No centro de Denver, no estado norte-americano do Colorado, duas pessoas com equipamento hospitalar e de máscara na cara interromperam o trânsito numa das vias do centro da cidade. Ao permanecerem no meio da estrada, no que terá sido um protesto silencioso pelo desrespeito das medidas de confinamento, o ato suscitou um buzinão e exaltou os ânimos entre os automobilistas.

“Estamos num país livre, na terra da liberdade”, exclamou uma mulher do interior de uma carrinha, segundo relata o The Washington Post. “Se querem comunismo, vão para a China”, pôde ler-se num cartaz exibido pela mesma cidadã, vestida com as cores da bandeira dos Estados Unidos da América, no incidente que teve lugar no último domingo.

O vídeo tornou-se viral e deixou no ar a possibilidade de toda a manobra ter sido, na verdade, concertada entre os aparentes defensores da quarentena e a mulher que reclamou liberdade em seguir com a vida normalmente. O certo é que a expressão “vai para a China” era, esta segunda-feira de manhã, tendência no Twitter, um pouco por todo o país.

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“Tu vais para o trabalho. Porque é que eu não posso ir também?”, perguntou a mulher. Combinados ou não, protesto e contra-protesto são simbólicos do debate que acontece, neste momento, um pouco por todo o país. De um lado, uma fação da sociedade que apoia a manutenção das medidas de distanciamento social e confinamento como forma de travar a propagação do novo coronavírus, alinhada com as principais preocupações dos profissionais de saúde que estão na linha da frente do combate à pandemia. Do outros, os cidadãos em linha com a estratégia de abertura urgente dos vários setores económicos defendida por Donald Trump.

Nos últimos dias, as divergências têm originado protestos como este em várias cidades dos Estados Unidos. Os manifestantes apelam ao regresso à normalidade, sobretudo junto dos governadores que optaram por fechar setores da economia na tentativa de conter a Covid-19, numa altura em que o país já ultrapassou a barreira das 40 mil mortes.

Denver não foi exceção. Também no domingo, a cidade assistiu à saída à rua de manifestantes, que reclamam o direito a retomar empregos e a normalidade. No Colorado, a ordem de permanência em casa dura até dia 26 de abril, data a partir da qual o governador Jared Polis quer iniciar uma reabertura gradual das atividades económicas. No total, este estado contabiliza 9.700 casos de infeção pelo novo coronavírus e 422 vítimas mortais.

Face aos protestos do último domingo, Donald Trump mostrou-se compreensivo para com os argumentos dos manifestantes, que vêm intensificar o braço de ferro entre a Casa Branca e as medidas decretadas pelos governadores dos estados. Segundo o presidente dos Estados Unidos, alguns deles foram “longe demais” nas restrições adotadas.