O bispo do Porto, D. Manuel Linda, cancelou esta quinta-feira uma oração que tinha convocado para sexta-feira na sé do Porto, destinada a assinalar os sete anos da eleição do Papa Francisco, horas depois de ter rejeitado, em declarações ao Observador, a possibilidade de o fazer — e cerca de seis horas depois de o Observador ter publicado a notícia sobre o caso.

“Para alertar a sociedade civil para a gravidade da propagação do coronavírus, decidimos cancelar o Te Deum, previsto para amanhã, dia 13/03, anualmente promovido pelo Cabido. Cada um de nós não deixará de rezar individualmente pelas intenções do Papa”, escreveu o bispo no Twitter,

Por volta das 9h desta quinta-feira, D. Manuel Linda tinha feito um apelo público na sua página de Twitter para que “todos” os fiéis participassem numa celebração para assinalar os sete anos da eleição do Papa Francisco na catedral daquela cidade, apesar de o principal foco de coronavírus ser precisamente no distrito do Porto.

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Contactado pelo Observador durante a tarde, D. Manuel Linda negou a ideia de estar a convocar aquela celebração. “Já está marcada há muito tempo”, respondeu. Quando questionado sobre se considerava a possibilidade de cancelar aquele evento, o bispo do Porto recusou responder e desligou a chamada.

Depois deste contacto, o bispo do Porto voltou a publicar no Twitter. D. Manuel Linda escreveu que ao contrário das paróquias de Lousada, onde suspendeu “todas as atividades paroquiais não urgentes”, no “resto da Diocese há já normas gerais e esperam-se orientações governamentais”.

Em resposta um utilizador do Twitter, Tiago Az. Fernandes, que perguntou ironicamente se “a ideia é as pessoas ficarem contagiadas, mas só um bocadinho”, o bispo do Porto respondeu reiterando que não tem “orientações superiores para cancelar aquela celebração”.

“A ideia é que se o senhor conhecer [sic] outras orientações superiores que eu não conheço faça o favor de me as transmitir [sic]”, escreveu. “Caso contrário, não se meta onde não é chamado”, acrescentou diretamente àquele utilizador do Twitter.

Papa Francisco fez missa por videoconferência

O tweet de D. Manuel Linda foi recebido com várias críticas naquela mesma rede social. “Espero que seja por videoconferência. Siga o exemplo do seu chefe e não incentive as pessoas a terem comportamentos de risco”, lia-se numa resposta, da autoria da utilizadora Tatiana Vieira Lopes.

Esta é uma referência à oração dominical do Papa Francisco do passado domingo, 9 de março, que pela primeira vez foi feita através de video-conferência e não na varanda do Palácio Apostólico, no Vaticano. A decisão foi assumida pelo Papa Francisco, que disse que queria “evitar o risco de disseminação” do Covid-19.

Só no final da missa é que o Papa Francisco foi à habitual varanda, apenas para acenar aos poucos fieis que se tinham deslocado à Praça de São Pedro.

Outros internautas reagiram ao tweet de D. Manuel Linda com um tom abertamente jocoso.

Uma página satírica cujo utilizador se identifica como “DEUS” escreveu: “O Senhor Bispo faça o favor de não ser mal educado, e faça antes um vídeo de YouTube para os seus fiéis em vez de incentivá-los a juntarem-se num local fechado contra todas as indicações, incluindo a Minha!”. Noutro tweet, a mesma página acrescentou: “Já agora, considere isto uma ordem superior”.

Líderes espirituais de culto religioso na Coreia do Sul processado por terem sido foco de coronavírus

Na Coreia do Sul, que com 7.869 diagnósticos de coronavírus registados é o quarto mais com mais casos em todo o mundo, foi identificado que o principal foco teve origem num culto religioso na cidade de Daegu, a quarta maior do país, com 2,5 milhões de pessoas.

De acordo com a agência sul-coreana Yonhap, cerca de 61% dos casos confirmados em todo o país têm origem no culto Shincheonji.

Coronavírus. Sul-coreana ligada a seita religiosa pode ter infetado dezenas de pessoas

O presidente da câmara de Seoul, Park Won-soon, colocou um processo na justiça contra 12 líderes daquele culto, acusando-os dos crimes de homicídio, agressão e violação da prevenção e gestão de doenças infecciosas.

O grupo está a ser acusado de ter recorrido aos seus missionários, que atuam de porta a porta, mesmo sabendo que eles estavam doentes, apresentando sintomas de que tinham sido infetados com o novo coronavírus. O grupo nega ter agido dessa forma, mas reconhece que entre os seus fiéis havia um número anormalmente alto de infeções. “Embora não tenha sido intencional, muitas pessoas foram infetadas (…) Fizemos o melhor dos nossos esforços, mas não fomos capazes de prevenir tudo”, disse o líder e fundador daquele grupo, Lee Man-hee, que se ajoelhou e pediu desculpa.

Este artigo foi atualizado às 21h30, com a informação de que o bispo do Porto cancelou a oração.