A Associação de Profissionais de Educação de Infância (APEI) manifestou este domingo “profunda preocupação” sobre as condições de reabertura de creches dentro de uma semana e diz que as recomendações para essa abertura são “profundamente desadequadas”.

“Não imagino um pai que tenha alternativas a deixar um filho na creche. O risco é imenso”, afirmou o presidente da Associação de Profissionais de Educação de Infância em entrevista à Rádio Observador.

“Não imagino um pai com alternativas a deixar um filho na creche. O risco é imenso”, alerta líder dos educadores de infância

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Luís Ribeiro defende ainda que é impossível cumprir as regras nas creches e que preferia que a reabertura fosse em setembro, esperando que os funcionários sejam testados.

A Direção-Geral da Saúde (DGS) já fez um conjunto de recomendações para a reabertura das creches, que pode acontecer a partir de dia 18, sendo essas recomendações que a APEI vem agora contestar, manifestando-se disponível para colaborar com o Governo e outras entidades com responsabilidade nas respostas às crianças com menos de três anos, para “encontrar as melhores soluções”.

No plano de desconfinamento pós-estado de emergência divulgado pelo governo consta a reabertura de creches com opção de apoio à família a partir de 18 de maio e das restantes creches, ensino pré-escolar e ATL a partir de 1 de junho.

Ainda que tendo consciência do caráter excecional do momento, devido ao novo coronavírus, que provoca a doença Covid-19, a associação diz que as propostas para a abertura das creches, a serem cumpridas, “estão objetivamente a lesar o desenvolvimento das crianças”.

“Manter uma distância física de dois metros entre cada criança e impedir que possam interagir entre si, evitar o toque em superfícies, dispor mesas em linha ou crianças colocadas de costas umas para as outras, evitar a partilha de brinquedos e outros objetos, ter adultos de referência (educadoras e auxiliares), com os quais as crianças mantêm vínculos profundos, a usar máscaras, são medidas reveladoras de um desconhecimento sobre a realidade do trabalho educativo em creche e sobre o desenvolvimento das crianças com menos de 3 anos”, alerta a APEI num comunicado.

E acrescenta que essas medidas são acima de tudo “profundamente perturbadoras” já que são também “uma violência contra as crianças”.

“Pegar ao colo, olhar nos olhos e deixar que a criança crie empatia através da expressão facial, falar perto da sua cara e acariciar o seu rosto são afetos que constroem e cimentam as interações e o vínculo entre criança e educador/cuidador. Impedir estas manifestações de afeto ou artificializá-las, com máscaras e distância física, é violentar a relação”, avisa a associação.

Como é “violentar” a criança “aprisioná-la” em mesas, espreguiçadeiras ou parques, quando essa criança está na fase da progressiva autonomia, de explorar os espaços e os materiais e a relação com os outros.

“É difícil compreender como é possível pensar em reabrir as creches com este tipo de recomendações que, é bom clarificar, vão abranger as crianças maioritariamente oriundas de famílias com condições sociais de maior vulnerabilidade e desigualdade socioeconómica, precisamente as que não terão alternativa a não ser a creche, pois as restantes irão optar por mantê-las em segurança, na sua casa”, diz-se ainda no comunicado da associação.

Além de que não se pode, salienta, olhar para as creches “como depósitos de crianças. A APEI, no comunicado, não dá soluções para o problema, mas diz que está a promover uma reflexão para preparar um documento sobre a matéria.

Um documento, adianta, que contribua para o respeito pela criança, para a dignificação das creches como espaço educativo de qualidade, para a garantia de condições de higiene, segurança e em estar das crianças, e para a valorização do trabalho pedagógico e de apoio às famílias.