Estamos decididos a viajar pelas maravilhas do centro de Portugal. Quão central é este percurso? Ora bem,o nosso ponto de partida, a freguesia de Idanha-a-Nova, fica à mesma distância de Lisboa e Madrid. Mas vamos esquecer as capitais – a melhor roadtrip é mesmo aqui, na Beira Baixa.

Idanha-a-Nova: As aldeias históricas

Começámos por “lavar a vista” na barragem Marechal Carmona. Construída durante o Estado Novo, a barragem situa-se no rio Ponsul e destina-se à produção de energia elétrica. A albufeira criada pela barragem é também um centro de lazer: existe um parque de campismo, praia fluvial e locais abertos à pesca desportiva. O grande espelho de água, visto da barragem ao nascer do sol, é o ponto de inspiração para começar esta viagem.

De seguida, partimos à descoberta da aldeia histórica de Idanha-a-Velha. Classificada como monumento nacional, ocupa lugar de destaque nas estações arqueológicas do país, tendo sido um local de destaque ao longo do tempo: no séc. I a.C., existiu no espaço uma cidade romana. Mais tarde, foi sede episcopal sob domínio suevo e visigótico, ocupada pelos muçulmanos no séc. VIII e reconquistada pelos cristãos no séc. XII, tendo sido doada à Ordem do Templários no séc. XIII.

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Além disso, vale também a pena visitar a Sé Catedral, a Torre dos Templários, o Pelourinho e a Igreja matriz, assim como a ponte romana e as muralhas que envolvem a aldeia, para reconhecer as influências de todas as civilizações que viveram nesta aldeia histórica. Também vale a pena conhecer o lagar, que enfatiza o olival que envolve a aldeia, e passear pelo centro, provando as delícias da região.

De seguida, visitámos a aldeia histórica de Monsanto. Prepare-se para usar os músculos das pernas – a aldeia encontra-se no cimo da encosta e, a partir de certo ponto, não é possível usar o carro. A explicação é simples: toda a aldeia se encontra construída sobre e sob os barrocais graníticos icónicos da região. Perca-se pela estreitas ruas da aldeia, onde pode imaginar a vida de outros tempos, seguindo as placas que marcam e explicam locais de importância, como a “Casa do Ferreiro”, a “Casa do Carrasco” ou o Castelo. Salpicados pela aldeia, vai encontrar alojamentos locais de turismo rural completamente entrosados no ambiente, onde pode pernoitar, e pequenos restaurante típicos, cujas esplanadas, encaixadas entre as enormes pedras de granito a 700m de altitude, oferecem vistas desafogadas sobre a planície circundante.

Esta imersão na natureza rochosa da Beira Baixa não estaria completa sem uma visita a Penha Garcia. O ponto mais alto, nas ruínas do castelo, é um bom ponto de observação para a Barragem de Penha Garcia, bem como para o Parque Icnológico de Penha Garcia, que preserva nas suas rochas fósseis de seres pré-históricos. Termine com um mergulho na praia fluvial de Penha Garcia, à sombra da encosta pode apreciar a cascata e nadar na piscina de pedra natural.

Penamacor: Da planície à Serra

Em Penamacor, não nos fizemos rogados e aproveitámos para “fazer praia”. Sim, porque apesar de estarmos a menos de 50 quilómetros da fronteira com Espanha, podíamos fazer um guia só das melhores praias fluviais do país.

Demos um mergulho na Praia Fluvial da Benquerença, um espaço tranquilo e familiar. Além de um bar e esplanada, e um pequeno areal  e parque infantil para as crianças, o relvado extenso na margem do rio torna-a a praia ideal para levar a família, para as crianças brincarem e, ainda assim, assegurar toda a distância social necessária.

Fotografia: Sílvia Costa

Subindo até à barragem de Meimoa, visitámos a grande albufeira criada pela estrutura. É na margem desta albufeira que encontramos a Praia Fluvial do Meimão, uma praia com Qualidade de Ouro da UNESCO. Aqui, as possibilidades são ilimitadas: quer deitar-se na relva ou alugar uma espreguiçadeira no areal? Prefere o “bar da praia” ou vai fazer o seu farnel para as mesas de piquenique? Prefere nadar livremente na barragem ou ficar nas piscinas de água fluvial mais seguras para as crianças? Prefere praticar os seus mergulhos olímpicos na prancha de saltos ou alugar uma prancha e experimentar a moda do momento, o stand up paddle? A escolha é sua e dá para fazer de tudo neste local que é quase obrigatório para quem está de férias pela zona. Já a vista é uma e única: a incrível Serra da Malcata.

