Mais do que uma luta contra os outros, Miguel Oliveira voltaria a fazer uma luta contra si. Ou melhor, contra as condições que tem. E a grande diferença entre o Grande Prémio do Qatar e o Grande Prémio de Doha, no mesmo circuito de Losail, tinha como principal objetivo subir na classificação para perder menos pontos para os da frente do que propriamente rivalizar com os da frente. Nesse sentido, os dois primeiros dias correram bem.

Os treinos livres foram melhores, a Q1 também e a qualificação ainda mais: Miguel Oliveira sai do 12.º lugar no Grande Prémio de Doha

Depois de ter sido um dos 12 pilotos que rodou abaixo de 1.54 na segunda sessão de treinos livres, realizada já com uma temperatura mais baixa que permitia outra resposta a nível de pneus, o 11.º melhor registo deixou o português à beira da entrada direta na Q2 mas permitiu que ganhasse confiança e outro tipo de armas para brilhar na Q1, onde fez a diferença na última volta lançada conseguindo uma das duas vagas a par de Joan Mir para discutir os primeiros lugares da grelha. Depois, sabendo que as hipóteses de lutar contra as Ducati e as Yamahas eram muito escassas, tentou outras alternativas mas não foi além do 12.º lugar, nunca rodando abaixo de 1.55.

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

Miguel Oliveira faz segundo melhor resultado de uma KTM no Qatar e começa Mundial de 2021 com 13.º lugar

“Estou feliz por termos conseguido passar para a Q2 mas hoje a pista não estava nas melhores condições e lutámos para encontrar a melhor aderência. Foi muito difícil repetir o tempo de sexta-feira. Quando fui para o Q2 tentei uma configuração diferente na minha segunda moto mas não tinha a melhor afinação e ainda por cima o pneu dianteiro vibrava nas curvas para a direita. Foi uma qualificação um pouco melhor mas vamos ver o que acontece amanhã [domingo]. Precisamos chegar rapidamente à frente da corrida e dar o máximo que pudermos, depois temos de ver o que acontece”, comentou o piloto da KTM após a qualificação.

Jorge Martín conseguiu uma surpreendente pole position à frente do companheiro da Ducati, Johann Zarco, com o vencedor da primeira corrida, Maverick Viñales, a fechar a primeira linha da grelha. Aleix Espargaró colocou de novo a sua Aprilia em grande ponto na qualificação (sétimo), as Suzuki não foram além da terceira linha, tudo se resumia novamente à Ducati e à Yamaha. Para Miguel Oliveira, além daquilo que retirou da qualificação, havia também as lições da primeira prova da temporada, onde ganhou quatro lugares na partida, chegou a rodar no top 10 mas “andou para trás” nas últimas voltas pelas dificuldades com os pneus. E era na capacidade de melhorar em cima do que não tinha corrido bem que estava o “segredo” do piloto de Almada nesta segunda prova da época, antes do regresso à Europa e logo com um Grande Prémio de Portugal onde dominou em 2020.

Logo a abrir, a saída. E se no fim de semana passado o português subiu quatro lugares na partida, agora foram nove até à segunda curva, que baixaram para oito depois da ultrapassagem de Aleix Espargaró. Jorge Martín foi lançado que nem uma bala na frente, Zarco colocou-se na roda do companheiro mas era Miguel Oliveira que tinha todo o destaque pela espetacular saída ao contrário de outros teóricos favoritos como Maverick Viñales, Jack Miller ou Fabio Quartararo, que ainda teve a mota a dançar e muito na segunda volta mas conseguiu aguentar-se.

O português sabia que estava em desvantagem em relação a que todos os adversários diretos por usar pneu duro na frente que iria demorar um pouco mais a ficar no melhor ponto mas as trajetórias milimétricas em todas as curvas foram permitindo que o piloto da KTM andasse a partir daí na quinta/sexta posição em despique com Joan Mir. Na frente, brilhavam as Ducati de Martín e Zarco, as Suzuki de Álex Rins e Joan Mir voltavam a mostrar toda a sua fiabilidade em pista (que valeu o título de 2020) e havia mais uma intrusa que era a Aprilia de Aleix Espargaró. A corrida iria entrar numa toada em que as outras Ducati de Bagnaia e Miller tentariam atacar o Falcão, sendo certo também que, no plano teórico, os pneus de Oliveira teriam tendência para durar um pouco mais.

KTM elogia arranque de Miguel Oliveira, Miguel Oliveira lamenta problema na sua KTM: “O mostrador ficou negro, foi pelas sensações…”

A 15 voltas do final, o português já tinha descido para a décima posição. Era a partir daqui que começava a segunda parte da corrida mas as características acabaram por não ser tão diferentes da primeira prova do ano. Aliás, foram até piores: Miguel Oliveira sentiu cada vez mais dificuldades, foi-se afundando na classificação e acabou a defender a última posição nos pontos de Luca Marini ao contrário do que aconteceu por exemplo com Brad Binder, que fez uma corrida sempre regular e conseguiu terminar no décimo lugar como a melhor KTM. Ainda assim, o português estava apenas a seis segundos do líder Quartararo, o que mostrava bem a competitividade desta prova que acabou como se esperava com as Yamaha e as Ducati na luta pelo pódio com as Suzuki mais longe.

Miguel Oliveira terminou mesmo em 15.º, numa corrida ganha por Fabio Quartararo que deixou para trás as Ducati de Johann Zarco e Jorge Martín. Álex Rins melhorou em relação ao último fim de semana, passando de sexto para quarto, enquanto Maverick Viñales acabou no quinto posto. Já Brad Binder, companheiro de equipa do português na KTM, conseguiu ainda subir à oitava posição, aquele que foi o melhor resultado de sempre da marca no circuito de Losail. Zarco, com 38 pontos, é nesta altura o líder do Mundial de 2021.