A agência de rating Moody’s sublinhou, esta quarta-feira, que a chamada bazuca orçamental da União Europeia (o fundo de recuperação e resiliência) é uma “oportunidade de uma vida” para Portugal, para melhorar o “fraco crescimento potencial da economia” e fomentar a convergência dos rendimentos com a média europeia, que tem oscilado perto dos 80% nos últimos 20 anos. Nesta fase, a agência Moody’s mostra-se confiante de que “a maior flexibilidade no mercado laboral, graças às reformas feitas entre 2011 e 2014“, irá ajudar na retoma, embora “continuem a existir alguns aspetos de rigidez nos mercados de trabalho e de produto que continuam por solucionar“.

Numa apresentação divulgada esta quarta-feira, e comunicada através de um Webinar da agência de rating, Sarah Carlson, vice-presidente da Moody’s que segue o rating da República Portuguesa, lembrou que o “lado positivo” daquilo que foi feito durante o programa de ajustamento da troika é que foram lançadas reformas na legislação laboral, incluindo na “redução de barreiras a que as empresas possam contratar e dispensar trabalhadores”, que na retoma após a pandemia irão “facilitar a realocação do mercado de trabalho e entre as empresas, à medida que a economia recupera”.

As reformas reduziram significativamente o défice da conta-corrente de Portugal e melhoraram a sua resiliência a choques externos. E o apoio da União Europeia é uma oportunidade significativa para acelerar não só o crescimento da economia mas, também, a convergência dos rendimentos”, escreveu Sarah Carlson, vice-presidente sénior da Moody’s.

A expectativa da agência Moody’s, vertida no relatório publicado esta quarta-feira, é que a economia portuguesa deverá crescer 3,7% e 4% neste ano e no próximo, respetivamente, depois da contração de 7,6% em 2020. Existe, porém, uma “enorme incerteza” em relação à evolução da pandemia (designadamente as implicações das novas variantes do vírus) e do processo de vacinação, que “está a decorrer mais lentamente” do que a Moody’s estimava.

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É neste contexto que Sarah Carlson sublinhou que “os subsídios e empréstimos europeus, bem como os fundos SURE [para apoios ao emprego] geram um potencial para duplicar o investimento público em Portugal nos próximos dois anos, ao mesmo tempo que incentivam reformas nos mercados de trabalho e de produto que podem dar um impulso significativo para impulsionar o crescimento potencial e acelerar a convergência dos rendimentos”, que se tem “arrastado” nas últimas décadas, comentou a Moody’s.

A Moody’s lembra que, embora essa média dos rendimentos (per capita) na Europa seja um “alvo em movimento, já que quase duplicou nos últimos 20 anos, outros países da União Europeia tiveram um desempenho melhor do que Portugal na convergência com a média europeia, em particular países da Europa Central e de Leste”.

A agência Moody’s indicou, também, que no setor bancário o facto de Portugal ter dos rácios mais elevados de crédito sob moratória irá fazer com que só em 2022 se torne realmente “visível” o impacto da pandemia sobre os rácios de crédito malparado. Num cenário-base, esse indicador poderá atingir os 9% até 2022, o que compara com os 5,5% que existiam no ano passado.