“O partido foi extinto no Tribunal Constitucional mas os objetivos mantêm-se os mesmos: lutar pelo socialismo”, diz Carmelinda Pereira quando desafiada a relatar qual o simbolismo da decisão do Palácio Ratton ao anunciar a extinção do Partido Operário da Unidade Socialista — POUS –, fundado em 1979 e agora oficialmente extinto.

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POUS. Partido acaba, mas o trabalho continua

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O POUS não concorre a eleições desde o ano de 2015, o que decreta oficialmente o fim de um partido político. Ao longo dos 41 anos de existência, Carmelinda Pereira liderou 11 candidaturas às eleições legislativas, tendo obtido pouco mais de 4500 votos na ultima ida às urnas, em 2011, numas em que o PSD de Pedro Passos Coelho ficou em primeiro lugar, mas conseguiria por ser António Costa a conquistar o poder através da chamada “geringonça”. O melhor resultado do POUS foi em 1983 com pouco mais de 19.600 votos.

Ainda assim, e à parte da justificação jurídica, Carmelinda Pereira assegura que “a figura de um partido político já não responde à realidade social dos dias de hoje. É preciso uma nova forma de organização para podermos prosseguir a mesma intervenção pela defesa das conquistas da Revolução de Abril”, diz a fundadora do POUS, que acrescenta ainda que “o abandono de partido político para a transformação numa associação” foi a estratégia encontrada para “prosseguir com os objetivos de lutar pelo socialismo”.

Fundado por Aires Rodrigues e Carmelinda Pereira, o POUS nasce de uma cisão de militantes do Partido Socialista. Os dois fundadores foram expulsos do PS depois de terem votado contra um Orçamento do Estado liderado por Mário Soares e que consideravam estar “subordinado às imposições do Fundo Monetário Internacional”. Na decisão de expulsão, o secretariado socialista considerou que os dois dirigentes representam uma “infiltração trotskista dentro do PS”. 

Agora transformado em associação política, Carmelinda Pereira assegura que “com outros militantes há trabalho que está a ser feito”, isto porque, “continua sem existir um verdadeiro partido que represente os trabalhadores” e não coloca “nenhum obstáculo à articulação entre a luta de classes”, deixando a porta aberta para a representação do POUS numa coligação liderada por um outro partido politico.

“Extrema-direita é espuma dos dias”

Com o cenário partidário bem diferente de 1979, quando o POUS foi fundado, Carmelinda Pereira desvaloriza ainda assim o crescimento de partidos considerados de extrema-direita. “Esses partidos não nos impressionam. São a espuma dos dias. O obstáculo não está nesses partidos, é subjetivo, é a capacidade dos trabalhadores irem superando os problemas que controlam o seu crescimento”, diz Carmelinda Pereira, que entre risos acrescenta que “não é preciso haver preocupação com estes partidos de extrema-direita”.

Em época de eleições presidenciais, a fundadora do Partido Operário da Unidade Socialista também ensaiou duas candidaturas, mas acabaria por desistir por não ter recolhido as 7500 assinaturas necessárias à formalização. Nessa altura disse que “oficialmente não sou candidata, mas politicamente sou” e agora com o fim do partido mantém que “a existência do POUS é uma conquista por si só, porque é o produto de uma rutura que soube sair de forma organizada e que não se dissolveu, que decidiu prosseguir o combate sem desarmar. A principal marca é que não nos desligámos e continuamos no combate”, diz já em nota de despedida, em que garante ainda que “os militantes do POUS não estão sozinhos, de maneira nenhuma”.