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Como o Bloco ouviu as palavras de Louçã: Mortágua a ministra ou Finanças mais para a esquerda?

Este artigo tem mais de 2 anos

Francisco Louçã entusiasmou a convenção quando voltou a lançar Mariana Mortágua para um Governo. Dirigentes não levaram à letra, mas acreditam no projeto para as Finanças — em contraste com o PS.

Fundador do Bloco prometeu, durante a sua intervenção, que a força do PS impedirá a direita de chegar ao poder
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Fundador do Bloco prometeu, durante a sua intervenção, que a força do PS impedirá a direita de chegar ao poder

JOÃO PORFÍRIO/OBSERVADOR

Fundador do Bloco prometeu, durante a sua intervenção, que a força do PS impedirá a direita de chegar ao poder

JOÃO PORFÍRIO/OBSERVADOR

A salva de palmas foi imediata. Francisco Louçã estava no palco do Centro de Congressos e Desporto de Matosinhos, onde decorre a XII Convenção do Bloco de Esquerda, quando olhou em frente, sorriu e partilhou uma previsão sua com a audiência. “Quero dizer-vos uma certeza que tenho: quando a Mariana [Mortágua] for ministra das Finanças, o Estado não será um porquinho mealheiro para pagar aventuras como a do Novo Banco”.

A declaração de Louçã continuou, mas esta parte foi suficiente para gerar dúvidas, sobretudo para quem tem a memória da convenção anterior, de 2018, presente. Foi nesse encontro, ainda durante os tempos de geringonça, que os dirigentes do Bloco subiram, um após outro, ao palco para garantir que queriam mesmo fazer parte do próximo Governo. Mariana Mortágua assegurava então que o partido queria e “estava preparado” para dar esse passo; Louçã via o Bloco a viajar, citando Toy Story, “até ao infinito e mais além”. O resto da história é conhecida: o PS cresceu mas não teve maioria nas legislativas de 2019; mesmo assim recusou um acordo com o Bloco e o Bloco votou contra o Orçamento passado. A geringonça ficava enterrada.

Com uma convenção em que as intervenções dos dirigentes se têm dedicado a puxar pelo Bloco enquanto partido de oposição dura — sem fechar a porta a negociações, mas colocando a fasquia alta — a previsão soou, assim, fora de tom. Estaria Louçã a relançar a narrativa sobre o Bloco querer saltar para o Governo? E porquê nesta altura, quando o partido parece endurecer e demarcar-se do PS?

Em 2017, Louçã já lançava Mortágua -- com quem assinou dois livros -- para um hipotético Governo. Mas o partido deixou cair essas ambições do discurso oficial

JOÃO PORFÍRIO/OBSERVADOR

A interpretação é unânime junto das fontes bloquistas ouvidas pelo Observador em Matosinhos, durante o segundo dia de convenção: as declarações do fundador são para ouvir com atenção, mas não para serem levadas à letra. Por outras palavras: Louçã, que é próximo de Mortágua (até têm dois livros publicados em conjunto), puxava não necessariamente pela hipótese de a deputada poder vir a ser ministra (mesmo que acredite nisso), mas antes pelas diferenças do projeto do Bloco — especialmente nas Finanças — em relação ao PS e no que o partido poderia fazer se tivesse oportunidade de aplicar com mais influência esse projeto: o Bloco tem de se atrever a mostrar que tem um projeto para a área que está, no fundo, no centro do poder.

Em entrevista à rádio Observador, foi essa hipótese que José Manuel Pureza, dirigente e colega de Mortágua na bancada parlamentar, reforçou: “Ouvi a intervenção de Louçã como uma manifestação de confiança num projeto político, numa força política, que a Mariana representa muitíssimo bem, e uma grande determinação desta força política no seu combate contra desmandos do sistema financeiro. A Mariana representa isto tudo e todo o país percebe isso”. Outras fontes concordam com a leitura do Pureza: Louçã terá conseguido, com a sua intervenção, salientar algumas das mais importantes “diferenças que marcam o confronto com o PS”, sublinha um dirigente.

Se os tempos servem para mostrar uma posição exigente em relação ao PS, o tema escolhido para o demonstrar não é inocente — nem o timing. Desde logo, o tema do Novo Banco, que o Bloco colocou como linha vermelha no último Orçamento do Estado, voltou a aquecer recentemente, graças à auditoria do Tribunal de Contas revelada este mês. Mas também graças às audições parlamentares aos devedores do Novo Banco que se têm sucedido no Parlamento e nas quais Mortágua, como já tinha acontecido na comissão de inquérito ao colapso do BES em 2015, ganha destaque — a deputada já tinha dado sinais de exasperação quando Fernando Negrão, presidente daquela comissão parlamentar, decidiu esta semana terminar mais cedo a audição ao ex-presidente da Ongoing Nuno Vasconcellos por este se ter recusado a admitir dívidas.

A dívida que não é dele (é da empresa dele que faliu). A estranha audição ao “devedor” Ongoing que os deputados desligaram

O Bloco acredita que esta postura e o destaque dado a Mortágua ajudam a alavancar a posição do BE e a dizer o que o partido sempre quis dizer: que tinha razão quando defendeu o travão nas injeções ao Novo Banco — e que a população perceberá isso — e que o seu projeto para uma área tão relevante como as Finanças pode ser compreendido.

Louçã explorou, de resto, o tema mais a fundo durante a sua intervenção, já depois de ter lançado Mortágua pela segunda vez — a primeira foi em 2017, no mesmo ano em que disse, em entrevista ao Expresso, que “o Bloco prepara ministros”. Nessa dimensão projetada pelo fundador do partido, “dívidas de 500 milhões de euros não serão tratadas como traquinices garantidas por um palheiro ou uma mota de água. Pois digam-me: não deveria o Governo recusar a pirataria financeira? Não deveria o Governo proteger quem paga impostos? Não deveria cuidar do bom uso da coisa pública?”.

Como se não fosse clara a diferença para o PS, continuou: “Quando o PS ameaça uma crise política para pagar à Lone Star, não preciso de vos explicar o que é o parasitismo. Cada dia que passa percebemos a falta que faz um ministério das Finanças que defenda o povo”.

Mariana Mortágua: Bloco não existe para ser “fantoche” de António Costa

O remate: “O combate do Bloco nas Finanças mostra o que será o Governo que irá atrás do favorecimento e da corrupção. É disso que o país precisa, é da hora da esquerda”. Mesmo que a tal hora da esquerda não seja concretamente, ou para já, a hora de Mariana Mortágua no Governo, para o Bloco é hora de mostrar as vantagens do seu projeto por oposição ao do PS, e no caso das Finanças o timing serve bem. E para Louçã foi também hora de animar a convenção, que o aplaudiu com entusiasmo.

Mesmo assim, nem todos ficaram satisfeitos com a referência a ambições maiores da parte do Bloco: o histórico — e crítico da direção — Mário Tomé avisaria horas depois que o BE deve estar sempre “do lado da luta dos explorados e espezinhados”… “mesmo que isso não deixe a Mariana ser ministra das Finanças”.

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