A recuperação da Zona Euro deverá arrastar-se um pouco mais no tempo, segundo o Fundo Monetário Internacional, que acredita agora num crescimento económico de 4,2% este ano entre os países da moeda única, menos um ponto percentual (p.p.) do que previa há apenas três meses. Para 2022, espera agora um crescimento de 3,6% de PIB, uma revisão em alta de 0,5 p.p., mas insuficiente para compensar a diferença do ano anterior.

Estas alterações do FMI, divulgadas na atualização do World Economic Outlook, refletem “o abrandamento observado da atividade no final de 2020, que deverá continuar no início de 2021 face ao aumento de infecções e de novos confinamentos”.

O problema das previsões neste inverno começa, desde logo, na Alemanha, que deve crescer 3,5% este ano (arrefecimento de 0,7 p.p. face à previsão de outubro), e 3,1% no ano seguinte (previsão igual). O motor da economia europeia — e terceiro maior cliente das exportações portuguesas — prolongou entretanto o confinamento de final de janeiro para 14 de fevereiro, mantendo fechadas escolas e jardins de infância, grande parte do comércio, restauração e atividades culturais.

A Alemanha não é, no entanto, caso único, porque as outras três grandes economias da Zona Euro veem agora o FMI rever em baixa o crescimento para 2021. E, embora tenham as perspetivas melhoradas para 2022, apenas França sai reforçada no conjunto dos dois anos.

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O PIB francês deverá subir 5,5% este ano (menos 0,5 p.p. do que o FMI previa em outubro) e 4,1% no próximo (+1,2 p.p). Até fim de janeiro, pelo menos, vai estar em vigor o recolher obrigatório a partir das 18h, os restaurantes estão abertos apenas para take away e as universidades continuam fechadas, tal como espaços noturnos e culturais. Mas, com o agravamento dos números da pandemia, as autoridades francesas já admitem um terceiro confinamento naquele que é o segundo melhor cliente das exportações portuguesas.

Em Espanha, por outro lado, espera-se agora um crescimento de 5,9% este ano (-1,3 p.p.) e 4,5% em 2022 (-0,2 p.p.). Para já, o principal parceiro comercial português impõe um recolher obrigatório, mas cada vez mais dirigentes nacionais e regionais pedem um novo confinamento da população.

Contudo, a recuperação em que o FMI mais perdeu fé (entre os países da moeda única e no G7), foi Itália — em apenas três meses há uma revisão em baixa de 2,2 pontos percentuais para este ano, atingindo um crescimento de 3,0%. No ano seguinte, a economia italiana deverá crescer 3,6% (+1,0 p.p.). O país, que está também embrulhado numa nova crise política, tem três regiões em confinamento total e mantém para já restrições ao comércio e a restaurantes no resto do país.

A atualização do World Economic Outlook traz contas apenas para as maiores economias, mas, tendo em conta a dependência de Portugal face aos parceiros europeus, será expectável que haja também aqui uma forte revisão em baixa. Para já, vale ainda a previsão de 6,5% feita em outubro, que já ficava acima da previsão do Governo (5,4% no OE2021) e que está agora bem distante da nova previsão do Banco de Portugal, feita em dezembro — a entidade liderada por Mário Centeno acreditava que a economia portuguesa iria crescer 3,9% no próximo ano. Todas essas previsões, no entanto, foram feitas antes de o Governo ter anunciado este novo confinamento, que deverá ter, mais uma vez, um forte impacto na atividade económica e nas contas do país.

O menor otimismo do FMI para a Zona Euro contrasta com a tendência das previsões para a economia mundial, que deverá crescer mais 0,3 p.p. do que o previsto em outubro, atingindo 5,5%. Entre os sete países mais ricos do mundo (G7), o PIB dos EUA deverá subir 5,1% este ano, mais dois pontos percentuais do que se esperava; o Japão 3,1% (+0,8 p.p.) e o Reino Unido 4,5% (-1,4%).

Após uma reação “mais forte do que o esperado” da economia global na segunda metade do ano passado, que terá permitido fechar 2020 com uma recessão de 3,5% — menos grave do que se chegou a pensar —, a entidade liderada por Kristalina Georgieva assume um pouco mais de otimismo para 2021 porque “as recentes aprovações de vacinas aumentaram a esperança de uma reviravolta na pandemia ainda este ano”.

Mas o fundo monetário está também preocupado com a nova vaga da pandemia. “Aumento de infecções no final de 2020 (incluindo novas variantes do vírus), novos bloqueios, problemas logísticos com a distribuição da vacina e incerteza sobre a aceitação são contrapontos importantes às notícias favoráveis”, diz o FMI.

Num contexto de muita incerteza, muito dependerá este ano de “como as restrições necessárias para conter a transmissão [do vírus] vão afetar a atividade a curto prazo”, antes que as vacinas comecem a proteger as populações de forma efetiva; de como essa mesma atividade será condicionada pelas “expectativas de vacinação e o apoio às políticas”; e, finalmente, de “como vão evoluir as condições financeiras e os preços das matérias primas”.