Mais de duas centenas de trabalhadores da Groundforce manifestaram-se esta terça-feira no Aeroporto do Porto para denunciar a situação “extremamente grave” que vivem e pedir ajuda ao Governo para salvar a empresa de “handling” (assistência em terra).

Os cerca de 2.400 trabalhadores da Groundforce aguardam ainda pelo pagamento dos salários de fevereiro e receiam a perda dos postos de trabalho, caso seja pedida a insolvência da empresa, depois de não ter sido alcançado acordo entre o acionista privado, a Pasogal (50,1%) e a TAP (49,9%).

Segundo fonte oficial do Ministério das Infraestruturas e da Habitação, as negociações, que já se arrastavam há vários dias, falharam, porque Alfredo Casimiro, dono da Pasogal, não pode entregar as ações como garantia para o empréstimo, uma vez que já se encontram penhoradas.

Em causa estão as negociações para um adiantamento de 2,05 milhões de euros para pagamento de salários em atraso, relativos a fevereiro, que seria feito pela TAP à Groundforce, em que as ações da Pasogal seriam dadas como garantia.

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Vivemos um sentimento de grande injustiça, por sermos uma empresa que sempre deu lucros, em 31 de dezembro 2019 dávamos lucros líquidos de 16,1 milhões de euros, e de repente somos os primeiros a cair e a não ter salários, por causa de uma acionista que nunca pôs um cêntimo na empresa, que sempre lá foi buscar os lucros e agora tem as ações sabe-se lá onde. Mentiu aos trabalhadores, mentiu ao Governo, mentiu a toda a gente”, lamentou Catarina Silva, funcionária da empresa há 16 anos.

“Isto não pode continuar assim, a solução seja ela qual for, a nacionalização ou o privado, que seja uma que mantenha os nossos postos de trabalho e que nos pague os salários, estamos dispostos a dar todos os passos necessários para que isso se concretize”, acrescentou.

“Lá em casa sou eu e o meu marido, o meu marido é funcionário há 23 anos e eu há 16, o nosso rendimento depende todo da Groundforce, é uma situação muito complicada que, se não fosse com a ajuda de alguns familiares, estaríamos provavelmente bem mal com duas crianças em casa”, frisou. Os trabalhadores do Porto e de Lisboa concentrados no exterior do aeroporto do Porto dizem que não vão “baixar os braços”, nem “deixar cair a Groundforce, uma empresa viável, que sempre deu lucros”.

Catarina Silva acusa Alfredo Casimiro de ser “um acionista mentiroso e trafulha que mentiu a toda a gente, inclusive ao Governo de Portugal, que teve a lata de, em direto na comunicação social, dizer que tinha dinheiro para investir na empresa e depois, às três da manhã de um fim de semana, vir dizer que tem a ações penhoradas noutros sítios, isto é uma trafulhice. É gozar com a cara de quem trabalha”.

A funcionária realçou que os trabalhadores “não vão deixar cair a empresa por causa de um trafulha, um vigarista”, referindo que os trabalhadores querem colaborar com o Governo para que faça “tudo o que estiver ao seu alcance para ajudar a salvar os postos de trabalho e os salários”.

Também “indignado”, José Mário Neves disse não compreender “como é que se chegou a este ponto”, lembrando que “nos últimos anos, a empresa deu perto de 45 milhões de lucro. Não há justificação nenhuma para estarmos numa situação destas. Sabemos que a pandemia não ajuda, porque não temos aviões, mas não há justificação para estarmos sem salários”.

“Há famílias inteiras aqui a trabalhar, muitos já estão a passar dificuldades, esperamos que seja possível encontrar uma solução. As partes têm de querer que essa solução apareça e pelo que estamos a ver há negociações, mas não estão a ser sérias, porque todos sabemos que há inverdades, situações ocultas. As ações do nosso acionista maioritário já estão entregues como penhora noutros empréstimos, não sabemos onde, porque ele se recusa a dizer”, afirmou.

A TAP é também acionista da Groundforce, com 49,9% do capital, e o principal cliente da empresa da ‘handling’ (assistência nos aeroportos), e desde novembro tem vindo a fazer adiantamentos à Groundforce, que teve uma grande quebra de receitas devido ao impacto da pandemia no setor da aviação.

Na quinta-feira, em conferência de imprensa, o ministro das Infraestruturas disse que o empréstimo bancário à Groundforce será dado com aval do Estado, realçando que as exigências para o financiamento aguardado serão “as mesmas” que as impostas para o adiantamento pela TAP. Os trabalhadores, que já agendaram nova manifestação para quarta-feira, em frente ao Palácio de São Bento, em Lisboa, vão manter-se hoje concentrados junto ao aeroporto do Porto até à chegada do Presidente da República, prevista para as 13h30.

Marcelo Rebelo de Sousa, que hoje tomou posse para um novo mandato, vai encontrar-se com o autarca portuense e presidir a cerimónia ecuménica, com a participação de representantes de várias confissões religiosas presentes em Portugal.