Mesmo com a saúde financeira muito debilitada, talvez uma não saída de Leo Messi do Barcelona tivesse feito com que equipa catalã conseguisse fazer passar a crise pelos intervalos da chuva e, mesmo que algo surgisse na imprensa ou fosse tornado público, haveria sempre o campo, Messi e os colegas. Não foi assim. Messi saiu, o Barcelona está um caos, os resultados não são bons e as finanças não estão melhores, nem nada que se pareça. E foi este último ponto que Ferran Reverter, diretor-geral da equipa catalã, disse quando apresentou os resultados de uma auditoria ao clube na passada quarta-feira. Estimando que o clube precisará de cinco anos para conseguir “balancear” a situação, Reverter explicou ainda que a liderança do anterior presidente, Josep Maria Bartomeu, deixou o clube “com um património negativo e em situação de quebra contabilística, com um fluxo de caixa nulo e com dificuldade para pagar inclusivamente os salários”. Dizem os números que, em cerca de quatro anos, as dívidas do Barcelona passaram de 158 para 675 milhões de euros.

Com ainda tanta coisa por dizer e/ou por explicar, coube ao presidente Joan Laporta, não que não o tenha feito anteriormente, principalmente para defender o treinador Ronald Koeman, dar a cara, esta sexta-feira, numa entrevista à RAC1.

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O líder dos culés muito disse, mas há um sound bite e uma ideia fundamental, mesmo que possa ser considerada estranha: ter confessado esperança de que Messi jogasse de borla. “Não me chateei com Messi, que tanto estimo e aprecio, mas chega um momento em que ambas as partes sentem que não vai funcionar e existe alguma deceção de ambos os lados. Sei que ele tinha um desejo enorme de ficar mas também havia muita pressão da oferta vinda de Paris. Creio que sabiam [Messi e os seus representantes] que se não ficassem aqui iam para o PSG. Mas sim, tive a esperança que à última da hora houvesse uma mudança e ele me dissesse: ‘jogo de borla’. La Liga teria aceitado, mas não podemos pedir a um jogador do nível de Messi que fizesse isso”. Laporta afirmou ainda que nunca pensou “reverter” o que estava a fazer, achando que era “o melhor para o clube”. “Nada pode colocar em risco a instituição”, disse. “Messi já tinha a oferta do PSG e toda a gente sabia que era uma grande oferta. Exigir algo com o que tem agora em Paris…”, referiu em declarações reproduzidas pelo Sport.

O clube “não tinha margem” para o “melhor futebolista do mundo”, até porque, e tal “como tinha dito Ferran Reverter”, a gestão do clube “era baseada em improvisação e contratações que não se podiam pagar. Foi nefasta”.

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Messi saiu assim para jogar com Verratti, Di Maria, Donnarumma, Hakimi, Nuno Mendes, Mbappé ou Neymar… que o Barça “tentou”. “Ainda não tínhamos os resultados [da auditoria] e pensávamos ter mais margem de endividamento. Tentámos [contratar Neymar], mas as informações que nos chegavam não eram certas. Disseram-nos que queriam sair do PSG e que não continuaria, mas depois aceitou finalmente a proposta de renovação. Não fiquei dececionado, a lei da oferta e da procura é mesmo assim. A sua contratação teria sido boa para o clube, teria gerado rendimento, mas não solucionaria o que estamos a sofrer agora”.

Por falar em “sofrer”, os últimos resultados do Barcelona não foram bons, longe disso, com derrotas fora ante o Benfica, para a Liga dos Campeões, por 3-0, e no Wanda Metropolitano, frente ao Atlético Madrid, por 2-0. Sem vencer ainda na Champions, o clube segue no 9.º lugar da liga espanhol e, tal como os avançados vivem de golos, por exemplo, os treinadores vivem de bons resultados, algo que Ronald Koeman não tem conseguido. Já trocou galhardetes com o presidente Laporta nos media e, claro, em privado, mas parece que as notícias da sua saída são exageradas, pelo menos para já. “Todos os culés, incluindo o próprio Koeman, estavam desanimados com a situação da equipa. O presidente tem de analisar e encontrar soluções. E eu, depois de ouvir as minhas pessoas de confiança, cheguei à conclusão de que teria de atuar como fiz com Rijkaard. Koeman merece confiança. Em primeiro lugar, porque é um culé que adora o Barça. Nota-se ao falar com ele. Depois, é importante lembrar que é um mito do barcelonismo. Além disto, veio numa situação de crise desportiva e institucional. Precisava de saber se ele confiava nesta equipa. Perguntei-lhe e ele disse-me ‘sim, mas preciso recuperar os lesionados'”. Vi um homem que queria continuar sim ou sim”, disse Laporta sobre a conversa com o seu treinador antes do encontro frente ao Atlético Madrid.

Outras das grandes questões da pré-temporada do Barcelona foram os novos contratos dos capitães de equipa, renegociando vínculos, baixando ordenados e fazendo de tudo para acomodar (já que não foi suficiente para Messi) reforços como Depay ou Agüero. Busquets, Piqué e Jordi Alba deram o corpo às balas nesta situação e, sobre Sergi Roberto, Laporta disse que faltam apenas “detalhes”, mas que o jogador já “baixou o salário”. E se de um lado existe a experiência, poucos duvidam que o futuro do Barcelona está, como tem estado nos últimos 20 anos, pelo menos, em La Masia, na cantera, nos miúdos que agora chegam à primeira equipa.

E se Pedri e Ansu Fati já têm muita rodagem de primeira equipa, Pablo Gavi, outro jovem, com 17 anos, que se estreou na última quinta-feira pela seleção espanhola frente à Itália, está a ter este ano a sua oportunidade. E a aproveitá-la. Os três jovens estão entre os muitos jogadores formados no Barcelona às ordens de Koeman e, segundo Laporta, as suas renovações estão “encaminhadas”. “Estamos no processo de renovar com os jovens. Na semana que vem podemos ter boas notícias. A continuidade de Pedri está muito avançada e oxalá a possamos anunciar na semana que vem. A de Ansu Fati também vai bem. Estamos muito contentes com Gavi e o presidente da Federação Espanhola de Futebol ligou-me ontem [quinta-feira] a dar os parabéns”, frisou.

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A RAC1, além de ter entrevistado o presidente do Barcelona, revelou ainda esta sexta-feira os detalhes contratuais, sem dizer de que jogadores (“habituais titulares”), e que vão ao encontro do que têm dito os responsáveis catalães e que podem, até certo ponto, explicar a situação económica e financeira em que o clube se encontra. Os vínculos, da altura de Josep Maria Bartomeu, principalmente com jogadores chave, incluem situações com onze milhões de euros de prémio mesmo jogando menos de metade dos jogos da época, ou prémios chorudos caso fosse ultrapassada a fase de grupo da Champions, algo que pode parecer normal, mas são 200 mil euros garantidos para cada jogador de um clube como o Barcelona, que costuma claro passar pelo menos essa fase da Liga dos Campeões.

É explicado que alguns jogadores do plantel catalão ganhavam tanto em salário como em bónus, alguns de fácil cumprimento. Em um dos contratos revelados o jogador em questão receberia 6,7 milhões de euros se ficasse no clube para 2020/2021, 2,8 milhões na época seguinte e 5,6 milhões depois. Isto, além de 13,5 milhões de euros por temporada.

A RAC1 diz ainda que os tais prémios chegavam a ser entregues, a dada altura do contrato, se o jogador disputasse apenas 35% dos encontros.

O Barcelona é patrocinado pela Nike desde 1998 mas há três anos que não tem contrato válido com a marca