“Eles eram o casal vizinho de velhinhos simpáticos. Depois, apareceu o primeiro corpo”. É assim que o The New York Times começa por descrever o caso que está a chocar o Irão. Em maio, Akbar Khorramdin, de 81 anos e Iran Mousavi, de 74, mataram o filho, Babak Khorramdin, um realizador de cinema de 47 anos. Como era filho, arriscavam uma pena máxima de 10 anos de cadeia por este crime. Contudo, o caso mudou de figura, e pena a ser atribuída, quando os dois confessaram que este não foi o seu primeiro homicídio.

Há três anos, Akbar e Iran terão também matado também a filha. Sete anos antes disso, já tinham assassinado o marido desta, alegaram também. Confessam tudo agora e só pelo assassinato do genro podem sofrer a pena máxima para um crime cometido no Irão: ser condenados à morte.

Todos os crimes foram levados a cabo a sangue frio: drogaram as vítimas, sufocaram-nas, esfaquearam-nas e desmembraram-nas, dizem as autoridades. Agora confessaram tudo o que fizeram, mas dizem que não estão arrependidos.

Não tenho consciência pesada por nenhum dos assassinatos“, diz Akbar Khorramdin, antigo coronel reformado do exército. “Matei pessoas que eram moralmente muito corruptas”, referiu numa entrevista na televisão iraniana após a detenção. Já Iran, dona de casa, é mais contida nas palavras, mas parece também não mostrar arrependimento: “O meu marido sugeriu e eu concordei. Tenho um ótimo relacionamento com meu marido. Não me bate, nem me ofende.

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O casal só foi detido porque o corpo de Babak foi descoberto. A polícia foi chamada a Ekbatan, um subúrbio de Teerão, depois de alguém ter visto partes de um corpo humano num caixote do lixo – duas mãos. Com esses membros, a polícia usou as impressões impressões digitais e identificou a vítima, contou o The Guardian em maio. Depois, vieram as confissões pelos “crimes de honra”.

Há quem questione se Khorramdin e Mousavi estão a dizer a verdade. Não obstante, o caso tem levado os iranianos a questionarem porque é que a polícia não abriu uma investigação quando a filha do casal desapareceu. “Independentemente do que o pai alega estar certo ou não, é claro que a polícia foi negligente em não investigar o destino de duas pessoas desaparecidas (a filha e o seu marido)”, disse o jornalista iraniano Maziar Khosravi, citado pelo jornal britânico.

Sinais de vitória na prisão por parte de um pai que quis fazer a sua justiça pela “honra”

Como conta o The New York Times, o caso está a causar alguma comoção no país. Por um lado, há quem diga que a lei que pune o homicídio de filhos com apenas até 10 anos de prisão tem de ser mudada. Por outro, a lei é assim devido à forma como a cultura do país olha para pais, “reverenciado-os como figuras santas”, refere o mesmo jornal.

Akbar Khorramdin não está a facilitar a vida a quem o quer defender. Da prisão, surgiram fotografias do homem a fazer um sinal de vitória com a mão. De acordo com alguns órgãos de comunicação social locais, alegou recentemente que matará os dois filhos mais velhos se for libertado.

Tanto Akbar como Iran disseram que mataram os filhos e o genros devido à vida que levavam. Acusam o filho de ser agressivo e dizem que se aproveitava dos pais, vivendo às suas custas. Além disso, manteria relações fora do casamento com estudantes. Já a filha, dizem, era viciada em drogas e bebia álcool. O genro, esse, também era agressivo e, além disso, traficaria drogas, alegam.

Por outras palavras, dizem que estavam a proteger a “honra” da família ao fazer o que alegadamente fizeram. No país, este tipo de crimes tem sido capa de jornais. Só no último ano, um irmão e primos de um homem de 20 anos mataram-no por este ser homossexual e um pai decapitou a filha de 14 anos por esta ter fugido com o namorado.

Porém, como qualquer história insólita, há sempre mais pormenores que vão sendo descobertos. Recentemente, foi revelada uma gravação de áudio de Iran, já na prisão, em que a mulher diz que, afinal, o marido lhe batia e chega a acusá-lo de ter violado a filha que matou.

Na sequência destes assassinatos, tem sido pedido ao Parlamento iraniano que altere o Código Penal para aumentar a punição que os tutores do sexo masculino enfrentam por homicídio.