Era o último domingo de 43 anos de história. Este fim de semana, no Grande Prémio de Itália, a família Williams despedia-se da Fórmula 1 no geral e da Williams Racing em particular, depois de ter vendido a equipa britânica aos norte-americanos da Dorilton Capital. Os dois pilotos, George Russell e Nicholas Latifi, deixaram uma mensagem nas redes sociais, a Fórmula 1 emitiu um comunicado onde agradeceu à família inglesa tudo aquilo que deu à modalidade mas o principal gesto foi dedicado exclusivamente a Claire Williams, até este domingo a diretora da Williams.

“Uma última conversa antes da corrida… Com uma pequena surpresa no final. Obrigada, Claire, de toda a equipa”, escreveu a Williams no Twitter, a acompanhar as imagens da asa dianteira assinada por todos os elementos da equipa que Claire Williams recebeu no último dia nas garagens. Um último dia que, apesar de tudo e como era possível ler no comunicado da própria Fórmula 1, não deixa de ser um primeiro dia de uma memória que irá perdurar: “Prestamos tributo a Sir Frank, à Claire e à família Williams. A sua paixão, energia e amor pelo desporto tornaram a Fórmula 1 imensamente mais rica. Os seus sucessos cimentaram um legado; a sua história vai ser parte da Fórmula 1 para sempre”.

43 anos depois, a família Williams vai deixar a Williams. Equipa de F1 foi vendida a grupo de investimento norte-americano

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Com Russell e Latifi, os homens da Williams, a ocuparem os dois últimos lugares da grelha de partida, este Grande Prémio de Itália de 2020 — o primeiro de três etapas consecutivas deste atípico Mundial no país — já era histórico desde a qualificação. Para a Mercedes e para Hamilton, por bons motivos; para a Ferrari, para Leclerc e Vettel, por motivos terríveis. Hamilton, por seu lado e depois de conquistar mais uma pole-position, registou mesmo a volta mais rápida de todos os tempos na Fórmula 1, ao percorrer o circuito de Monza em 1 minuto, 18 segundos e 887 milésimos a uma média de 264,362 km/h. Já a Ferrari, pela primeira vez desde 1984, não tinha qualquer piloto nos 10 primeiros lugares da grelha no Grande Prémio de Itália, com Leclerc a sair de 13.º e Vettel de 17.º.

No arranque, Lewis Hamilton segurou a liderança de forma clara e Carlos Sainz saiu muito bem, ultrapassando Valtteri Bottas para agarrar o segundo lugar. O carro do piloto finlandês não teve o desempenho esperado na primeira volta e Bottas acabou por cair a pique na tabela, sendo ultrapassado também por Norris, Pérez e Ricciardo até cair para sexto. Verstappen também não arrancou bem e falhou o ataque às posições cimeiras, enquanto que os dois Ferrari não conseguiram cavar qualquer lugar nos instantes iniciais da corrida. À volta 6, a vida ficou ainda mais complicada para a equipa italiana: os travões de Vettel falharam e o alemão ficou desde logo fora de competição. Lá à frente, Hamilton preparava-se para mais uma corrida muito tranquila.

Até que apareceu o safety car. O Haas de Magnussen precisou de ser retirado de pista e a corrida ficou interrompida: já com o pit lane encerrado, Hamilton e Giovinazzi entraram na box para mudar de pneus e acabaram castigados com um stop and go de 10 segundos. No recomeçar da prova e antes de o piloto da Mercedes cumprir a penalização, Leclerc teve um arranque brilhante que o catapultou para o quarto lugar mas protagonizou um violento acidente logo de seguida, perdendo por completo o controlo do carro. Com Vettel e Leclerc de fora, a Ferrari ficava sem qualquer carro no Grande Prémio de Itália pela primeira vez em 25 anos. A saída do monegasco contra as barreiras obrigou a uma bandeira vermelha que interrompeu por completo a etapa e ofereceu espaço e tempo à Mercedes, à McLaren, à AlphaTauri, à Alfa Romeo e à Racing Point para desenhar a estratégia pós-penalização de Hamilton e tentar chegar à vitória.

No reinício da corrida, Lance Stroll perdeu muitos lugares e permitiu que fosse Pierre Gasly, da AlphaTauri, a assumir a liderança da classificação depois de cumprido o castigo por parte de Hamilton. O piloto da Mercedes caiu para a última posição depois de passar os 10 segundos parado e os restantes lugares do pódio eram nesta altura de Raikkonen e Sainz. Até ao fim, Verstappen abandonou, Sainz ainda chegou ao segundo lugar (o melhor resultado da carreira do espanhol), Lance Stroll assegurou a terceira posição — num pódio mais do que improvável, entre AlphaTauri, McLaren e Racing Point — e Hamilton não conseguiu melhor do que ser 7.º depois de ter feito quase metade da corrida em formato remontada.

Lá à frente, Pierre Gasly não deixou fugir a vitória, ganhou o primeiro Grande Prémio da carreira e tornou-se o primeiro francês a vencer uma prova de Fórmula 1 desde Olivier Panis em 1996. Ao mesmo tempo, a AlphaTauri, antiga Toro Rosso, conseguiu o feito impressionante de vencer uma corrida logo no primeiro ano depois da renomeação. Num domingo em que tudo correu (novamente) mal à Ferrari, Hamilton achou que ia ter um autêntico passeio no parque mas acabou traído por uma penalização que engrossou os efeitos do safety car e da bandeira vermelha. Gasly, aos 24 anos, aproveitou tudo isso para entrar na lista da elite da Fórmula 1.