Os Estados Unidos da América estão a expulsar crianças migrantes de outros países para o México. As expulsões começaram há cerca de oito meses, quando a administração de Donald Trump impôs novas medidas de restrição para conter a propagação do novo coronavírus no país.

A situação foi denunciada através de um e-mail da Patrulha de Fronteiras dos EUA, ao qual o The New York Times teve acesso. De acordo com o jornal, 200 crianças não acompanhadas, oriundas de vários países, entre os quais o Guatemala, Honduras e El Salvador, foram reencaminhadas para o México depois de tentarem atravessar a fronteira. A maioria terá sido colocada ao cuidado das autoridades mexicanas por não terem ligações familiares no país.

Recentemente, identificámos vários casos suspeitos em que menores não acompanhados de países que não o México foram expulsos através dos portos de entrada em vez de se referirem às Operações Aéreas da ICE para voos de expulsão”, escreveu Eduardo Sanchez, chefe assistente da Patrulha de Fronteiras.

As expulsões violam um acordo entre os dois países que estipulava que apenas crianças mexicanas ou com supervisão de adultos poderiam ser deportadas para o México. “Note-se que se não forem corrigidas, estas ações colocarão as operações do Título 42 [do estatuto federal de saúde pública] em risco significativo e devem ser suspensas imediatamente. Para reiterar, em circunstância alguma deve um menor não acompanhado de um país que não seja o México ser conscientemente expulso para o México”, continuou Sanchez.

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O chefe de Patrulha de Fronteiras do Rio Grande Valley, Brian Hastings, admitiu numa entrevista a expulsão de crianças não mexicanas justificando que sem tais medidas haveria “quantidades maciças de infeções [do novo coronavírus]” e “mais uma vez” se encheria um hospital.

De acordo com dados da organização de direitos humanos Women’s Refugee Commission, pelo menos 208 crianças da América Central foram “devolvidas” às autoridades mexicanas entre 21 de março e 5 de junho deste ano.

Os Estados Unidos da América têm sido duramente criticados pelas suas políticas de migração e controlo de fronteiras, especialmente no que diz respeito a crianças. Desde o encerramento de fronteiras devido à pandemia, as autoridades americanas já expulsaram mais de 2000.000 pessoas do país — 8.800 das quais menores de idade.

Há cerca de duas semanas foi divulgado, pela NBC News, um relatório da União Americana pelas Liberdades que apontava que os advogados responsáveis por identificarem famílias separadas na fronteira com o México ainda não conseguiram localizar os pais de 545 crianças.