Atravessando para o outro lado da albufeira, através da barragem de Meimoa, vai encontrar o início da Reserva Natural da Serra da Malcata. São cerca de 16.000 hectares de bosques de carvalhos, azinheiras e medronheiros, que recordam antigas florestas mediterrânicas, e que são habitat seguro para espécies como a raposa, o gato-bravo, o javali, a lontra, a corça, a águia-caçadeira e a cegonha-preta. É também, claro, o habitat natural do Lince Ibérico, razão pela qual a reserva foi criada 1981. Apesar de não haver certezas da existência de exemplares em Portugal, existe um centro de reprodução criado em Silves, onde se fazem todos os esforços para preservar a espécie e garantir que ela regressa à natureza e à Serra da Malcata.

A biodiversidade da fauna e da flora são apenas uma das muitas razões para fazer um passeio na serra, existindo possibilidades de caminhos a pé, de bicicleta e até de carro.

Não pode deixar Penamacor sem fazer uma pequena pausa nas Termas de S. Tiago. Numa zona calma e bucólica, são o sítio ideal para “desligar” do frenesim da cidade e aproveitar os programas de SPA com as águas terapêuticas, envolvido pelo esplendor da serra.

Por fim, fazemo-nos à estrada em direção a Castelo Branco, mas há que apreciar o caminho: as estradas rodeadas de paisagens esculpidas, onde as serras rasgam planícies vastas de sobreiros e azinheiras, fazendo destas algumas das mais bonitas estradas para fazer em Portugal.

Castelo Branco: onde a serra e cidade se cruzam

Em Castelo Branco, visitámos imediatamente um do seus ex-líbris – o Jardim do Paço Episcopal. O Paço foi mandado construir pelo bispo da Guarda, D. João de Mendonça, em 1720, depois da sua estadia em Roma. Assim, suspeita-se que o autor terá sido italiano, pela influência do estilo: os elementos florais da jardinagem italiana e as estátuas de figuras de renome portuguesas. O jardim tem vários patamares e pontos de interesse: as escadarias são adornadas com estátuas de figuras importantes (reis e santos) do país, existe um jardim alagado, vários repuxos e os labirintos de sebes escondem uma figura de pedra em todas as esquinas.

A capital da região é também o centro cultural da área, compreendendo uma Rota dos Museus, composta por cerca de 10 locais diferentes que exaltam a história das indústrias que moveram a região. Visitámos o Museu Cargaleiro, no coração da cidade. É composto por dois edifícios: o primeiro, um palacete construído no séc. XVIII, é dedicado a mostrar a Cerâmica Ratinha – nome dado aos trabalhadores beirões -, passando pela cerâmica Triana (de Sevilha) e chegando à contemporânea. O segundo edifício, moderno e construído no séc. XXI, é dedicado à obra do artista Manuel Cargaleiro, bem como à sua coleção pessoal de arte.

A dois passos de distância, encontrámos o Centro de Interpretação do Bordado, onde é reconhecida, valorizada e preservada a beleza do bordado de Castelo Branco, que nutre valor artístico e significação económica, pela concentração desta indústria na região.

O sol está quente neste verão pela Beira Baixa, por isso, não resistimos a mais um mergulho – desta vez, na Praia Fluvial de Almaceda, uma vasta praia fluvial, com uma piscina alternativa que irá agradar os mais pequenos.

Se não se cansa da beleza natural da Beira, então vai querer visitar o Parque Natural do Tejo Internacional – um parque que abrange uma área em que o rio Tejo constitui a fronteira entre Portugal e Espanha e que é, hoje, reserva da Biosfera da UNESCO. Considerado um dos mais relevantes da Europa, os parques naturais dos dois países unem-se em mais de 50.000 hectares de biodiversidade em estado puro. A melhor forma de conhecer esta área é embarcar num dos cruzeiros do Tejo Internacional, que dispõe de vários percursos que permitem conhecer melhor a fauna e a flora, bem como as tradições da região.

Oleiros – As serras de Xisto

Se na zona este da Beira-Baixa as paisagens se marcavam por algumas serras a rasgar as planícies, semelhantes ao Alto Alentejo, aqui já estamos em plena altitude serrana, com direito a estradas cheias de curvas por entre longas zonas florestais, que providenciam algumas das melhores paisagens da viagem.

É nos pequenos vales entre as serras e na diferença de altitudes que se encontram alguns do locais mais interessantes da região. Uma dessas maravilhas é o Geopark Naturtejo, onde os recentes Passadiços do Orvalho fazem as delícias dos visitantes. A caminhada pelos passadiços permite conhecer alguns dos geomonumentos classificados pela UNESCO, tal como a Cascata da Fraga de Água Alta e o Cabeço do Mosqueiro. Os passadiços permitem acessibilidade a estes locais, mesmo que montanhismo não seja o seu forte, e são feitos de forma a integrarem a paisagem natural, numa simbiose perfeita.

