O fim de semana era um como outro qualquer: Premier League, jogo à hora de almoço de domingo, céu cinzento em Inglaterra. Mas existia uma sensação diferente à volta do Tottenham. Uma sensação de renovação, de esperança e de alguma confiança. Que em nada estava relacionada com aquilo que a equipa tem feito dentro do relvado.

Este sábado, de uma vez, o Tottenham anunciou dois reforços de peso: o regresso de Gareth Bale, que volta a Londres sete anos depois de ter saído para Madrid, e a chegada de Reguilón, que os spurs conseguiram desviar do Manchester United e que acabou de conquistar a Liga Europa com o Sevilha. Ou seja, e de um momento para o outro, o Tottenham conseguiu alcançar um nível de topo que escasseava num plantel onde a diferença de qualidade de Kane, Son e Lucas Moura para outros elementos é gritante. Com a perspetiva de uma dupla de ataque com o avançado inglês e Bale e uma defesa reforçada e blindada com Reguilón, os spurs entravam este domingo em campo com a expectativa de que os próximos tempos poderão ser de alegrias.

“Bale is back”: Tottenham confirma regresso de Bale e contratação de Reguilón e Mourinho tem dois reforços num dia

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Contra o Southampton, porém, nem Bale nem Reguilón estavam já disponíveis e Mourinho apostava em Kane, Son e Lucas na frente de ataque, deixando o meio-campo entregue a Winks, Ndombele e o reforço Højbjerg. Ndombele, que foi decisivo na partida a meio da semana contra o Lokomotiv Plovdiv, ao entrar para marcar o golo que colocou o Tottenham na terceira pré-eliminatória da Liga Europa, era a grande novidade nas decisões do treinador português e roubava assim o lugar a Sissoko.

Depois da derrota na jornada inaugural contra o Everton de Carlo Ancelotti, o Tottenham entrou bem e colocou a bola dentro da baliza logo nos instantes iniciais: Son abriu em Doherty na direita e o lateral ex-Wolves assistiu Kane, que com um remate acrobático bateu McCarthy (3′). O lance, porém, acabou anulado por fora de jogo do sul-coreano no início da jogada. Num jogo muito mexido e sem grandes períodos mortos, sempre disputado a alta velocidade, o Southampton ficou perto de marcar logo depois, quando Lloris evitou o golo de Che Adams com uma enorme defesa (9′).

A senda dos golos anulados apareceu na baliza contrária ao passar do primeiro quarto de hora, quando Danny Ings marcou na sequência de uma má abordagem de Lloris mas dominou com a mão pelo meio (16′). E como não há duas sem três, Harry Kane ainda voltou a ver um outro golo invalidado depois de um fora de jogo de Lucas, que fez a assistência (27′). E no meio do festival do VAR, acabava por ser o Southampton a tomar a dianteira da partida: eram os saints que estavam mais adiantados no relvado, com as linhas mais subidas e um entrosamento assinalável entre toda a equipa, apostando sempre em lances mais rendilhados para chegar perto da baliza do Tottenham. Do outro lado, a equipa de José Mourinho estava entregue principalmente aos contra-ataques e à procura da profundidade nas costas da defesa adversária, com especial predileção pela velocidade de Son junto ao lateral Walker-Peters.

O inaugurar do marcador — de forma válida, pelo menos — apareceu pouco depois da meia-hora e caiu para o lado do Southampton, que estava a ser a melhor equipa em campo. Walker-Peters, com um passe longo, descobriu Danny Ings a entrar na grande área e o avançado só precisou de dois toques para assinar uma finalização brilhante com um remate cruzado (32′). A equipa de Ralph Hasenhüttl colocava-se em vantagem, de forma merecida, mas não conseguiu ir a ganhar para o intervalo, já que Son empatou o resultado já nos descontos com um pontapé cruzado depois de um passe a rasgar de Kane (45+2′). O sul-coreano marcou no primeiro remate válido que o Tottenham fez à baliza de McCarthy durante toda a primeira parte, o que não deixava de ser uma pista para o que se tinha passado em St. Mary’s até ao intervalo.

Na segunda parte, Mourinho tirou Ndombele para lançar Lo Celso e a entrada do Tottenham não poderia ter sido melhor: logo nos instantes iniciais, Son voltou a receber de Kane e atirou de pé esquerdo quando só tinha o guarda-redes do Southampton pela frente (47′). Sul-coreano e inglês são a dupla mais prolífera da Premier League desde que Son chegou a Inglaterra, em 2015, e já levam 23 golos em conjunto. Hasenhüttl lançou Oriol Romeu, Mourinho respondeu com a entrada de Lamela mas os protagonistas da partida estavam escolhidos.

Pela terceira vez no jogo, Kane serviu Son com um passe na profundidade e o sul-coreano teve a paciência necessária para esperar pela saída de McCarthy e rematar cruzado para completar o hat-trick (64′). As contas não estavam fechadas e Son ainda foi a tempo de marcar o quarto golo — novamente com assistência do avançado inglês, como não podia deixar de ser — a pouco mais de um quarto de hora do apito final (73′). Até ao fim, Kane também marcou, com uma recarga oportuna (82′), e Ings bisou por intermédio de uma grande penalidade (90′), deixando o resultado final dos 2-5.

Com uma segunda parte absolutamente demolidora, o Tottenham não deu qualquer hipótese ao Southampton e assentou na dupla letal formada por Son e Kane. A equipa de José Mourinho recebeu dois reforços este fim de semana e tem uma esperança renovada: mas é a sociedade do costume que continua a salvar o dia dos spurs e que acabou por garantir a primeira vitória na Premier League esta temporada.