Primeiro, foram as drogas. Francesco Spagnesi, padre numa paróquia da cidade de Prato, na região italiana da Toscânia, foi detido a 14 de setembro, por suspeitas de tráfico de droga. Em causa estava a compra de cocaíne e GBL — substância conhecida como “droga da violação”, por levar rapidamente à perda de sentidos — na Holanda, que seriam posteriormente revendidas em Itália. Agora, o pároco vê um novo crime a somar-se à lista de possíveis acusações que já pendem sobre si: a de ter provocado “danos graves” a outros, ao ter sexo desprotegido em festas, apesar de saber que era seropositivo.

A notícia foi avançada pelo Ministério Público local e citada por vários jornais italianos, que dão conta de que a casa onde Spagnesi vivia há dois anos já foi alvo de buscas. Esta pertence a um outro homem, com quem o padre mantinha uma relação e que ajudaria Spagnesi a traficar a droga e a vendê-la em festas sexuais organizadas por ambos. Segundo o Il Giornale, o companheiro do padre foi entretanto submetido a um teste de HIV, depois de a procuradoria ter descoberto que Spagnesi era seropositivo e que, alegadamente, teria tido relações sexuais desprotegidas nessas mesmas festas, não informando os parceiros sexuais do seu estado clínico.

Ainda segundo o mesmo jornal, duas das 30 pessoas que participaram nas festas, que decorriam em média de semana a semana, já informaram as autoridades que testaram positivo entretanto. Os procuradores sublinham ainda que o padre já estava a par do seu diagnóstico há cerca de dez anos e que manteve relações desprotegidas várias vezes ao longo deste período. Se for condenado por ter provocado “danos graves” a outrém, Spagnesi pode enfrentar uma pena de prisão de 6 a 12 anos.

O advogado do pároco afirma que “era sabido” que Spagnesi era seropositivo: “O ponto é que, para esta acusação, necessitamos de assumir duas coisas: a de que ele não cumpria os tratamentos e portanto estava contagioso e a de que ele teve sexo desprotegido”, declarou Federico Febbo, citado pelo Il Messaggero.

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Vício sustentado com dinheiro da paróquia. Bispo ordena ano sabático

O advogado do pároco tem prestado várias declarações aos jornais e admite que Francesco Spagnesi tinha “uma vida dupla”. “O uso em massa de cocaína fez com que ele se desligasse da realidade”, afirmou Febbo ao Il Fatto Quotidiano. “Ele diz que quer desintoxicar-se, começar um novo caminho”.

Terá sido o uso de cocaína que levou a que Spagnesi cometesse outro dos crimes pelos quais está acusado: o desvio de cerca de 200 mil euros das contas da paróquia. Segundo o Il Fatto Quotidiano, Spagnesi estava desde abril impedido de aceder à conta da igreja por ordens superiores. Isso não o terá impedido de continuar a alimentar o seu vício, pedindo dinheiro aos fiéis. O padre garantia que os fundos serviriam para ajudar os mais afetados pela crise económica provocada pela pandemia de Covid-19, mas afinal seriam gastos em cocaína.

A diocese de Prato já reagiu oficialmente ao escândalo. O bispo responsável, Giovanni Nerbini, publicou um vídeo no site da paróquia onde garante que colaborará “ao máximo” com as autoridades. No mesmo vídeo, a que o site especialista em temas religiosos Crux teve acesso, o bispo explica que já sabia que Spagnesi estava a lidar com problemas pessoais, razão pela qual Nerbini lhe impôs que fosse acompanhado por um terapeuta, mas garante que não sabia que se tratava de toxicodependência.

Foi na sequência desse tratamento que a estrutura da Igreja se apercebeu dos valores desviados. Em junho, o bispo retirou-lhe as funções na paróquia e ordenou-lhe que tirasse um ano sabático: “Achava que estava a fazer um serviço de caridade”, justificou o bispo. Três meses depois, Spagnesi foi detido.