Helena Silva trabalha na José Maria da Fonseca, casa do vinho Periquita, há 42 anos. “Quando comecei, estava a fazer 20 anos. Vim por iniciativa própria, porque não entrei na faculdade e achei que devia trabalhar.” Como morava perto, e a empresa estava em fase de evolução, achou que seria uma boa hipótese. “Lembro-me de chegar à receção e pedir para falar com o administrador: António Francisco Avillez. Não o conhecia, mas recebeu-me e foi muito simpático. Na altura, não havia uma vaga compatível, mas deixei o meu currículo e, passados uns tempos, chamaram-me.” Inicialmente, fez substituições de poucos meses de colaboradoras de baixa médica, primeiro na secção de recursos humanos (na altura, secção de pessoal) e, mais tarde, na área comercial (hoje logística). Num desses momentos, acabou por ficar, mesmo quando a colega regressou. “Fiquei a dar apoio ao chefe de escritório, na área da contabilidade. E quando a secretária do diretor financeiro se foi embora, fui convidada a ocupar o seu lugar. Hoje em dia, ainda estou ligada à área administrativa e ao diretor financeiro.”

Desde há alguns anos que podemos encontrá-la na receção dos escritórios da José Maria da Fonseca, em Azeitão. Foi convidada a acumular as suas funções anteriores com este lugar quando a colega se reformou, e, uma vez mais com a garra que lhe é característica, aceitou o desafio.

Enfrentar o inesperado

Esta capacidade de se adaptar e cumprir o que lhe é pedido é, aliás, uma constante na sua vida. Há uma história que conta que é mais um exemplo desta sua característica e que, além disso, a ajudou a ter noção do impacto do nome Periquita no meio vinícola e não só.

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Há algumas décadas, Helena Silva pertencia a uma escola de samba de Sesimbra e tinha uma colega que andava a cavalo na casa de uns amigos. “Disse-lhe que também gostaria muito de o fazer e pedi-lhe que, um dia, me levasse. Apesar de nunca ter andado a cavalo.” O seu desejo tornou-se realidade e, num fim de semana, a amiga convidou-a a acompanhá-la. Deu-lhe umas dicas breves de como se deveria fazer para que o animal obedecesse às suas indicações e seguiram. O problema surgiu quando, afinal, não foram para a quinta habitual, mas sim para um outro local, onde acabaram por lhe perguntar se tinha alguma prática. “Eu disse que sim, mas o responsável desta outra quinta perguntou-me onde e com quem. Como eu sabia que um dos administradores do Periquita o fazia, disse que trabalhava aqui e dei a entender que acompanhava a cavalo esse administrador. ‘Ah, então temos cavaleira’, disse ele. ‘Porque, se for como o Periquita…’. Marcou-me, porque foi só ouvir falar no Periquita e fui totalmente aceite.” A aventura não correu da melhor maneira, já que Helena e a amiga eram as primeiras num cortejo das festas das vindimas. “Foi horrível, as ruas em Palmela são empedradas, o cavalo escorregava e eu sempre cheia de medo de cair. No dia seguinte estava toda partida!”, ri-se.

Guardadora de memórias

Por ser a mais antiga, é a Helena Silva que recorrem muitas vezes para saber “coisas do antigamente”, algo que a enche de orgulho. Tem fresca na memória a chegada dos primeiros computadores, por exemplo, e do desafio (outro) que implicou aprender a usá-los. “Quando vim trabalhar para cá, usavam-se máquinas de escrever manuais, depois as elétricas e mais tarde os telexes. O primeiro computador foi, para mim, uma dor de cabeça. Deram-me umas disquetes com informação que era necessário enviar para os fornecedores e colaboradores da empresa e quase chorei, porque nunca tinha trabalhado com um. Fui para casa e, na altura, uma irmã mais nova ainda estava a estudar e tinha um manual do word que eu li à noite para, no dia seguinte, saber como se fazia. E consegui! Em todas as etapas pelas quais tenho passado, tenho sido bastante autodidata.”

Apesar da sua paixão pelas Belas-Artes — a área que escolheria, caso tivesse prosseguido com os estudos —, não se vê a trabalhar noutro sítio. Além disso, faz parte da casa e tem acompanhado o crescimento da família Periquita. “Nestes anos todos, tem havido uma grande evolução da empresa, quer em termos de estrutura, quer dos vinhos.  O Periquita era tinto, agora é também branco e rosé”, diz. Gosta de todos, mas admite predileção pelo tinto, se é que se pode falar de favoritos quando se está há 42 anos a ver crescer o mesmo projeto, e o futuro ainda trará, com toda a certeza, mais uma mão cheia de desafios.