Cerca de duas centenas de juízas afegãs querem abandonar o país por causa das ameaças e pressões que têm sofrido por parte do regime talibã, que libertou muitos dos criminosos que estas mulheres condenaram. Pelo menos oito poderão ser acolhidas em breve com os seus maridos e filhos pelo Brasil, que já emitiu 30 vistos humanitários, disse ao Observador o presidente da União Internacional de Juízes, o juiz Igreja Matos.

O recém eleito presidente desta organização internacional alertou logo para este problema na sua tomada de posse em Roma, há cerca de duas semanas, quando tentou sensibilizar todos os países para acolherem estas mulheres. Mais recentemente o juiz desembragador do Tribunal da Relação do Porto assinou uma carta conjunta com a presidente da Associação Internacional de Mulheres Juízes, Susan Glazebrook, em que ambos alertam para os facto de estas mulheres estarem “em risco” não só pelo seu género, mas pelos casos que tiveram em mãos.

União Internacional de Juízes exorta países a retirar e acolher magistradas

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Ao Observador, Igreja Matos explica que com a libertação de vários criminosos talibãs, o risco é ainda maior. Isto porque foram  algumas das juízas que os condenaram. Já para não falar das mulheres que estão em tribunais de Família e Menores e que em muitos casos lhes retiraram os filhos para dar às mães.

São pessoas com formação, muitas tiveram formação nos EUA e em Inglaterra. Julgaram talibãs. Estão envolvidas em processos muito fraturantes”, explica o juiz português, lembrando que a matéria é muito sensível e que não se pode dar grandes pormenores sobre estes casos, porque elas podem sofrer ainda represálias.

Para já, diz, “útil é haver sensibilização” para que os países possam ajudar estas magistradas. “Há uma semana eram 204, algumas já saíram. Há agora vistos para oito juízas e famílias, num total de 30, no Brasil. Estamos a encontrar as melhores soluções para conseguir que saiam em segurança, o que é muito difícil”, refere o magistrado, que lembra que esta não é uma questão corporativa e que há outras mulheres e homens ligados à justiça que também correm riscos.

“Estamos a tentar encontrar mecanismos para que possam sair do país, mas também que tenham uma oportunidade no país de asilo, para que tenham condições para elas. Que não seja uma situação precária”, afirma, ressalvando que dificilmente estas mulheres podem ser colocadas nas magistraturas de outros países, não só pelas diferenças culturais como da própria legislação. Mas que é urgente que os países ajudem estas mulheres e que lhes dêem soluções a médio prazo para que consigam encontrar uma vida noutro lugar.