James Mattis, o general dos Marines que se demitiu em 2018 do cargo de ministro da Defesa de Donald Trump (por discordar da política seguida no conflito na Síria), quebrou o silêncio e, num artigo na revista Atlantic, criticou a intenção do presidente de usar tropas para neutralizar protestos nas ruas, acusando-o de montar “um falso conflito” entre os militares e a sociedade civil.

“Assisti aos eventos desta semana enquanto estes se desenvolviam, enraivecido e chocado”, escreveu James “Mad Dog” Mattis no seu artigo na Atlantic. Mattis tem mantido um perfil discreto desde que saiu de funções, recusando-se a falar contra Trump e repetindo que – enquanto o presidente se mantivesse em funções – iria guardar silêncio. Mas os acontecimentos da última semana – com a morte de George Floyd no decorrer de uma detenção pela polícia do Minneapolis e os protestos que se seguiram – foram demais para o general dos Marines.

Um dos eventos que o deixou mais chocado, salienta Mattis, foi a fotografia do presidente, com uma Bíblia na mão, após uma caminhada a uma igreja na Praça Lafayette, em Washington, já depois de as autoridades policiais terem retirado à força do local várias pessoas em protesto.

Mattis disse que nunca sonhou, sequer, que “as tropas, em qualquer circunstância, iriam receber ordens para violar os direitos constitucionais dos seus concidadãos”, “muito menos para dar ao comandante-em-chefe eleito um momento fotográfico, ao lado das lideranças militares”.

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“Donald Trump é o primeiro presidente na minha vida que não tenta unir o povo americano (…) nem sequer finge que tenta. Em vez disso tenta dividir-nos”, escreveu Mattis. “Estamos a assistir às consequências de três anos destes esforços deliberados. Estamos a assistir às consequências de três anos sem uma liderança matura”, prossegue o general.

Assim, Mattis apelou aos americanos para que “se unam sem ele, recorrendo às forças inerentes à sociedade civil”. “Não será fácil, como mostram os últimos dias, mas devemo-lo aos nossos concidadãos; às gerações do passado que verteram sangue para defender a nossa promessa; e devemo-lo aos nossos filhos”.

Sobre os manifestantes, Mattis disse que os americanos não devem distraír-se com um pequeno número de transgressores. Disse que estão a fazer uma exigência justa, que o país cumpra as palavras “Justiça igual à luz da lei” exibidas no edifício do Supremo Tribunal de Justiça dos EUA.

“Os protestos definem-se pelas dezenas de milhares de pessoas com consciência que insistem que nos ergamos à altura dos nossos valores, dos nossos valores como pessoas e dos nossos valores como Nação”, escreveu Mattis.

E insistiu nas críticas ao uso da força para afastar os manifestantes para que Trump pudesse visitar a Igreja de St. John, um dia depois de ter sido danificada pelo fogo durante protestos. “Sabemos que somos melhores do que o abuso de autoridade a que assistimos na Praça Lafayette. Temos de rejeitar e pedir responsabilidades a todos aqueles que gozam com a nossa Constituição”, concluiu o general.

Mas Mattis vai mais longe, fazendo uma alusão à ideologia nazi, de Adolf Hitler. “Antes da invasão da Normandia (1944) as nossas chefias militares recordavam aos nossos soldados o slogan nazi para nos destruir… que era ‘dividir para conquistar’. A resposta americana é: ‘Na união, há força’”. Segundo Mattis, Trump está a seguir pelo mesmo caminho do slogan nazi.