Uma acusação que “falsifica a história do Banco Espírito Santo”. É assim que a defesa de Ricardo Salgado caracteriza a acusação do Ministério Público contra o seu cliente e outros 24 arguidos. Num comunicado com 22 pontos, os advogados Francisco Proença de Carvalho e Adriano Squilacce alegam que “durante todo o inquérito, as provas foram escondidas” do arguido e avançam que Salgado “não desistirá de se defender”, apelando desde já a um “prazo razoável e condições dignas para o exercício cabal dos seus direitos”.

Caso BES. Ministério Público avança com acusação contra 25 arguidos

Começando por confirmar que Ricardo Salgado foi notificado da acusação, os advogados argumentam que “as provas foram escondidas” durante todo o inquérito, apesar dos “insistentes e reiterados pedidos da defesa contra essa obstrução” e “mesmo depois de ultrapassados todos os prazos de um putativo segredo de justiça interno” — segredo de justiça esse que “funcionou para a defesa, mas não existiu para, ao longo do tempo, distorcer a verdade na praça pública”, alegam.

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A defesa descreve como “públicas e notórias múltiplas violações dos seus direitos” e diz que o comportamento de Ricardo Salgado foi “discreto e de absoluto respeito pelo sistema de justiça”. Depois, afirma:

O Dr. Ricardo Salgado não praticou qualquer crime e esta acusação falsifica a história do Banco Espírito Santo.”

Os advogados recuperam o que Ricardo Salgado “sempre disse”: que “a resolução do BES foi um erro colossal que causou e causa prejuízos inquantificáveis ao país”. “Enquanto o Dr. Ricardo Salgado esteve no BES, não houve lesados”, lê-se, acrescentado que essa “desastrosa decisão não foi sua”. “Por muitos erros que tenha cometido (e só não comete quem não tem que decidir), o Dr. Ricardo Salgado sempre colocou os interesses do BES acima de quaisquer outros, sempre agiu de boa-fé e na convicção de que as opções tomadas serviram o melhor interesse do banco, dos seus clientes, colaboradores e acionistas”, afirma a defesa. O comunicado afirma ainda que a história do BES e de Ricardo Salgado não é a que consta na acusação.

Os advogados garantem que o arguido “assume e assumirá a responsabilidade pelos atos que praticou”, mas que também irá demonstrar que “não praticou atos ilícitos”. “O Dr. Ricardo Salgado não deixará de utilizar todos os mecanismos legais para repor a verdade histórica em relação à sua pessoa e ao BES”, escreve a defesa, que acrescenta:

Não desistirá de se defender e levará até às últimas consequências a sua defesa, não só por respeito a si próprio, mas também por respeito à memória coletiva dos muitos que fizeram parte da história deste Grupo. Por muito que alguns queiram, a história de vida de uma pessoa não se apaga com a facilidade com que se muda uma marca.

Os advogados deixam ainda a nota de que, face à dimensão e enorme complexidade do processo, espera que, “depois de tantas e sucessivas prorrogações de prazo que foram concedidas ao Ministério Público para concluir o inquérito, seja também concedido à defesa um prazo razoável e condições dignas para o exercício cabal dos seus direitos com igualdade em relação a quem agora o acusa”.