Manhã abafada em Alvalade, Lisboa. Duas horas de passeio, muitos quilómetros feitos ora em círculo, ora avenida abaixo, avenida acima, alguma dose de improviso, cerca de 25 apoiantes, as inevitáveis bandeirinhas e t-shirts de campanha.

Primeiro dia oficial de campanha em Lisboa, primeira mini-arruada da Iniciativa Liberal. Líder do partido presente, candidato propriamente dito nem por isso. Na ausência do rosto do partido em Lisboa, Bruno Horta Soares, coube a João Cotrim Figueiredo, líder da Iniciativa Liberal, assumir as despesas da casa num dos palcos de combate eleitoral mais importantes para o partido. Principais alvos deste primeiro embate: o “autocrata” Medina, naturalmente, mas, e sobretudo, Moedas.

JOSÉ FERNANDES/OBSERVADOR

A IL sabe que uma excessiva bipolarização da corrida autárquica pode hipotecar as hipóteses do partido de eleger o primeiro vereador em Lisboa e vai fazer de tudo para furar essa narrativa. Depois de ter dado uma nega pública a Carlos Moedas, depois do piscodrama em torno da desistência do primeiro candidato, depois das sondagens que sugerem uma aproximação de Moedas a Medina, Cotrim Figueiredo mantém a confiança inabalável na escolha que o partido fez: teria sido um erro juntar-se a uma grande coligação de direita para tentar derrotar Medina.

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“O único voto útil é na Iniciativa Liberal. A cada entrevista, a cada debate, está patente para todos: [na candidatura de Moedas], não há energia, não há força, não há capacidade real de fazer oposição”, atirou Cotrim Figueiredo no final da ação de campanha.

Confrontado com o apoio público da estrela da direita espanhola Isabel Ayuso a Carlos Moedas, divulgado pelo Observador esta terça-feira, Cotrim não resistiu a uma pequena dose de provocação. “É mais fácil a Carlos Moedas arranjar apoios externos do que apoios internos”, ironizou.

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No seu primeiro dia de campanha oficial em Lisboa, Bruno Horta Soares acabou por ceder o palco a João Cotrim Figueiredo. O candidato da Iniciativa Liberal a Lisboa tinha agendada uma ação de contacto com a população na freguesia de Alvalade, mas acabou por juntar-se apenas às 13h18.

Mais de uma hora depois do previsto, o candidato lá surgiu, de fato azul, camisa branca, sapatilhas da mesma cor, com três listas, duas azuis e uma vermelha, as cores do partido.

A ausência do candidato foi explicada por motivos profissionais e acabou por ser resolvida com uma espécie de flash interview, onde Horta Soares garantiu estar “muito entusiasmado” com a hipótese de eleger “o primeiro vereador liberal” e prometeu devolver respeitabilidade ao executivo lisboeta. “As pessoas não confiam na Câmara Municipal de Lisboa”, rematou.

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Uma hora antes, Cotrim Figueiredo calcorreava para cima e para baixo as principais ruas da freguesia de Alvalade. Fosse num café, fosse num talho, fosse numa mercearia, o líder da IL trocava meia dúzia de palavras, perguntava pelos principais problemas dos comerciantes e as respostas eram invariavelmente as mesmas: dificuldades de estacionamento, excesso de ‘taxas e taxinhas’ e muita burocracia.

Cotrim Figueiredo, fato cinzento, camisa azul-bebé, sapato preto de fivela, aproveitou o embalo para defender a agenda do partido (menos impostos, menos burocracia) e ainda arriscou uma ida à farmácia a la Marcelo, embora tenha recusado simpaticamente a sugestão de comprar um fortimel. Aos jornalistas falaria ainda do aeroporto e de como era importante avançar já com a solução Portela+Montijo.

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Nas ruas, à exceção das caras conhecidas com que os dirigentes do partido se foram cruzado, a reação foi entre o morno e a indiferença. A Iniciativa Liberal — o líder, o símbolo, as cores — ainda não é facilmente reconhecida nas ruas e as demonstrações genuínas de entusiasmo são uma raridade.

Olha, é a Doutora Ana!”, ouviu-se a partir da esplanada do Jacaré Paguá. Ana Pedrosa-Augusto, ex-advogada de Madona, ex-Aliança, agora número dois por Lisboa, devolveu o cumprimento com um sorriso e uma aceno. E a caravana seguiu.

Uma exceção num primeiro dia de uma campanha que terá também esse obstáculo: chegar às pessoas para lá da bolha mediática e das redes sociais. Resta saber se conseguirão.

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