Para perceber o que levou Sir James Ratcliffe a decidir construir um jipe tradicional mais à vontade para evoluir no centro de África, como o Ineos Grenadier, em vez de um SUV luxuoso, como o Rolls-Royce Cullinan ou o Bentley Bentayga, ideais para circular no centro de Londres, é necessário conhecer um pouco da vida desde engenheiro químico britânico de 62 anos, fundador e dono de 2/3 da Ineos, um conglomerado industrial no campo da petroquímica.
Quando não está no escritório a dirigir a sua equipa com 22.000 empregados, que lhe garante o estatuto do homem mais rico do Reino Unido, com uma fortuna avaliada em cerca de 23 mil milhões de euros, Ratcliffe dá azo ao seu espírito aventureiro, tendo já realizado expedições ao Polo Norte e ao Polo Sul, bem como diversas incursões por África.
Foi esse gosto pela aventura que alimentou a paixão de Sir Ratcliffe pelo Land Rover Defender, tendo ficado quase de luto quando, em 2016, o fabricante britânico anunciou que ia parar com a sua produção, enquanto desenvolvia um novo Defender, mais actual e refinado, alegadamente sem beliscar a capacidade TT do modelo. Esta paixão de Ratcliffe pelo Defender que teve origem em 1948 é partilhada por agricultores, caçadores, militares e até a Rainha de Inglaterra, que junto de muitos ainda tem um peso considerável.
À época, o homem da Ineos contactou a Land Rover, manifestando o seu interesse em continuar a fabricar o Defender em pequenas quantidades – 20.000 a 30.000 unidades por ano –, ainda que com outro nome, caso a marca o autorizasse e lhe vendesse os moldes. O construtor não se mostrou interessado na proposta. Mas como Ratcliffe nunca foi de desistir às primeiras dificuldades, avançou para a criação da Ineos Automotive e criou o Grenadier 4×4, na prática uma versão ligeiramente mais moderna do Defender fabricado até 2016.
Até a decisão para a denominação do modelo é curiosa, com Ratcliffe a optar pelo nome do pub onde regularmente se reúne com os amigos, o Grenadier, no refinado bairro londrino de Belgravia e onde alegadamente decidiu fazer o sucessor do Defender original. De seguida nomeou Dirk Heilmann como CEO, também ele um engenheiro químico, à semelhança de Ratcliffe, a quem encarregou de negociar com os fornecedores as peças necessárias para a produção do Grenadier 4×4 – suspensões da Magna Steyr, motores BMW, eixos rígidos da Carraro e caixa de velocidades e redutoras da ZF.
Além da aventura agora iniciada pela indústria automóvel com o jipe, Sir James Ratcliffe e a sua empresa Ineos são uma presença constante no desporto, especialmente quando envolve interesses britânicos. É a sua petroquímica que vai assegurar a presença de Inglaterra na America’s Cup de 2021, sempre com o velejador olímpico inglês Ben Ainslie, com a equipa a ser denominada Ineos Team UK, com alegadamente fundos suficientes para desenhar um monocasco com foils competitivo. Esta tentativa de fazer regressar a Inglaterra o troféu implicou um patrocínio da petroquímica de 122 milhões de euros. Também os F1 da Mercedes, como o pilotado pelo britânico Lewis Hamilton, exibem este ano Ineos como um dos principais patrocinadores, fruto de um investimento de 111 milhões de euros a dividir por cinco anos de contrato.