A farmacêutica AstraZeneca está a planear dar a Pascal Soriot, o presidente-executivo da companhia, um limite mais elevado para os prémios que o gestor poderá receber a longo prazo, na forma de ações da empresa, mas também aumentar o valor em bónus anuais máximos. Os planos estão a ser considerados “obscenos” por três consultoras de investimento, que recomendam aos acionistas da farmacêutica que façam o que estiver ao seu alcance para chumbar estes planos, votando contra na assembleia-geral de acionistas em que o tema irá a discussão.

O plano prevê, segundo o The Guardian, que aumente de 550% para 650% o máximo de valor em ações que Soriot poderá receber, num plano de remuneração de longo prazo, uma percentagem calculada a partir do salário-base anual do executivo que é de 1,3 milhões de libras, o equivalente a 1,5 milhões de euros ao câmbio atual.

Porém, além desse aumento de 550% para 650%, a AstraZeneca também está a propor aumentar o limite máximo anual de prémios de 200% do salário anual para 250% – pressupondo a obtenção de um dado conjunto de objetivos.

As consultoras Pirc, Glass Lewis e Institutional Shareholder Services (ISS) emitiram notas aos seus clientes para que estes, caso sejam acionistas da AstraZeneca, usem os seus direitos de voto para bloquear este plano de aumento dos bónus. E Neville White, um consultor de investimentos da EdenTree Investment Management (e, ele próprio, acionista da AstraZeneca) considerou os planos “obscenos”, assegurando que irá votar contra.

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“Claro que é uma situação delicada, porque Pascal [Soriot] é, neste momento, ao mesmo tempo um herói e um anti-herói”, afirma o investidor, referindo-se, por um lado, ao facto de a AstraZeneca ter desenvolvido, com a Universidade de Oxford, uma vacina contra a Covid-19 mas, por outro lado, ao facto de o percurso da vacina estar a ser atribulado devido aos problemas na produção até aos riscos de que, em casos muito raros, possa contribuir para que os inoculados sofram coágulos trombo-embólicos potencialmente fatais.

A AstraZeneca garantiu que o desenvolvimento e produção da vacina está a ser feito sem fins lucrativos – e Soriot até alegou que, na realidade, a empresa está a perder dinheiro por estar nesta missão. Porém, a polémica em torno do aumento da remuneração do gestor surge numa altura muito conturbada, embora estas questões não sejam novas na AstraZeneca – já antes da pandemia a farmacêutica foi palco de alguma instabilidade acionista devido aos bónus pagos a Soriot e à restante equipa de gestão.

Polémica. AstraZeneca lembra que Reino Unido fechou acordo três meses antes da UE. “Estamos a dar o nosso melhor”

Em janeiro, o presidente-executivo da AstraZeneca pediu um pouco mais de compreensão num processo “inédito na História” que seria impossível correr sem sobressaltos. “Os governos estão sob pressão, toda a gente está a ficar um pouco…digamos… aborrecida e emotiva em relação a este tema”, disse Pascal Soriot, garantindo numa entrevista polémica que é totalmente falso sugerir que a AstraZeneca pudesse estar a “tirar vacinas aos europeus para vender a outros, com lucro”.

Mas porque é que só com a UE está a haver problemas e não com o Reino Unido? “Fechámos acordo com o Reino Unido em junho, três meses antes do acordo com a União Europeia”, lembrou o responsável.

“Só vos posso transmitir factos e os factos são que basicamente assinámos um acordo com o Reino Unido três meses antes de o termos feito com a Europa”. É certo que o facto de ter havido a colaboração com a universidade de Oxford deu algum “avanço” na interação com o governo britânico, mas Pascal Soriot recusa qualquer favorecimento – “eu sou europeu, tenho a Europa no meu coração. O nosso presidente do conselho de administração é sueco, o nosso administrador financeiro é europeu… Queremos tratar a Europa da melhor forma que podemos… Estamos a fazer isto sem lucro, lembra-se?”