Cerca de 130 trabalhadores da diversão noturna entregaram esta quinta-feira, em frente à Assembleia da República, em Lisboa, um cesto de chaves dos seus estabelecimentos para que o Governo vá “gerir os negócios” como bares e discotecas, encerrados devido à Covid-19.

Escoltados pela PSP, os empresários partiram às 15h15 do início da Rua D. Carlos I e seguiram até à Assembleia da República. Chegaram à escadaria do parlamento pelas 15h30, onde entregaram, de forma simbólica, um cesto com as chaves dos seus estabelecimentos, localizados de norte a sul do país.

“É um ato de simbolismo. O Governo que venha gerir os nosso negócios, já que não conseguimos gerir com as portas fechadas”, disse aos jornalistas Alberto Cabral, um dos empresários presentes na manifestação.

Mais de cem trabalhadores de diversão noturna protestam esta quinta-feira em Lisboa numa manifestação silenciosa, inclusive sem cartazes, pela reabertura de espaços como bares e discotecas, encerrados desde março no âmbito da pandemia da Covid-19.

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A manifestação “O silêncio da noite… à procura de respeito e respostas” foi marcada através das redes sociais pelo movimento “O silêncio da noite”, que surgiu em consequência do encerramento, sem previsão de abertura, dos estabelecimentos noturnos, determinado pelo Governo devido à pandemia da Covid-19.

Segundo o manifesto “O silêncio da noite”, a falta de medidas de apoio vão levar à insolvência, a curto prazo, de grande parte do setor, empurrando para o desemprego milhares de colaboradores diretos e indiretos, “num total estimado de 140.000 pessoas”.

Neste desfile estiveram cerca de 130 pessoas, guardando alguma distância entre si e todas com máscara. A marcha até à Assembleia foi marcada pelo silêncio.

Por seu turno, José Gouveia, porta-voz do grupo e presidente da Associação de Discotecas Nacional (ADN), sublinhou que o desfile aconteceu para que se assista ao “fim do silêncio do Governo e para que este comece a falar sobre a noite e de quando vão abrir os bares e as discotecas”.

“Há um número de pessoas que não consigo quantificar que precisam de resposta”, disse o empresário.

Questionado sobre o facto de ser possível ou não os clientes manterem o distanciamento social dentro dos bares e discotecas por se tratar de espaços fechados, José Gouveia lembrou que atualmente “é difícil manter as distâncias em todas as áreas”, dando como exemplo as próprias declarações que estava a fazer.

“Só estamos à espera que a Direção-Geral de Saúde [DGS] nos diga como devemos agir. Como é evidente, se me dissesse há dois meses que tinha de usar máscara eu diria que não era possível. Hoje o uso de máscara faz parte, é como um acessório de roupa”, disse.

“Os aviões também são espaços fechados e as pessoas estão de máscara”, respondeu, depois da insistência dos jornalistas à questão do uso de máscara num local onde também se consomem bebidas.

José Gouveia acrescentou que a questão da lotação terá de ser prevista pelas autoridades, como no caso dos restaurantes e dos cafés, e que os empresários depois optam por abrir ou não.

“Queremos uma data e o direito de abrir tem de ser dado, depois caberá a cada um abrir ou não”, disse José Gouveia, reconhecendo que os espaços a nível de ar condicionado e de extração de ar “estão bem preparados”.

O responsável lembrou ainda que no desfile estiveram pessoas que fizeram cerca de 800 quilómetros (de ida e volta) para verem a sua situação resolvida.

“Se a DGS quiser amanhã falar connosco, vamos lá”, afirmou.

Pelas 15h45, tal como previsto, os manifestantes desmobilizaram, depois de entoarem o hino nacional e de uma salva de palmas.

No manifesto “O silêncio da noite”, os empresários de espaços de diversão noturna afirmam que o setor “continua sem qualquer orientação por parte do Governo” sobre a retoma à atividade no âmbito da pandemia da Covid-19, “numa altura em que praticamente todos os setores ou já reiniciaram as suas respetivas atividades económicas ou pelo menos sabem quando, como e com que apoios o poderão voltar a fazer”.

Lamentando o “largo período de incerteza, tão nefasto para proprietários e colaboradores deste setor”, o movimento critica o aumento do número de festas ilegais. “Acreditamos agora que, como no início, em que encerrámos voluntariamente de forma sensata e pró-ativa, antes de a isso sermos obrigados, podemos ajudar. Devolvam aos profissionais do ramo a possibilidade de proporcionar um ambiente seguro aos nossos clientes, contribuindo dessa forma para o controlo efetivo da pandemia”, lê-se no manifesto.

Além de afirmar a “urgência em reabrir, em segurança” os espaços de diversão noturna, a manifestação visa “sensibilizar o poder político para as dificuldades extremas que ameaçam seriamente a subsistência de tantas empresas desta área”. Neste âmbito, o movimento quer que o Governo “seja o mais célere possível na definição de um calendário para a retoma da atividade económica deste setor e indique quais as condições sanitárias necessárias para a reabertura dos espaços”.

Além destas medidas, os empresários pretendem que seja considerado um conjunto de apoios, seja a fundo perdido ou a título de financiamento, “para fazer face aos custos decorrentes quer do período em que estas empresas estiveram encerradas e, portanto, sem vendas, quer para a óbvia quebra de receitas decorrente das eventuais restrições de capacidade que irão ser impostas”, propondo uma reserva de verbas específica para a reabertura deste setor.

“Considere, à semelhança do que tem vindo a ser discutido no setor da restauração, uma redução do Imposto sobre o Valor Acrescentado (IVA) para a taxa mínima durante um período de dois anos, bem como a isenção da Taxa Social Única (TSU) por 12 meses”, indica ainda o movimento.

É referido que os espaços de diversão noturna geram “cerca de dois mil milhões de euros”, o que corresponde a 1% do Produto Interno Bruto (PIB) nacional.

Tendo em vista a abertura do setor “com toda a segurança”, os empresários da animação noturna criaram, no início de junho, um grupo de trabalho para apresentar soluções à Direção-Geral da Saúde e ao Governo. Estas empresas, encerradas desde março, ficaram de fora do plano de desconfinamento progressivo, tendo o primeiro-ministro justificado esta medida com a impossibilidade de afastamento físico nas discotecas.

Em declarações à Lusa, Pedro Vieira, que integra o grupo de trabalho, explicou então que, juntamente com a Associação de Hotelaria, Restauração e Similares, estão a ser trabalhadas soluções e sugestões para apresentar às autoridades.