Cerca de 40 pessoas concentraram-se esta quinta-feira junto da Assembleia da República, em Lisboa, para contestar o Presidente, primeiro-ministro e Governo da Guiné-Bissau, apelando ao parlamento português para rejeitar o que dizem ser “os golpistas”.

O que se passou no último dia 29 de fevereiro foi um golpe de Estado, porque um candidato que não saiu das urnas de forma legítima se apoderou do poder, com a ajuda das forças de segurança, instalou-se no Palácio [Presidencial], e está autoproclamado Presidente da República e nós estamos aqui, a comunidade guineense, revoltados com essa situação”, disse à Lusa Mariano Quade, um dos dinamizadores da manifestação, referindo-se a Umaro Sissoco Embaló.

Durante o protesto, os participantes empunhavam cartazes em que criticavam organizações internacionais, como a União Europeia (UE) e a Comunidade Económica dos Estados da África Ocidental (CEDEAO).

A CEDEAO não vale nada para a Guiné-Bissau. Não vai fazer nada para a Guiné-Bissau, vai apoiar golpistas. Nós não queremos golpistas. Queremos liberdade na Guiné-Bissau, queremos democracia na Guiné-Bissau. É por isso que vim aqui hoje, para pedir à comunidade internacional para nos ajudar a libertar a nossa terra”, afirmou Cadi Quebé, 62 anos.

A organização regional foi criticada por Mariano Quade, que considerou que esta “está a funcionar por amiguismo” e acusou-a de, por “ter uma relação com o autoproclamado Presidente”, tender a “fazer não uma posição mediadora, mas parcial, que coloca os outros atores políticos numa situação de desvantagem”.

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Num dos cartazes erguidos pelos participantes no protesto lia-se que a UE “financiou um golpe de Estado com dinheiro dos contribuintes europeus”.

O primeiro-ministro português, António Costa, foi também alvo das críticas dos manifestantes, por ter recebido o seu homólogo da Guiné-Bissau, Nuno Nabian, durante uma visita privada deste a Portugal.

A atitude do nosso primeiro-ministro, o senhor António Costa, não é digna. Não devia receber o autoproclamado. O partido dele não ganhou as eleições, mas ele recebeu”, afirmou o luso-guineense Isidoro Copilo, que acredita que Portugal se deve demarcar do Governo de Nuno Nabian.

Mariano Quade abordou também esta reunião, considerando que “é motivo de indignação”.

Sabemos que Portugal é uma democracia consolidada e, portanto, nunca iria alinhar do lado daqueles que violam a democracia, e por isso nós não compreendemos esta posição”, vincou o organizador da manifestação.

Mariano Quade apontou que ao reconhecer um Governo que diz ser não legítimo, Portugal está a “compactuar com uma situação de ilegalidade”.

Um grupo de cidadãos guineenses a viver na Europa convocou para esta quinta-feira à tarde uma manifestação em Bruxelas, que pretende denunciar detenções e espancamentos de “pelo menos uma centena de pessoas”, alegando violência policial.

A Guiné-Bissau está a viver um período de especial tensão política desde o início do ano, depois de a Comissão Nacional de Eleições ter declarado Umaro Sissoco Embaló vencedor da segunda volta das eleições presidenciais.

O candidato dado como derrotado, Domingos Simões Pereira, líder do Partido Africano para a Independência da Guiné e Cabo Verde (PAIGC), não reconheceu os resultados eleitorais, alegando que houve fraude e meteu um recurso de contencioso eleitoral no Supremo Tribunal de Justiça, que não tomou, até esta quinta-feira, qualquer decisão.

Umaro Sissoco Embaló autoproclamou-se Presidente da Guiné-Bissau em fevereiro e acabou por ser reconhecido como vencedor das eleições pela CEDEAO e restantes parceiros internacionais.

Após ter tomado posse simbolicamente, o chefe de Estado demitiu o Governo liderado por Aristides Gomes, saído das eleições legislativas de 2019 ganhas pelo PAIGC, e nomeou um outro liderado por Nuno Nabiam, líder da Assembleia do Povo Unido – Partido Democrático da Guiné-Bissau (APU-PDGB), que assumiu o poder com o apoio das forças armadas do país, que ocuparam as instituições de Estado.

A CEDEAO tinha pedido a formação de um Governo que respeitasse os resultados das legislativas até 22 de maio, mas o prazo não foi cumprido, porque os partidos com assento parlamentar, divididos em dois blocos, reivindicavam ambos ter a maioria para formar Governo.