Pedidos de demissão não só para Frederico Varandas, presidente do Sporting, mas também para alguns vices e administradores da SAD como Francisco Salgado Zenha e João Sampaio. A porta da saída para Hugo Viana, agora diretor desportivo dos leões, bem como para Beto, team manager da equipa principal. Acusações de ditadura a Rogério Alves, líder da Mesa da Assembleia Geral verde e branca. A rotunda perto do Pavilhão João Rocha e ao pé do Estádio José Alvalade voltou a concentrar os protestos de adeptos, neste caso ligados à principal claque do clube, a Juventude Leonina, com a colocação de tarjas que estiveram algumas horas exibidas no local.

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A polícia foi informada do ocorrido e, à semelhança do que já tinha acontecido noutros momentos que não dias de jogos, deslocou-se ao local e retirou as referidas tarjas consideradas ofensivas pelos responsáveis leoninos. Em dias de jogo, como nas duas manifestações que existiram no início do ano antes da pandemia, tinha havido registo apenas de uma pequena tarja retirada pelos spotters e de forma discreta que dizia apenas “Ditador”.

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“É tempo de dizer basta, é tempo de todos os sportinguistas se unirem e apontarem a porta da rua a esta Direção sem rumo. A Juventude Leonina não irá baixar a guarda enquanto estes senhores não saírem do Sporting. Podem contar com a Juventude Leonina, como sempre, na defesa intransigente do Sporting”, escreveu a claque Juventude Leonina numa publicação onde mostrava num vídeo de 40 segundos a colocação das tarjas de protesto de forma ordeira na rotunda, já depois de ter feito um texto crítico após o quarto lugar na Liga depois da derrota na Luz com o Benfica num dia marcado pela manifestação de apoio à equipa na Academia, em Alcochete.

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“Uma época terminada, tal qual começou, com a história do Sporting a ser humilhada. Estamos preocupados? O resumo da época é simples e, afinal, até histórico: o Sporting somou um recorde de 17 derrotas numa época, ultrapassando os dois registos mais negativos da longa e, felizmente notável história do Sporting. Parabéns Varandas, estarás para sempre ligado ao pior de sempre. As razões são simples. Evidentes. Por muito que tentadas a ser escamoteadas pelos arautos comentadores afetos a Varandas, as estatísticas não mentem. As épocas não são preparadas, não existe um projeto definido. É preciso que se afirme que a aposta na formação deu-se num final de época quando nenhuma outra solução vingou no chamado projeto varandista que, recordamos, foi alavancado numa pré-epoca onde não se ganhou um único jogo (talvez, mais um marco histórico)”, defendeu.

“Para se poder dirigir uma instituição é preciso ter noções elementares de liderança. Estamos certos de que não são os treinadores (foram só quatro esta época, no tal designado ‘projeto’), os jogadores ou os arautos dos infelizes programas de TV que oferecem voz ao clube. Não são estes que devem sair em defesa do Sporting ou responder pela inexistência de estrutura (…) E uma nota para o nosso e omnipresente intérprete estatutário, Rogério Alves. A função primordial de um órgão como a Assembleia Geral é o de representar os seus associados e velar pelo cumprimento dos estatutos em vigor. Estamos certos de que a história fará a sua justiça. Num momento crítico como este onde, mais do que nunca, impera dar a palavra aos sócios, tenta por todas as vias cortar a palavra aos sócios no seu direito legitimo de ser ouvidos”, acrescentou, num texto publicado no Facebook oficial da claque.

Também nos Núcleos do clube se tem sentido a contestação, numa ação concertada que começou no domingo ao final da tarde sobretudo em grupos no Norte e que foi depois crescendo por outras regiões. “Já não há mais tempo para refletir, é hora de agir! #Acorda Sporting”, defendia a mensagem publicada no Facebook desses Núcleos, que geraram depois múltiplas reações nas redes sociais e que levou mesmo, por exemplo, o Núcleo de Braga a retirar a mensagem com a justificação de que “originou um rol de má educação e ameaças entre sócios e adeptos” do clube e do próprio grupo. Batalha, Barcelos, Braga, Cacém, Figueira de Castelo Rodrigo, Marco de Canaveses, Matosinhos, Póvoa do Lanhoso, Quinta do Conde, Vila das Aves, Vila Nova de Famalicão, Vila do Conde & Póvoa de Varzim ou Viana do Castelo foram alguns dos que publicaram essa mensagem no domingo.

Esta terça-feira, grande parte desses mesmos Núcleos, a que se juntaram outros como Castelo Branco ou Castro Verde, fizeram outra publicação às 19h06, em alusão ao ano de fundação do clube verde e branco, dizendo “Chega de perseguição aos sportinguistas, chega de desunião, somos todos Sporting”. Está marcado para o fim de semana um encontro entre Núcleos, que pretende juntar cerca de 100 participantes, para discutir a atual situação e o futuro do Sporting, “o que não quero dizer que sejam os mesmos que fizeram estas publicações”, como explicaram ao Observador. “Não existem agendas, candidatos ou conversa para agradar, existe isso sim vontade de agir e colocar o Sporting no seu lugar, o caminho das vitórias”, defendia a convocatória do encontro.

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Num outro âmbito, o Observador sabe também que alguns grupos de associados que ponderam avançar com uma candidatura ao próximo sufrágio eleitoral do clube, em 2022, têm feito alguns encontros para discutir a situação do clube, nomeadamente os novos caminhos para a SAD verde e branca a médio prazo ou o atual projeto desportivo. Por exemplo, há um grupo que considera ser inevitável a venda da maioria do capital social da sociedade a um investidor estrangeiro como aconteceu com Manchester City e PSG ou, num outro modelo, a vários investidores nacionais, uma medida que é das questões mais fraturantes entre os associados verde e brancos. Outros defendem a garantia até estatutária da manutenção da maioria do capital social da SAD no clube e um modelo diferente que seja mais parecido ao que preconiza o Bayern, com três grandes investidores minoritários na administração.

Ainda assim, e apesar de toda esta contestação, a Direção do Sporting não pondera qualquer cenário de demissão. Fica por saber como será a próxima reunião magna do clube, ainda sem data, que servirá não só para votar o orçamento para a próxima temporada de 2020/21 (que se devia ter realizado até 30 de junho mas que foi adiada por causa da pandemia e das regras vigentes no País) mas também, confirmando-se os prazos avançados para esse projeto, as alterações estatutárias que estão a ser estudadas por um grupo liderado por Rogério Alves.