Era um Grande Prémio de despedidas. A despedida do Mundial 2020, o mais atípico desde que há memória. A despedida de Chase Carey, CEO da Fórmula 1, que vai deixar o cargo este ano. A despedida de Sebastian Vettel da Ferrari, depois de seis temporadas que ficaram muito abaixo das expectativas e antes de rumar à Aston Martin. A provável despedida do nome Williams da modalidade, depois de a família britânica ter vendido a histórica equipa a meio da época. E também a despedida de Lewis Hamilton do ano que o tornou, a par de Michael Schumacher, o piloto com mais Mundiais conquistados na história da Fórmula 1.

Mas também não deixava de ser um Grande Prémio de boas vindas. As boas vindas ao ano e ao Mundial 2021, que se espera menos imprevisível e adiado. As boas vindas a Mick Schumacher, filho do antigo piloto alemão, que vai integrar a Haas na próxima temporada. As boas vindas da Ferrari a Carlos Sainz, que vai substituir Vettel e fazer dupla com Leclerc. As prováveis boas vindas da Red Bull a Sergio Pérez, mexicano da Racing Point que ainda não tem lugar na grelha de 2021 mas cujas negociações com a equipa de Verstappen estão bem encaminhadas. E também as boas vindas de Lewis Hamilton ao ano que o pode tornar, acima de Michael Schumacher, o piloto com mais Mundiais na história da Fórmula 1.

O Grande Prémio de Abu Dhabi era o último de uma temporada que já tinha campeão e assinalava precisamente o regresso de Lewis Hamilton à competição, depois de o piloto britânico ter falhado a corrida do domingo anterior por ter testado positivo para a Covid-19. Com os exigidos testes negativos, Hamilton voltava ao Mercedes que na semana passada foi conduzido por George Russell — mas garantia que ainda não estava totalmente recuperado. “Estava determinado a correr, porque é isso que um piloto faz. Não vai ser das corridas mais fáceis de gerir em termos físicos mas vou dar tudo. Sinto muito por quem perdeu alguém para este vírus. Eu não estou a 100%. Ainda sinto algo nos pulmões e os dois últimos dias no carro foram os piores deste ano. Um dos sintomas relaciona-se com a tua energia. O vírus retira-te muita e por isso tenho tentado dormir o mais que posso. Também perdi peso mas apesar de não estar a 100% vou dar tudo o que tenho”, explicou Hamilton.

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Na qualificação, Max Verstappen foi o mais rápido e ficou com a única pole-position da temporada, seguido por Bottas e Hamilton. Sergio Pérez, depois de vencer o GP de Sakhir no domingo passado, arrancava da última posição do grid depois de a Racing Point ter sido forçada a mudar o motor do carro. No arranque, o holandês da Red Bull segurou a liderança e deixou os dois Mercedes na retaguarda, seguidos de perto por Alexander Albon e pelos McLaren. Na box, com o passar das voltas, a Mercedes pedia a Bottas que intensificasse o ritmo para fechar a distância para Verstappen e ouvia Hamilton dizer que não tinha andamento suficiente para perseguir os dois da frente.

A dada altura, Sergio Pérez viu interrompida a última corrida pela Racing Point graças à pressão de óleo no motor. A avaria do mexicano levou a um safety-car virtual, numa primeira fase, e a um efetivo para retirar o carro de pista. Os três da frente aproveitaram para mudar para pneus duros, Verstappen segurou novamente a liderança quando relançou a corrida e Hamilton, em terceiro, era já pressionado por Albon. Nesta altura, Vettel era mesmo o melhor Ferrari, algo que raramente aconteceu ao longo do ano, e circulava alguns lugares acima de Leclerc, que ia tendo algumas dificuldades fora do top 10.

Com o passar das voltas, Verstappen ia aumentando a vantagem e percebia-se que os dois Mercedes não iriam mesmo ter andamento para roubar a vitória ao Red Bull. Numa corrida sem grandes picos de adrenalina, o piloto holandês andou quilómetros e quilómetros em terra de ninguém e os principais pontos de interesse do pelotão eram as lutas pelos lugares abaixo de Alexander Albon, entre Ricciardo (que fez a volta mais rápida), Norris, Sainz, Gasly e Vettel. À chegada às 40 voltas, Ricciardo, em quinto, era o único piloto que ainda não tinha parado e parecia querer levar o jogo de pneus duro até ao limite — sendo que Vettel parou pela primeira vez instantes antes do australiano, para trocar os duros por médios, depois de a Ferrari adiar a ida do alemão às boxes mais do que uma vez.

Até ao fim, poucas surpresas. Verstappen venceu o Grande Prémio de Abu Dhabi, seguido por Bottas e Hamilton, com os três pilotos a repetirem o pódio que a Fórmula 1 mais vezes viu este ano: só que, desta vez, a vitória não foi do inglês e o holandês não ficou no degrau mais baixo, terminando a temporada no terceiro lugar da classificação geral e atrás dos dois Mercedes. Albon, que pode ter-se despedido da Red Bull se as negociações com Pérez chegarem a bom porto, resguardou tranquilamente o quarto lugar, com Norris, Sainz e Ricciardo logo depois — uma conjugação que garantiu à McLaren o terceiro lugar da competição de construtores. Já Vettel, na última corrida pela Ferrari, acabou em 14.º e fora dos pontos, sem ter conseguido recuperar depois de ter parado.

O Mundial 2020, o mais estranho de sempre, acabou este domingo em Abu Dhabi. Segue-se o Mundial 2021, onde Hamilton pode voltar a fazer história se entretanto renovar pela Mercedes, onde Verstappen vai continuar a perseguir a melhor equipa da grelha, onde Sainz vai mostrar o que vale na Ferrari e onde Fernando Alonso vai voltar à Fórmula 1 pelo volante da Renault.