Quatro dias depois, o mesmo desfecho. O coordenador da Esquerda Republicana da Catalunha (ERC), Pere Aragonès, voltou a não conseguiu reunir os votos suficientes no parlamento catalão para ver o seu governo ser investido, e o impasse político vai prolongar-se na Catalunha. O relógio, no entanto, está em contagem decrescente, e os independentistas têm apenas até 26 de maio para evitar nova ida às urnas no verão.

Apesar de estar em maioria no parlamento catalão, o bloco independentista está a ter dificuldades em chegar a uma solução de governo, com o impasse a explicar-se pelos conflitos entre ERC e Juntos pela Catalunha, o partido do ex-presidente da Generalitat (governo catalão) Carles Puigdemont quanto ao rumo do processo independentista.

“Não consegui encontrar nenhum obstáculo que impeça que votem a minha investidura como presidente da Generalitat da Catalunha”, lamentou durante o debate desta terça-feira Aragonès, citado pelo La Vanguardia, sublinhando que as diferenças entre os independentistas são “mínimas”.

Visão diferente, contudo, tem o Juntos pela Catalunha, que exigiu à ERC que ceda nas negociações. “Assumiremos a nossa responsabilidade, mas é necessária a vossa flexibilidade. Reconheça que tem 33 deputados e não 68”, afirmou Gemma Geis, porta-voz do Juntos pela Catalunha, dirigindo-se a Pere Aragonès.

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Para garantir a maioria no parlamento catalão, composto por 135 assentos, são necessários 68 votos. Na votação desta terça-feira, tal como aconteceu na última sexta-feira, a ERC apenas conseguiu 42 votos a favor — os seus 33 mais os nove da Candidatura de Unidade Popular (CUP). Quanto aos 32 deputados do Juntos pela Catalunha, voltaram a abster-se, com as contas a ficarem encerradas com os votos contra dos restantes 61 deputados do bloco constitucionalista.

Ao contrário do pedido feito pelo Juntos pela Catalunha na última sessão parlamentar, a ERC decidiu voltar a tentar a investidura do governo de Pere Aragonès esta terça-feira, mas o chumbo era praticamente certo, uma vez que o partido de Puigdemont já tinha dito que as suas diferenças não se resolviam em apenas três dias.

No seio das divergências entre os antigos parceiros de governo está o rumo da luta pela independência na Catalunha. Apesar de ERC e Juntos pela Catalunha ambicionarem o mesmo, defendem métodos distintos — enquanto a esquerda catalã defende uma via mais institucional, o partido de Puigdemont exige que o processo seja liderado a partir de um Conselho da República proclamado pelo ex-presidente da Generalitat a partir de Waterloo, na Bélgica, onde está exilado.

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Pere Aragonès, no entanto, deixou claro esta terça-feira que não vai permitir “substituições ou tutelas”, numa clara referência ao Conselho da República — um órgão cujas competências que teria no futuro não são claras —, frisando que a presidência da Generalitat “não pode ser delegada”.

As tensões entre ERC e Juntos pela Catalunha explicam-se também pelo facto de, nas últimas eleições, realizadas em fevereiro, a esquerda catalã ter ultrapassado o partido de centro-direita como o mais votado dentro do bloco independentista, embora a diferença seja de apenas um deputado.

Apesar das divergências, as negociações vão continuar e é expectável que os dois maiores partidos independentistas acabem por chegar a um acordo, apesar de a CUP, de extrema-esquerda, já ter ameaçado retirar o apoio caso haja demasiadas cedências ao partido de Puigdemont. Feitas as contas, mesmo que ERC e Juntos cheguem a acordo, continuam a precisar de pelo menos três votos da CUP.

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A indefinição quanto à formação do novo governo catalão suscitou críticas dos restantes partidos, particularmente dos socialistas chefiados por Salvador Illa, que nas eleições de fevereiro conseguiu os mesmos 33 deputados da ERC e tem defendido uma coligação de partidos de esquerda, englobando a extensão catalã do Podemos, que elegeu oito deputados, hipótese que tem sido rejeitada por Aragonès, que privilegia um acordo entre independentistas.

Caso os partidos não consigam formar governo até ao próximo dia 26 de maio, os catalães terão de ir novamente às urnas em julho.