Foi logo nos instantes iniciais da visita do Wolverhampton ao Arsenal, em novembro. Willian, brasileiro dos gunners, bateu um canto do lado direito e em direção à grande área que, na altura, ainda era território de Rui Patrício. Ao primeiro poste, David Luiz apareceu a tentar cabecear e Raúl Jiménez surgiu a tentar impedi-lo. O choque violentíssimo entre os dois jogadores deixou o avançado inconsciente: Jiménez saiu de maca, foi operado nas horas seguintes e não voltou a jogar durante o resto da temporada, regressando aos treinos só mesmo para trabalhar à parte e ganhar algum ritmo já nas últimas semanas de 2020/21.

Passou o verão, Raúl Jiménez foi melhorando e intensificando o aguardado regresso, o Wolverhampton trocou Nuno Espírito Santo por Bruno Lage e Rui Patrício por José Sá e ainda alargou o contingente português com o empréstimo de Trincão. O avançado mexicano voltou aos golos num particular de pré-época contra o Stoke City e voltou à Premier League nove meses depois, ao integrar o onze de Lage na derrota dos wolves contra o Leicester no passado fim de semana.

Raúl Jiménez choca de cabeça com David Luiz, é assistido dez minutos, sai de maca e é levado para o hospital

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

Esta terça-feira, Jiménez falou pela primeira vez de forma totalmente franca e aberta sobre o incidente do passado mês de novembro que quase lhe custou a carreira — e a vida. Numa conferência de imprensa via Zoom, com vários meios de comunicação britânicos, o avançado mexicano começou por dizer que voltou a sentir-se “um jogador” e que os médicos lhe garantiram que era “um milagre” ter sobrevivido de forma imediata ao impacto do choque e depois à cirurgia a que foi submetido.

“Tinha uma fratura craniana. O osso quebrou e havia um pequeno sangramento dentro do cérebro. Estava a empurrar o meu cérebro para dentro e por isso é que a cirurgia teve de ser feita tão rápido. Foi um grande trabalho dos médicos. Eles disseram-me os riscos que corria desde o primeiro momento. Têm de dizer a verdade e temos de aceitar. A fratura craniana demorou mais do que o esperado a sarar mas é um milagre estar aqui”, explicou o jogador de 30 anos, que saiu do Emirates consciente e responsivo mas de maca e a receber oxigénio.

Raúl Jiménez não tem qualquer memória do choque com David Luiz — nem sequer do próprio jogo. “Lembro-me de chegar ao estádio, de deixar as minhas coisas no balneário, de ir com os meus colegas ver o relvado e depois de voltar ao balneário. A partir daí, as luzes apagam-se. Não me lembro de mais nada. Consigo lembrar-me de acordar no hospital e de outras coisas de quando lá estive mas nada é realmente nítido”, garantiu o mexicano, que passou 10 dias internado antes de receber alta e voltar para casa. Enquanto estava no hospital, Jiménez pediu para ver o acidente que o havia colocado ali.

“Pedi ao fisioterapeuta que me enviasse vídeos de diferentes ângulos do relvado. Queria ver o que tinha acontecido. Porque para mim era como se nada tivesse acontecido, porque não me lembro de nada (…) Foi normal. Nunca me senti assustado. Às vezes vemos vídeos de uma fratura do tornozelo ou da tíbia e sentimos aquilo, nem sequer é connosco mas sentimos no nosso corpo. Comigo não é a mesma coisa porque foi chocante. O impacto e depois a queda no chão. Mas não me assustou. Queria mais vídeos de lados diferentes, para ver ângulos diferentes. Quem é que estava a marcar, se não dei dois passos para a frente. Eu vou atacar a bola e à última da hora dou dois passos para a frente e tenho de saltar para trás”, contou.

Raúl Jiménez deixa o hospital e regressa a casa

O avançado mexicano que passou pelo Benfica referiu ainda que nunca colocou em causa a possibilidade de acabar a carreira, até porque encarou o problema como “uma lesão no tornozelo ou no joelho” e esteve sempre “confiante” de que ia voltar aos relvados. Jiménez regressou à competição a usar uma proteção na cabeça, algo que garante que não usaria se a decisão fosse só sua, porque se sente “bem o suficiente para jogar sem nada”, mas que foi uma linha vermelha imposta pelos médicos e pelos cirurgiões para continuar a jogar futebol. Por fim, revelou que vários jogadores do Leicester o cumprimentaram durante o jogo do passado sábado e explica que ainda tem um limite ao número de cabeceamentos que pode fazer em cada treino.

“A primeira vez que voltei a cabecear estava sozinho com o fisioterapeuta, nos primeiros dias da pré-época, e estava nervoso. Fui à bola com cuidado. Não com medo mas a saber que ia cabecear daquele lado da cabeça pela primeira vez por isso tinha de ter cuidado. Mas quando o fiz percebi que nada tinha acontecido por isso a próxima vez apareceu e fiz a mesma coisa que fazia antes. Vou ter um limite nos treinos durante mais alguns meses. Se eu quiser saltar e cabecear para devolver a bola a um colega, claro que o posso fazer. Mas não posso dizer ‘ok, passa-me a bola para eu cabecear’. Tem de existir um limite, para meu bem. Antes, queria sempre treinar cruzamentos e cabeceamentos. Agora também posso fazer isso mas tenho de fazer outros exercícios, não pode ser só cabeceamentos”, terminou.