O mistério sobre o facto de a Covid-19 deixar os homens, nomeadamente mais velhos, com quadros clínicos mais graves que as mulheres tem motivado levado vários investigadores a debruçarem-se sobre o tema. Já em maio tinha sido divulgado que o facto de os homens terem uma maior concentração das chamadas enzimas conversoras de angiotensina 2 (ACE2), os recetores que são usados pelo novo coronavírus para entrar nas células humanas, podia ajudar a explicar o maior número de mortos e doentes masculinos em estado grave infetados com a Covid-19.

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Agora, a Escola de Biociências da Universidade de Kent e o Instituto de Virologia Médica da Goethe-University, em Frankfurt, identificaram que uma glicoproteína conhecida como transferrina pode também ajudar a explicar o porquê de serem os homens, mais velhos, a terem graves da Covid-19, segundo a informação publicada no site Science Daily.

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Há quem fique infetado e curado com a Covid-19 sem sequer saber que esteve doente, mas também há vários relatos de quem — não tendo aparentemente problemas de saúde — ficou em estado grave, ou perdeu mesmo a vida. Sendo um coronavírus recente, pouco estudado, as dúvidas e questões ainda são muitas, mas sabe-se que a taxa de letalidade nas pessoas acima dos 70 anos é muito maior do que nos mais jovens. Em Portugal, na quarta-feira as autoridades de saúde apontavam que a taxa de letalidade da Covid-19 era de 3,4%, enquanto nos grupos acima dos 70 anos era de 15,79%.

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Além da idade, também os homens têm um risco maior de desenvolver uma forma grave da Covid-19 e muitos dos casos mais graves “apresentam aumento da coagulação do sangue e formação de tromboses”. A equipa de investigadores debruçou-se sobre essas variáveis e combinou os dados sobre a expressão genética dos seres humanos e as células infetadas para procurar as moléculas envolvidas na coagulação sanguínea — em homens e mulheres —, que mudam com o aumento progressivo da idade e são diferentes na resposta à infeção por Sars-Cov-2.

Entre mais de 200 fatores candidatos, os pesquisadores identificaram que a glicoproteína transferrina como pró-coagulante (ou seja, causa da coagulação do sangue) aumenta com a idade, sendo maior nos homens do que nas mulheres e nas células infectadas com Sars-CoV-2 . Concluíram então que a transferrina pode ter potencial como um biomarcador para a identificação precoce de pacientes Covid-19 com alto risco de doença grave.

Katie-May McLaughlin, a primeira autora do estudo, disse ainda ser “muito emocionante estar envolvida num estudo tão importante” já que, considera, esta descoberta “pode ser usada para melhorar a terapêutica para a Covid-19 nas formais mais graves”.

A ferritina já tinha sido identificada como um dos elementos-chave para ajudar no diagnóstico da Síndrome de Kawasaki em crianças doentes com a Covid-19, por investigadores do Imperial College London.

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Os investigadores britânicos, do Imperial College London, também se têm dedicado a estudar de que forma é que a Síndrome Kawasaki poderá estar relacionada com a Covid-19 e qual a melhor forma de a dignosticar e já avançaram algumas conclusões através de cinco marcadores no sangue: Elevados níveis de ferritina e proteína C-reativa (PCR) — ambos comuns em quadros de inflamação — e depois três que são comuns em casos de problemas cardíacos ou de coagulação sanguínea: D-dímeros, BNP e troponina.

“Sabemos que estes marcadores estão presentes em pacientes muito doentes e que estão presentes em níveis mais baixos em alguns doentes com a doença conhecida de Kawasaki”, afirmou, na altura, Michael Levin, professor de pediatria e saúde infantil no Imperial College.