Há cerca de um ano, em pleno caos pandémico, o poeta catalão Joan Margarit foi diagnosticado com um linfoma. Demorou muitas semanas para poder fazer uma biopsia e os oito tratamentos de quimioterapia que se seguiram não estavam a resultar. Então decidiu parar e entregar-se ao curso da vida e da morte, algo que sempre fez enquanto poeta. E a morte chegou esta terça-feira, dia 16 de fevereiro, na sua casa, em Barcelona, a sua cidade, o seu “último amor”, aos 82 anos.
Neste tempo de sacralização da juventude, pode 82 anos pode parecer muita idade. Muitos chamá-lo-iam “velho” se não conhecem a sua jovialidade viril, a sua agilidade física e mental, a sua poesia que nunca cantou o declínio da velhice e que, mesmo quando cantou o declínio das cidades, o óxido das casas abandonadas, a morte da filha Joana, nunca procurou dirigir-se à morte, mas sempre à vida, aos leitores de hoje e de amanhã. Falando sempre daquilo que é universal, daquilo que é gerador das experiências humanas fundamentais, daquilo que nos torna iguais, com gestos amplos, voz assertiva. Quem assistiu em Portugal, em 2016, à sua conferência no festival Literário Folio e na Casa Fernando Pessoa, onde até cantou um bolero do cantor chileno Lucho Gatica, sabe como era cheio de vida, energia, humor.

A mais recente edição da antologia de Joan Margarit, “Misteriosamente Feliz”
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