Fotografia: Sílvia Costa

Se gostou dos passadiços, arrisque-se no percurso pedestre pela Grande Rota Muradal-Pangeia 37 – o troço português do famoso Trilho Internacional dos Apalaches. O nome Pangeia é uma alusão ao supercontinente que existiu durante as eras paleozóica e mesozóica, quando as placas continentais colidiram e formaram as montanhas Apalaches, as montanhas da Caledónia na Europa Ocidental, o Maciço Ibérico e a Cordilheira do Atlas de Marrocos. Este trilho, que percorre cerca de 34 quilómetros e passa por pontos como a Penha Alta, o Miradouro do Zebro e o do Cabeço Mosqueiro, integra-se, naturalmente, no Maciço Ibérico, e é “obrigatório” para os fãs do pedestrianismo, e para os aventureiros de ocasião.

É também numa “frecha” entre montanhas que encontramos a Aldeia de Álvaro, numa encosta sobranceira ao Rio Zêzere. É uma das “aldeias brancas” da Rede das Aldeias do Xisto, o material de eleição característico da zona. É claro que, nesta zona, também é possível dar um mergulho. Desta vez na Praia Fluvial de Açude Pinto, também ela uma Praia com Qualidade de Ouro da UNESCO, e que faz as delícias dos visitantes.

Proença-a-Nova: Viver na natureza e protegê-la

Estamos decididos a visitar todas as praias premiadas da região, e Proença-a-Nova tem não uma, mas duas praias premiadas pela UNESCO. Na Praia do Malhadal, vai encontrar uma enorme extensão de água com cerca de 1 km, cercada por abundante vegetação e relevo acidentado. Nela, foram montados os equipamentos para tirar o melhor proveito possível: existem locais de lazer, passagens protegidas, piscina segura para as crianças e nadador-salvador.

Já na Praia Fluvial da Fróia, encontramos um espaço mais pequeno, mas também mais charmoso. A praia existe por entre as construções de pedra de antigos moinhos e as suas margens de pedra estão protegidas por colinas verdejantes. É certo que tanta praia cansa, mas não tem problema. O sítio que escolhemos para ficar fica a apenas alguns minutos a pé. A Aldeia Oliveiras é uma tradicional Aldeia de Xisto, onde parte das casas está habitada por locais e parte está reservada a turismo rural. Pode usufruir de todo o conforto moderno, mas em casas com construção e decoração tradicional – e aqui aproveite para fazer parte da aldeia, participando nos convívios organizados e usufruindo do forno comunitário.

Se tem crianças, vai querer incluir um momento lúdico nesta viagem. Para isso, recomendamos o Centro da Ciência Viva e da Floresta. Depois de conhecerem e deslumbrarem-se com as florestas da região, os mais pequenos podem aprender ainda mais num espaço pensado para estimular os sentidos e aprender através da experiência. Vão aprender sobre a caracterização da floresta – aprendendo a “ler” os anéis de uma árvore e vendo as espécies nativas nos aquários e formigueiros -, sobre as matérias primas da floresta – conhecendo a densidade de diferentes madeiras e participando no processo de produção de lápis de cor -, e sobre os perigos que ameaçam a floresta, desde a desflorestação, à poluição e ao temido fogo – sobre o qual os mais pequenos poderão ouvir histórias dentro de um camião bombeiro vintage original, e combater através de uma simulação de equipa virtual.

Vila Velha de Ródão: a história natural

A nossa viagem termina na freguesia de Vila Velha de Ródão. A nossa primeira paragem é na Foz do Cobrão – para um mergulho na Piscina Natural da Foz do Cobrão – e depois até ao Miradouro do Miradouro do Vale do Almourão para observarmos a foz em todo o seu esplendor.

Esta região caracteriza-se pelos geomonumentos de beleza impressionante, e por uma das lendas mais famosas de Portugal – a lenda do Rei Wamba, o último rei dos Visigodos que vivia num Castelo às Portas de Ródão entre os anos de 672 e 680. Esse castelo ainda existe: é conhecido como o Castelo do Rei Wamba e consiste numa torre ainda possível de subir e que teve grande relevância histórica devido à sua localização. O rei Sancho I doou a torre aos Templários no séc. XII, funcionando como uma torre de vigilância dos mouros, e mais tarde foi um posto de artilharia durante as invasões francesas. Do local onde se ergue a torre, estamos mesmo “em cima” das famosas Portas de Ródão.

Para a ver as portas em toda a sua glória o melhor é mesmo deslocar-se ao Miradouro do Monumento Natural. Daí vai ser possível ver as duas encostas quase a unirem-se na passagem do rio. É de tirar o fôlego e também o postal perfeito para encerrar esta nossa viagem pelo que a Beira Baixa tem de melhor.

Perca-se na beleza desta região e aproveite para conhecer uma zona repleta de atividades cheias de aventura, como canoagem, stand-up Paddle, escalada, entre outros. Embarque numa experiência única, onde entra em contacto diretamente com a Natureza no seu esplendor.

Saiba mais sobre este projeto
em https://observador.pt/seccao/centro-de-portugal/