“O Bebé é um exemplo de vida. Um exemplo de vida”. Já na Cidade do Futebol, em conversa com os muitos jornalistas presentes, Jorge Braz voltou a destacar os 17 jogadores que estiveram no Mundial (16 mais Edu, guarda-redes que falhou a fase final após ter contraído Covid-19 em vésperas da viagem para a Lituânia), o seu carácter, o facto de serem Homens a sério que montaram uma base para juntar agora o Campeonato do Mundo ao Europeu. No entanto, reforçou também aquilo que o guardião foi na vitória, uma espécie de herói improvável olhando para o trajeto que fez nos últimos anos. Voltou, viu e venceu.

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“O que pensei na final? São muitas emoções, no jogo com a Argentina só queríamos que o tempo corresse e o tempo estava sistematicamente a parar. Depois aquela bola que no último segundo vai ao poste, salta para o Erick e ele chuta para a frente. Depois aí pensei que sim, que este título já não nos escapava. O objetivo foi cumprido”, comentou o jogador que no currículo soma uma Liga dos Campeões, sete Campeonatos, seis Taças de Portugal e oito Supertaças entre Sporting e Benfica, onde passou mais de uma década antes de sair para os Leões de Porto Salvo em 2017 e passar a lutar por outros objetivos. “Com 38 anos sabia que ia ser muito difícil estar aqui mas com a ajuda de todos consegui”, acrescentou Euclides Gomes Vaz, conhecido no mundo do futsal como Bebé, que tem também um restaurante para gerir.

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“Foi um momento complicado depois de ter saído do Benfica, onde passei 11 anos. Ir para uma realidade nova mas para um clube como os Leões de Porto Salvo, que me recebeu muito bem. Sabia que o nível ia baixar um bocadinho e que tinha de lutar contra isso. Foram momentos em que acordava às 6h30 para ir treinar, depois ir trabalhar durante o dia, e voltar a treinar durante a noite, fazer isto sistematicamente… A verdade é que sou o único jogador não profissional destes 17 guerreiros, e para mim tem um sabor muito especial”, salientou, recordando também a mãe, a mulher, os filhos, a família e todos os técnicos com quem foi trabalhando nestes últimos anos após ter deixado o Pavilhão da Luz.

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Os novos campeões mundiais de futsal viajaram esta manhã de regresso a Portugal, onde aterraram pouco antes das 13h já depois de terem feito a parte final do trajeto escoltados por F16 e de terem aquele banho já em terra, recebendo depois o primeiro banho de adeptos à saída do aeroporto onde se juntaram dezenas e dezenas de pessoas com família e amigos próximos de jogadores e restantes elementos. Próxima paragem? A Cidade do Futebol. Mais cânticos, mais danças, a imagem de um abraço carregado de simbologia entre Fernando Santos, selecionador de futebol, e Jorge Braz, homólogo do futsal.

Os Xutos e Pontapés e “A minha casinha”, aquela música que tantas vezes se ouviu nos pavilhões quando Portugal marcava no Mundial, voltou a marcar presença quando a equipa entrou na zona da Cidade do Futebol onde haveria um dos momentos altos do dia, quando o capitão Ricardinho colocou o troféu junto à taça do Europeu. “Começa a ficar demasiado pequeno para o que se consegue. Nesta casa trabalha-se com exigência, com confiança, com ambição”, comentaria mais tarde o selecionador nacional, num momento em que alguns jogadores e o próprio Jorge Braz falaram à imprensa antes do almoço e da ida para o Palácio de Belém, onde toda a comitiva seria depois recebida pelo Presidente da República.

“Foi um andar para trás no filme seis meses, ter tomado a decisão de me operar para poder jogar o meu último Mundial. Sabíamos que ia ser no limite, ia ser uma recuperação muito difícil. Parece que o Homem lá em cima tinha uma coisa guardada para nós. Lutámos e está aqui a taça connosco. Inspiração em 2016? Toda a gente sabe que a nossa Seleção de futebol é a nossa fonte de inspiração. Ganhámos o Mundial, foi tocar mais uma vez o céu e espero que consigamos nós agora inspirar a seleção de futebol. Lágrimas? Quando ouvia o hino, quando comecei a sentir na pele tudo o que tive de passar para poder estar com os meus companheiros neste momento e não consegui conter a emoção. Vim o caminho todo a chorar até ao pavilhão, mas foi o culminar de um estágio, de uma preparação brutal. Conseguimos da melhor maneira possível”, comentou Ricardinho, passando ao lado da possibilidade de fazer ainda o Europeu daqui a três meses e relativizando mais um prémio individual de MVP que recebeu.

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“Ainda não estamos bem cientes do que conquistamos e da grandiosidade deste feito para o futsal e para o desporto nacional. São emoções fortes, nenhum de nós tem noção do feito que conseguiu. No jogo da final com a Argentina estava muito tranquilo. Fomos estrategicamente muito inteligentes, soubemos sofrer e a partir do momento em que no jogo com a Espanha a bola vai ao poste e não entra, fez-nos lembrar a Eslovénia, a estrelinha estava lá. Fizemos depois um grande jogo com a Argentina e merecemos este troféu”, referiu João Matos, admitindo também que o golo do empate na meia-final com o Cazaquistão foi psicologicamente duro mas reforçando que o grupo teve a melhor resposta às adversidades.

“O nosso patamar é este, agora queremos estar aqui de forma sustentada, contínua. O título de 2018 não podia ser uma questão de momento, queremos estar nas finais e assim podermos alcançar os títulos. Vamos lutar por estar em finais e lutar por títulos. Palavras nos descontos de tempo? Não sou ator, sou honesto e genuíno, mostro o que me vai na alma. Este grupo foram 17 homens fantásticos, gente de caráter que estabelece um objetivo e que vai com tudo. Queríamos muito trazer a taça. Houve muito festejo, muito salto, muita alegria. Não houve palavras. É uma satisfação enorme perceber que temos capacidade para estar a este nível e queremos continuar. Quando disse que faltava o clique para sermos campeões do Mundo, sempre houve trabalho de qualidade. Esse crescimento permite-nos ter jovens atrevidos, que acreditam no nosso trabalho. Esse clique não se dá num momento, é um processo”, disse Jorge Braz.