Os grupos ambientalistas foram os primeiros a alertar para o facto das máscaras e luvas descartáveis – produzidas com recurso ao polipropileno, um tipo de plástico – representar uma ameaça à vida marinha e aos habitats selvagens. Conscientes do enorme desafio para o meio ambiente, várias nações e governos começam, agora, a tomar medidas concretas relativas ao abandono desses resíduos sanitários em ambientes naturais.

Espanha é o caso mais recente. O Executivo lançou, esta semana, uma campanha institucional para consciencializar os cidadãos para a correta reciclagem de máscaras descartáveis de proteção, alertando, ainda, para o facto de cada máscara cirúrgica, que pesa cerca de quatro gramas, demorar entre 300 e 400 anos a degradar-se. Enquanto isso, o mais provável é acabar no mar, juntamente com os mais de oito milhões de toneladas de resíduos plásticos que são despejados anualmente nos oceanos. Uma prática que, além de ser uma fonte de contágio para a Covid-19, também prejudica o meio ambiente.

A campanha, intitulada “A máscara é para ti, não para a natureza”, lançada pelos Ministérios da Transição Ecológica e do Consumo, também promove o uso de máscaras de utilização comunitária (laváveis e reutilizáveis) contra a Covid-19. Isto porque, feitas as contas, se metade da população espanhola usar uma nova máscara cirúrgica todos os dias, isso significa que mais de 705 milhões de máscaras serão usadas por mês. E se, apenas 1% dessas máscaras não for descartada adequadamente no espaço de um ano, segundo o governo, serão geradas cerca de 80 milhões de máscaras contaminadas, muitas das quais acabarão no mar.

“Este é o momento que todos devemos agir com responsabilidade, através da promoção do uso da máscara, mas também é importante estender essa proteção aos ambientes naturais, que nos fornecem os serviços básicos, como ar limpo, água e alimentos, evitando abandonar máscaras ou qualquer outro resíduo”, salientou Teresa Ribera, ministra da Transição Ecológica e do Desafio Demográfico, na apresentação da campanha oficial.

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Já o ministro do Consumo, Alberto Garzón, apelou à “responsabilidade individual” dos cidadãos, assim como ao “consumo responsável” – uma das bandeiras do seu ministério – que deve estar vinculado ao uso correto da máscara para evitar a propagação da Covid-19. “Todos temos de estar cientes da importância da máscara porque está em risco a saúde de toda a população”, acrescentando, ainda, que a campanha, apesar de ter nascido durante este período de verão, fará uma ronda pelo país ao longo do ano.

“Nas últimas décadas, a sociedade tomou consciência da importância de reciclar e de não abandonar as embalagens em ambientes naturais. Estes novos resíduos, como máscaras, luvas ou recipientes de gel, gerados devido à pandemia, não podem ser uma exceção: o consumo responsável vai desde a compra até o descarte dos produtos ou embalagens”.

O ministro realçou, ainda, que os resíduos associados à proteção contra a Covid-19, principalmente máscaras, luvas e outros equipamentos de proteção individual, devem ser depositados no lixo comum e em caso algum podem ser abandonados nas vias públicas.

“Tsunami de resíduos”, alertam os especialistas

Num mundo que produz milhares de toneladas de plástico por semana, a luta contra a poluição dos oceanos está agora mais difícil, alertam vários especialistas em vida marinha, que confirmam que às zonas costeiras têm chegado cada vez mais máscaras cirúrgicas, luvas e até viseiras – os objetos obrigatórios dos tempos de hoje – que representam não só um risco para a saúde pública, mas uma ameaça ambiental para a vida marinha.

Segundo a associação ambientalista World Wildlife Fund (WWF), os equipamentos de proteção de plástico usados contra a Covid-19 estão a criar um “tsunami” de resíduos que vai a caminho do oceano. A organização apela, ainda, para a responsabilidade dos cidadãos de colocarem as luvas e máscaras de proteção nos contentores do lixo de forma a evitar que os rios e mares fiquem ainda mais poluídos.

Anualmente, a WWF estima que cerca de 100 mil animais marinhos morram presos, asfixiados ou envenenados com resíduos plásticos. Avisa, também que a poluição por plástico nos mares pode atingir um ponto crítico se não forem tomadas medidas eficazes e apela para que não se recue “nem um passo” nos compromissos adotados para eliminar os plásticos descartáveis em 2021.