O vice-presidente da Comissão Europeia (CE) Frans Timmermans apelou este sábado a uma mudança política em Budapeste, criticando o primeiro-ministro húngaro, Viktor Orbán, por ignorar “valores fundamentais” europeus.

“Temos de dizer ‘Não’ a Orbán. Temos de garantir que a Hungria vai noutra direção””, disse Frans Timmermans durante uma reunião do Partido Socialista Europeu, que está a decorrer este fim de semana em Berlim, capital da Alemanha.

Lembrando o Plano de Recuperação da UE e o acordo verde, Timmermans defendeu que estas medidas serão apenas “palavras vazias” caso os “valores fundamentais” europeus não sejam respeitados.

O vice-presidente da CE acusou Orbán de tentar “colocar no seu bolso” e dos “seus amigos” os fundos europeus, esquecendo os húngaros, de acordo com a agência de notícias espanhola EFE.

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Além disso, acusou também o primeiro-ministro de “não respeitar os valores fundamentais” do bloco comunitário.

Os húngaros, defendeu Timmermans, têm o seu “maior e mais profundo problema com este homem”.

As críticas públicas a Orbán têm-se ouvido nos últimos dias, com vários responsáveis europeus a condenarem o governante por ter aprovado uma lei homofóbica que proíbe falar sobre orientação sexual nas escolas.

O primeiro-ministro português António Costa, o espanhol Pedro Sánchez, o francês Emmanuel Macron, a alemã Angela Merkel e o luxemburguês Xavier Bettel foram alguns dos responsáveis políticos que se opuseram publicamente.

Neste coro de críticas, destoaram apenas a Polónia e a Eslovénia, e de alguma forma a Lituânia, que saíram em defesa da Hungria, recorda a EFE.

Perante esta tomada de posições, a vice-presidente do Parlamento Europeu, a social-democrata alemã Katarina Barley, criticou a Hungria, mas também a Polónia e a Eslovénia.

“Alguns parceiros abandonaram as bases. Falo da Hungria e da Polónia, mas a Eslovénia também está a seguir o mesmo caminho ultimamente. Estão em jogo valores fundamentais”, alertou, citada pela agência de notícias EFE.

À entrada para a cimeira do Conselho Europeu na quinta-feira, o primeiro-ministro português, com os ‘pin’ da União Europeia e do movimento LGBT na lapela defendeu: “Portugal tem uma posição clara e não é neutral. A posição de Portugal é de clara rejeição de qualquer prática discriminatória e, aliás, toda a legislação que nós fizemos foi precisamente para eliminar, não só as práticas discriminatórias, mas para combater as práticas discriminatórias e designadamente homofóbicas”.

António Costa reagia ao facto de Portugal não ter assinado uma carta sobre os direitos LGBT na Hungria, entretanto subscrita por 17 Estados-membros da União Europeia (UE), por ter um “dever de neutralidade” enquanto presidência do Conselho da UE, segundo as palavras da secretária de Estado dos Assuntos Europeus, Ana Paula Zacarias.

Referindo que a posição de Portugal e da presidência do Conselho da UE são “coisas completamente distintas”, António Costa frisou que “a função das presidências é a de procurar promover o acordo, o consenso e o trabalho em comum entre os diferentes Estados-membros”.

“E, portanto, quando há divergências entre os diferentes Estados-membros, a tradição de todas as presidências é não tomar partido. Mas isso é a função da presidência, outra coisa é a posição de Portugal. Sobre a posição de Portugal essa é absolutamente inequívoca, clara”, reiterou.

Num dia em que os 17 Estados-membros publicaram a carta em questão — que endereçaram à presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, ao presidente do Conselho Europeu, Charles Michel, e ao próprio António Costa, enquanto atual presidente do Conselho da UE — o primeiro-ministro adiantou que, “se a presidência fosse outra”, teria “seguramente subscrito a carta”, mas “não fazia sentido” assinar uma carta que lhe era endereçada.