O diretor executivo do Serviço Europeu de Ação Externa Gunnar Wiegand afirmou esta segunda-feira que um acordo comercial UE-Índia, cujo relançamento das negociações foi anunciado no sábado, irá permitir “libertar o potencial inutilizado” entre as duas potências.

Um acordo comercial futuro irá permitir-nos libertar o até agora potencial inutilizado da nossa relação comercial com a Índia, que é um dos mercados com um dos crescimentos mais rápidos do mundo, com uma classe média também em rápido crescimento”, sublinhou Gunnar Wiegand.

O diretor executivo do Serviço Europeu de Ação Externa (SEAE) para a Ásia e Pacífico falava numa sessão da Comissão dos Assuntos Externos (AFET) do Parlamento Europeu sobre a reunião de líderes UE-Índia, que decorreu no sábado e que foi organizada pela presidência portuguesa do Conselho da União Europeia (UE).

Abordando a reunião em questão, Gunnar Wiegand referiu que a retoma das negociações de um acordo de livre comércio com a Índia e, em paralelo, a negociação de um acordo sobre proteção de investimentos e outro sobre indicações geográficas, foram as “conquistas chave” do encontro.

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

A UE é o primeiro parceiro comercial da Índia, representamos nada menos do que 11% do comércio indiano, existem investimentos com um crescimento rápido nas duas direções e temos um mercado composto por 1,8 mil milhões de cidadãos, com uma população jovem na Índia”, apontou.

Interrompidas desde 2013, devido a divergências entre as duas partes, a retoma das negociações de um “acordo comercial equilibrado, ambicioso, abrangente e mutuamente benéfico” com a Índia permitirá, segundo Wiegand, “abordar questões pendentes de acesso aos mercados”, especificando a questão da proteção dos investimentos como “uma das exigências de longa data” da UE.

Perante as questões dos eurodeputados da AFET, que interrogaram o responsável pelas razões que levaram a Índia a decidir negociar um acordo comercial com a Europa, mas a abster-se de assinar a Parceria Económica Regional Abrangente (RCEP, na sigla em inglês) — um acordo comercial de livre comércio assinado em novembro de 2020 entre 15 países asiáticos, entre os quais a China —, Gunnar Wiegand sublinhou que os indianos “estão a mudar” e que, “caso não tivessem mudado”, a UE “não teria concordado em retomar as negociações”.

“O lado indiano optou claramente por sair do RCEP (…) porque temeu que as suas indústrias — e talvez os seus serviços — não fossem suficientemente competitivos face à oferta chinesa. E fizeram a escolha estratégica de optarem por estabelecer relações comerciais com economias maduras, como a UE, os Estados Unidos e o Reino Unido”, frisou o responsável.

Sublinhando assim que a UE “aproveitou uma oportunidade importante” para “juntar” os mercados indianos e europeu, o diretor executivo do SEAE acrescentou ainda que “há um potencial enorme” para “desenvolver ainda mais” as relações entre os dois parceiros.

O acordo será abrangente, conforme com (as regras) da Organização Mundial do Comércio (OMC), ambicioso e equilibrado. Ou seja, haverá benefícios para as duas partes”, asseverou.

No sábado, os líderes da UE, reunidos no Porto, reuniram-se por videoconferência com o primeiro-ministro da Índia, Narendra Modi, para uma reunião de líderes UE-Índia, que tinha sido identificada por Portugal como uma das principais prioridades do seu semestre europeu.

À saída, o presidente do Conselho Europeu, Charles Michel, anunciou que os dois parceiros concordaram em retomar as negociações de um acordo de comércio livre, que tinham sido iniciadas em 2007, mas foram interrompidas em 2013 devido a divergências entre as duas partes.

“Uma parceria robusta, baseada em valores comuns e interesses convergentes, irá beneficiar os nossos cidadãos, a região do Indo-Pacífico e o mundo mais vasto. Hoje concordámos em passos concretos para expandir esta parceria estratégica”, sublinhou Charles Michel na ocasião.

A UE é o maior parceiro comercial da Índia e o segundo maior destino das exportações indianas, tendo o comércio entre os dois territórios aumentado 72% na última década.

Atualmente há cerca de 6.000 empresas europeias presentes na Índia, responsáveis por 1,7 milhões de empregos diretos e cinco milhões indiretos.