A cinco dias do início da Festa do Avante, Marcelo Rebelo de Sousa pressiona a Direção-Geral da Saúde (DGS) a divulgar as orientações para a realização do evento. O Presidente da República critica que as regras não sejam públicas e diz-se preocupado com a falta de clareza. “Nunca pensei que chegássemos a cinco dias sem conhecer as regras do jogo”, disse aos jornalistas, numa visita a Monchique.

“Quando a 26 de maio deste ano promulguei a lei n.º 19/2020 sobre festivais e festas chamei a atenção para três pontos importantes. Primeiro é que quando as autoridades sanitárias, leia-se DGS, interviessem, interviessem com clareza. A segunda era de forma atempada, para as pessoas conhecerem com antecedência as regras de jogo. E a terceira respeitando o principio de igualdade. Tinha de se tratar igualmente situações iguais”, começou por dizer.

O evento começa na sexta-feira e a DGS já enviou, na semana passada, as orientações “genéricas”, disse a diretora-geral da Saúde. Graça Freitas defendeu, porém, que a decisão de tornar público o documento dependia do PCP. Mas o partido remete para a DGS.

Acho que isto não é bom para ninguém, não é bom para o Estado. No fundo, a DGS significa Estado. Não é bom para quem organiza, esta indefinição de regras, e não é bom em geral para a credibilidade que é fundamental neste momento. Estamos no meio de uma pandemia, que tem conhecido altos e baixos. Ultimamente, os valores têm subido um bocado”, apontou Marcelo, que critica a falta de clareza. “Para haver clareza é preciso saber quais as regras.”

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“Mais do que noutras ocasiões impunha-se que se soubesse com antecedências as regras do jogo, não se sabe. Que se conhecesse as regras do jogo com clareza, não se conhece. E se pudesse comparar com outras situações, não é possível. Isso preocupa-me”, concluiu. “Nunca pensei que chegássemos a cinco dias sem conhecer as regras do jogo.”

Mais de 40 comerciantes de Amora, perto da Quinta da Atalaia, onde se realiza o evento, vão encerrar os seus estabelecimentos durante a Festa do Avante, por “precaução” e para “mitigar o risco” de contágio pelo novo coronavírus.

Mais de 40 comerciantes de Amora vão fechar portas durante Festa do Avante

Números não justificam regresso de Portugal à “lista negra” do Reino Unido, defende Presidente

Questionado sobre a subida dos novos casos de infeção com Covid-19 em Portugal, e os avisos de que o país poderia voltar a entrar na “lista negra” de viagens do Reino Unido, Marcelo Rebelo de Sousa defende que os números não justificam uma inversão da decisão do Reino Unido.

Jornais ingleses avisam que Portugal pode regressar em breve à “lista negra” das viagens

“Os números no Algarve são residuais em termos nacionais. Quando olhamos, ainda hoje mas em geral ao longo das últimas semanas, para esse aumento de casos que tem havido, não se pode dizer que haja um peso decisivo nos números algarvios. Não há. Há que relativizar esses números. E mesmo em termos gerais para o país há que ter atenção, há que prevenir. Não há que dizer que existem neste momento circunstâncias que justifiquem a inversão da última decisão — que tem 10 dias — do Reino Unido em relação a Portugal”, disse.

Marcelo tem visitado o Algarve nas últimas semanas e, diz, desde que o país saiu da “lista negra” britânica que o número de turistas tem aumentado. “É ver a diferença nestes últimos dias face ao que há duas semanas“, apontou.

“Importa ouvir o que os portugueses dizem”

O Presidente foi ainda questionado sobre a resposta que deu a uma portuguesa que acusou o Governo de não ajudar os micro-empresários. Perante a insistência da popular, Marcelo disse-lhe: “Diga aos portugueses para votarem noutro Governo”. Este domingo, o presidente esclareceu que não quis dar conselhos, mas que apenas cumpria uma das missões de um chefe de Estado: “estar junto do povo” para “ouvir”.

Interpelado por cidadã descontente, Marcelo responde: “Diga aos portugueses para votarem noutro Governo”

Neste cinco anos de presidência, houve dois momentos em que ouviu “mais protestos e reclamações”. “Em 2016 havia uma parte do país — quase metade —, que não se sentia representada. E em 2017 depois dos incêndios. Agora há naturalmente razões especiais que têm a ver com a pandemia, com a crise económica e social, com o layoff, o desemprego, a quebra de rendimentos e salários. Importa ouvir o que os portugueses dizem.”

Marcelo diz que se limitou a dizer que “quem acha que a sua opinião devia ser maioritária, mas é mais ou menos minoritária, a maneira mais democrática além de votar é tentar convencer os outros através da pedagogia, no sentido de concordarem com as sua opiniões. Foi a única coisa que disse”.