Durante o isolamento, os jogadores de futebol ficaram sem poder fazer aquilo de que mais gostam. Muitos dedicaram-se ainda mais ao treino que podiam fazer, como Cristiano Ronaldo, outros descobriram a aplicação TikTok, como Sergio Ramos ou Dani Alves, e alguns ocuparam-se com assuntos sérios, como Sterling ou Rashford. Já um quarto grupo, com especial incidência em Inglaterra, entregou-se por completo à PlayStation e aos vídeojogos.

E aí, um nome português ganhou uma evidência especial. Diogo Jota, avançado do Wolverhampton, venceu o ePremier League, a competição de FIFA 20 em que os jogadores dos clubes do principal escalão inglês participaram e cujas receitas reverteram na íntegra para a Players Together, uma iniciativa criada já na pandemia pelos próprios atletas e que angaria fundos para apoiar o Serviço Nacional de Saúde de Inglaterra. Com participantes de cada de um dos 20 clubes, Jota chegou à final e derrotou Trent Alexander-Arnold, jovem lateral direito do Liverpool. Mas no final de abril, o internacional português mostrou que a capacidade que tem para jogar futebol na consola é a mesma que tem para jogar futebol na relva.

A competir no Weekend League, uma competição que dura um fim de semana e que inclui 30 jogos sempre contra adversários diferentes, o avançado do Wolves foi coroado o 61.º melhor jogador de FIFA 20 do mundo inteiro. E curiosamente, na equipa fictícia criada por Jota, o jogador não conta com ele próprio na frente de ataque: o único português que lança é João Cancelo, conta com os inesperados Tierney, do Arsenal, e Saint-Maximin, do Newcastle, e aposta nas lendas Gheorghe Hagi e Emilio Butragueño. Este sábado, porém, Diogo Jota voltava ao futebol propriamente dito.

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100 dias depois do último jogo, o Wolverhampton voltava à competição e visitava o West Ham — sem Adama Traoré no onze inicial, que era a principal ausência e a principal surpresa nas escolhas de Nuno Espírito Santo. No sétimo lugar e a três pontos do quinto, que é o Manchester United de Bruno Fernandes, o Wolves vai realizar as jornadas que restam da Premier League a olhar para a possibilidade da qualificação para a Liga dos Campeões: com a confirmação do castigo do Manchester City e consequente exclusão das competições europeias, o 5.º lugar da liga inglesa passa a dar acesso à liga milionária, sendo que United, Sheffield, Wolves, Tottenham e Arsenal estão todos na corrida por esse passaporte.

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Nuno Espírito Santo tem a possibilidade de levar o Wolves à Liga dos Campeões na próxima temporada

O Wolves foi melhor do que o West Ham na primeira parte mas não conseguiu ser acutilante o suficiente para chegar à vantagem. Diogo Jota, na frente de ataque, foi o elemento em maior evidência na equipa de Nuno Espírito Santo, ainda que tenha desperdiçado uma ocasião em que ficou na cara do guarda-redes Fabianski e acabou por complicar e não chegar a rematar. No segundo tempo, o jogo apresentou um ritmo ainda mais baixo, com o West Ham a baixar as linhas para defender o empate e o Wolves a procurar os últimos 30 metros do terreno adversário mas sem velocidade nem acerto para conseguir lá chegar. Espírito Santo decidiu mexer à passagem da hora de jogo, para lançar Traoré e Pedro Neto, e tirou Dendoncker e um fatigado Jota. O jogador português acabou por não conseguir transportar para os relvados o sucesso que teve na PlayStation durante a quarentena mas foi claramente o elemento que mais procurou e mais quis a vitória na equipa do Wolves.

Acabou por ser Traoré, que deu intensidade à transição da equipa assim que entrou em campo, a desenhar com regra e esquadro o golo da vitória. O avançado espanhol surgiu em velocidade na ala direita e deixou dois adversários para trás — como tinha feito com sucesso nos três lances anteriores — para depois cruzar para a grande área. Ao segundo poste, completamente sozinho, Raúl Jiménez só precisou de cabecear para a baliza de Fabianski (73′). O West Ham não teve qualquer reação ao golo sofrido e o Wolves aproveitou para aumentar a vantagem e fechar o jogo. Depois de um lance delicioso de Traoré, novamente no lado direito, Doherty cruzou e Pedro Neto apareceu nas costas da defesa, com um remate perfeito de pé esquerdo e de primeira que não deu hipótese ao guarda-redes adversário (84′).

O Wolves igualou assim o Manchester United no quinto lugar, assumindo mais uma vez que é um sério candidato à última vaga inglesa para a Liga dos Campeões. Diogo Jota, o mestre da consola, saiu antes de conseguir voltar a marcar mas deixou aos comandos o candidato a ser o próximo menino de ouro do futebol português: Pedro Neto, um dos nove portugueses que está na primeira lista de nomeados ao Golden Boy desta temporada.