência e] de Proteção Civil, não tem nenhuma linha elétrica nas suas proximidades”, afirmou a empresa numa nota enviada à agência Lusa.

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A Associação Monchique-alerta criticou a EDP Distribuição por negar que o fogo tenha tido origem numa linha elétrica, contrariando as conclusões da investigação à origem do incêndio realizada pela Polícia Judiciária e pelo Observatório Técnico Independente criado pela Assembleia a República.

Também na segunda-feira, o Ministério Público revelou que foram constituídos, até ao momento, dois arguidos no âmbito do inquérito ao incêndio em Monchique, acrescentando que a investigação ainda decorre.

“Tanto o incêndio florestal em Pedrógão Grande (2017), como os incêndios florestais em Monchique, um ano depois, foram causados pelo vento e pelo contacto de árvores com linhas de eletricidade (15 kV)”, indicou a associação.

A Monchique-Alerta considerou que esta posição “é o resultado de um ano e meio de investigações forenses”, dos “interrogatórios levados a cabo pela Polícia Judiciária de Portimão a todos os diretamente envolvidos” e do “relatório do observatório técnico independente para a Assembleia da República”.

A mesma fonte apontou ainda as conclusões tiradas pelo investigador Domingos Xavier Viegas, da Universidade de Coimbra, e a sua equipa de especialistas”, quando “analisaram igualmente todos os grandes incêndios florestais em Portugal durante um período de mais de 40 anos, tendo verificado que dois em cada três incêndios florestais em 2018 foram causados pelo contacto das linhas da EDP Distribuição com eucaliptais”.

A associação expressou a sua “total confiança nos investigadores policiais e do Ministério Público de Portimão” e a “certeza de que estas entidades não cederão às tentativas da EDP de negar a sua responsabilidade” pela origem do incêndio.

“Chegará o momento de a EDP reconhecer a sua responsabilidade e de se aproximar das vítimas com vista a aceitar eventuais pedidos de indemnização, para que Monchique possa finalmente receber Justiça e para que os seus habitantes possam ser pagos pelos danos materiais e prejuízos económicos, para que se possam replantar florestas com espécies arbóreas nativas”, considerou a Monchique-Alerta.