Joe Biden só fará o juramento como Presidente dos Estados Unidos da América a 20 de Janeiro. Mas, a avaliar pelas ideias que defendeu durante a campanha, adivinha-se que procurará implementar uma política mais “verde”, com forte enfoque no sector automóvel.

O antigo vice-presidente de Obama é um entusiasta de carros, sobretudo de clássicos, mas não tem uma visão conservadora desta indústria. Ao contrário de Trump, Joe Biden vê com bons olhos um país ambientalmente mais responsável, pelo que quer lançar as bases para a descarbonização mais profunda e radical da história dos EUA. Ao todo, nos quatro anos da sua presidência, pretende alocar 400 mil milhões de dólares na transição energética.

Parte dessa verba destina-se a libertar os EUA da dependência do carvão e do petróleo até 2035, por via do investimento em energias renováveis. Uma clara ruptura face a Trump que, segundo a Universidade de Harvard, optou por anular mais de 70 leis pró-ambiente, relativas sobretudo a sectores da indústria pesada, como a mineração e a produção de energia.

No extremo oposto, Biden pretende não só regressar de imediato ao Acordo de Paris, como também retomar a política de redução das emissões de dióxido de carbono que Obama implementou e que Trump reverteu, alegando que assim estaria a tornar a indústria mais competitiva. Recorde-se que, na presidência de Obama, foi estabelecido como meta que as emissões de CO2 deveriam baixar 3,5% por ano entre 2017 e 2021 e, depois, 5% a cada ano entre 2022 e 2025. A Califórnia estava autorizada a definir limites mais apertados, sendo seguida por outros 12 estados norte-americanos, o que deu origem a alguns desentendimentos com a administração Trump quando este quis “aliviar” as metas que os construtores estavam obrigados a cumprir.

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Outra das promessas do democrata de 77 anos de idade passa por retirar milhões de veículos poluentes da estrada, substituindo-os por alternativas menos poluentes por via do reforço dos estímulos para a aquisição de veículos eléctricos, através de créditos fiscais. De momento, o Governo federal subsidia os carros eléctricos com uma redução de impostos para o consumidor de 7500 dólares, benesse essa aplicada para os primeiros 200 mil carros eléctricos de cada construtor. A ideia de Biden é alargar o volume (fala-se em 600 mil unidades a bateria para cada fabricante) e, por outro lado, favorecer a venda de automóveis produzidos nos EUA – se bem que não esteja claro como é que esse apoio seria atribuído.

O que parece certo é a aplicação de um programa de descontos para o “ferro-velho”, isto é, oferecer dinheiro para trocar carros velhos por novos modelos eléctricos. Segundo alguns órgãos, a estratégia deverá passar por recuperar o antigo plano de Obama, distribuindo pelos norte-americanos 450 mil milhões de dólares para que os condutores locais se desfaçam do seu antigo automóvel e o troquem por um a bateria com “descontos” a partir de 3000 dólares.

A acompanhar a expectável adesão dos consumidores locais a veículos 100% eléctricos, fruto dos mencionados incentivos, Joe Biden planeia reforçar a rede de postos de carga, passando das actuais 87.600 estações para 500.000 até 2030. Os transportes públicos também terão de fazer parte da operação de “limpeza” do ambiente, sobretudo as empresas que exerçam a sua actividade em áreas urbanas com mais de 100 mil habitantes. Aí a intenção é promover a mudança gradual para veículos menos poluentes. Mas também é suposto o Executivo dar o exemplo, pelo que se espera que a frota ao serviço dos governantes dos EUA tenda a deixar, progressivamente, uma menor pegada ecológica.

Com tudo isto, resta saber como é que Biden vai compatibilizar uma economia “verde” com a criação de postos de trabalho, para mais com a precariedade trazida pela pandemia. Fonte próxima do democrata garante que o recém-eleito Presidente “sabe que a indústria automóvel é essencial para o futuro da economia (norte-americana)” e assegura que, sob a sua presidência, será criado 1 milhão de novos empregos na área automóvel por via do shift para a electrificação. Os prometidos novos postos de trabalho vão de uma ponta à outra, isto é, dos fornecedores aos fabricantes, passando pela infra-estrutura.