A ministra da Saúde, Marta Temido, assumiu esta sexta-feira que “pode haver um risco, absolutamente raro, na toma da vacina” da AstraZeneca nas pessoas abaixo dos 60 anos e foi por isso que as autoridades de saúde portuguesas decidiram suspender a administração do produto a pessoas com menos de 60 anos de idade.

Temos de ter confiança na evolução da ciência”, disse Marta Temido, em Odemira, numa visita para acompanhar o processo de testagem à Covid-19 de trabalhadores agrícolas. “A ciência tem um tempo”, insistiu a ministra, sublinhando que é importante que as autoridades de saúde falem “sempre verdade” e transmitam o que sabem e o que não sabem.

Questionada sobre porque é que Portugal não optou por suspender totalmente a administração da vacina da AstraZeneca, Marta Temido sublinhou que o país tem “por vacinar cerca de 2 milhões de pessoas acima dos 60 anos” — pessoas que, pela sua idade, têm maior probabilidade de contrair uma doença Covid-19 mais grave e para quem a vacina “é a melhor opção”.

“Nós nunca sabemos tudo sobre um fenómeno novo, que é uma doença nova, para o qual a melhor resposta continua a ser a vacinação. Há que assumir falar frontalmente às pessoas que nos estão a ouvir lá em casa, que são cada vez mais cidadãos informados, que sabem fazer escolhas em relação à sua saúde”, disse.

“Da mesma forma que lhes pedimos que fiquem em casa, que usem máscara, que se protejam, dizemos aquilo que sabemos sobre esta situação. A vacina é segura e é eficaz”, acrescentou Marta Temido.

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Nas declarações aos jornalistas, a ministra da Saúde sublinhou a importância de seguir e acompanhar as decisões dos peritos. “Eu tomei a primeira dose da vacina AstraZeneca e tenho 47 anos”, exemplificou Marta Temido. “Eu fiz, todos fizemos, aquilo que o médico na altura entendeu que era o melhor para nós.

A ministra da Saúde salientou que a Agência Europeia do Medicamento fez “uma avaliação geral” com base nos relatos enviados pelos países da UE. A partir dessa avaliação geral, as autoridades de saúde de cada Estado-membro fizeram as suas próprias orientações.

Todos sabem que as pessoas com menos de 60 anos têm menos probabilidade de contrair Covid grave, que neste momento há outras vacinas que virão a estar disponíveis em maior quantidade e as situações epidemiológicas dos países são diferentes”, explicou Marta Temido, sustentando que cada país fez a sua análise de risco e benefícios.

“Por exemplo, Portugal neste momento está com uma situação epidemiológica relativamente estável”, acrescentou Temido. “Competirá aos peritos” determinar os próximos passos, com base nas informações novas que chegarem da parte das autoridades europeias.

A ministra da Saúde assumiu também que os países da União Europeia não chegaram a acordo sobre o que fazer relativamente à vacina da AstraZeneca.

“Os países estão todos alinhados no reporte de eventuais reações adversas”, começou por dizer Marta Temido.

“Quando essas reações adversas são consideradas como provavelmente associadas à toma da vacina, essa avaliação é feita e são retiradas consequências. Aquilo que a Agência Europeia do Medicamento, neste caso, nos referiu, foi que há uma forte probabilidade de associação entre alguns efeitos extraordinariamente raros e a toma de vacinas em determinados grupos etários”, continuou a ministra da Saúde. “Aquilo que procurámos foi que todos os países tivessem a mesma posição em termos da interpretação destes efeitos extraordinariamente raros nalguns grupos etários. Não foi possível conseguir esse entendimento técnico das autoridades nacionais.”

“Agora temos de continuar a trabalhar no sentido de se conseguir entendimentos relativamente a outros aspetos. Entendimentos técnicos, porque os peritos nem sempre estão todos de acordo. Na falta de melhor informação, alguns países optaram por manter a suspensão da administração da vacina abaixo dos 60 anos e Portugal foi um dos países que fez essa opção, esperando que rapidamente haja informação complementar sobre os riscos efetivos de subgrupos deste grupo, que permitam afinar este critério”, rematou Temido.

Variante britânica é responsável por 70% dos casos registados em Portugal na última semana

A ministra da Saúde, Marta Temido, revelou que a variante britânica foi responsável por 70% dos casos de Covid-19 registados em Portugal na última semana.

“[A variante britânica] tem uma prevalência estimada de 70% no total do país, para os casos diagnosticados na última semana, mas há uma grande assimetria entre regiões”, disse Marta Temido, sublinhando que Lisboa e Vale do Tejo, a região litoral do Norte e o Algarve têm prevalências mais elevadas.

Marta Temido sublinhou também que na quinta-feira foram realizados mais de 72 mil testes ao coronavírus no país.

“Foi o 11.º dia com mais testes desde o início da pandemia”, disse. “O dia 22 de janeiro foi o dia com mais testes, com 77 mil testes, estávamos no pico da pandemia. Agora estamos a fazer números muito semelhantes.