Os apoios extraordinários para os desempregados nos EUA, que foram alargados com a pandemia e a rede de salvação para muitos norte-americanos, chegaram ao fim esta segunda-feira, deixando 7,5 milhões de pessoas sem qualquer ajuda para fazer face ao desemprego. O presidente dos EUA, Joe Biden, acredita que os apoios já não são necessários e que a economia está a recuperar empregos. Mas a variante Delta e a resistência à vacinação tornam muito incerto o ritmo de recuperação económica, com apelos de alguns democratas para que os subsídios sejam prolongados.

Essa, porém, não é a convicção de Biden, que já disse não estar disponível para pedir ao Congresso um novo reforço dos apoios, segundo o The New York Times. Essas ajudas não foram consensuais desde o início. Com a pandemia, o governo federal — ainda com Donald Trump — optou por dar um subsídio extra igual para os desempregados de todos os Estados: inicialmente de 600 dólares, o valor baixou para os 300 dólares num novo pacote de 1,9 biliões de dólares aprovado em março deste ano, atribuídos a par do próprio subsídio de desemprego, de outras ajudas para trabalhadores tradicionalmente excluídos das redes de apoio ou do prolongamento de subsídios de desemprego.

A argumentação de muitos republicanos e empresários era que esses apoios, por serem demasiado generosos, estavam a desincentivar a procura de emprego, com os negócios a reportar dificuldades de contratação nos últimos meses. A situação levou Biden a pedir ao Departamento do Trabalho que garantisse que os desempregados que recusassem ofertas de emprego perdessem o direito aos subsídios. Mesmo assim, muitos Estados — na sua maioria republicanos — anunciaram o fim dos apoios ainda antes de o pacote aprovado em março expirar.

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Mas, no outro lado da barricada, muitos democratas e economistas argumentam que o problema não são as ajudas no desemprego e sim os baixos salários. Outros fatores têm sido apontados para a escassez de mão-de-obra: os elevados custos das creches, o encerramento de algumas escolas, que obriga os pais a tomar conta dos filhos em casa, o medo de ser infetado ou a saída do mercado de trabalhadores mais velhos que voltaram a trabalhar após a anterior crise financeira, mas que conseguiram poupar algum dinheiro desde então para se reformarem. Acresce que, segundo estudos citados pelo The New York Times, os estados que puseram um fim antecipado aos apoios não viram o emprego recuperar face ao resto do país.

Com a decisão da Casa Branca de não apoiar um prolongamento, 7,5 milhões de pessoas ficam sem qualquer ajuda perante o desemprego e três milhões perdem o suplemento semanal de 300 dólares. Com milhões de pessoas dependentes destes subsídios, alguns democratas pedem a extensão dos apoios. Mas Biden não concorda com essa visão.

Segundo o The New York Times, o presidente dos EUA e os seus conselheiros económicos têm recusado pedir ao Congresso um prolongamento dos benefícios, acreditando que com a retirada dos apoios, mais pessoas vão voltar ao trabalho e receber um salário que lhes permitirá estimular o consumo interno. Biden insiste que a economia não precisa de outro pacote de curto prazo e lembra que se mantêm apoios — nomeadamente aos progenitores — que vão continuar a garantir uma rede de segurança.

Ainda assim, o presidente norte-americano apelou ao estados com taxas de desemprego mais elevadas para que continuem a ajudar os desempregados de longa duração com recurso ao pacote de março. Só que, até ao momento, nenhum estado se comprometeu com essa decisão.

Biden está agora, escreve o jornal norte-americano, mais focado na aprovação de um pacote de outros biliões de dólares, mas de longo prazo: que passa por investimentos em infraestruturas, em creches, na educação e no ambiente.